06 janeiro 2011

OS PRIMÓRDIOS DA REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA

Clive Limpkin (acima) é um repórter fotográfico britânico que se tornou famoso com o livro que publicou em 1973 com fotografias que havia tirado durante o conflito da Irlanda do Norte. Menos conhecidas, mas muito mais interessantes para nós, são as fotografias que ele tirou em Angola logo nos inícios de 1976, um escasso par de meses após a data da independência.
Assim como a narrativa do livro Mais um Dia de Vida (acima) do jornalista polaco Ryszard Kapuscinski descreve o caos em que mergulhara Angola no último semestre de 1975, perante o vácuo da saída maciça dos portugueses, as fotografias de Clive Limpkin mostram agora alguns aspectos precários da consolidação do poder da jovem República Popular de Angola.
Tratava-se de um estado que nascia necessariamente militarizado por causa das duas ameaças externas à sua existência (a zairense e a sul-africana) e onde, por causa disso, se faria sentir uma omnipresença dos membros das FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), o que se veio a reflectir, obviamente, nos temas seleccionados por Limpkin.
Era um ambiente militar tão dominante¹ que ele se fazia reflectir também nas brincadeiras das crianças, uma vezes de uma forma mais inocente (como acima), outras nem tanto, já que, se se tratasse de fotografias tiradas na actualidade, o exemplo abaixo das crianças fumadoras de AK-47 na mão seria fortemente condenado por se tratar de crianças-soldado
Mas, ainda a respeito de crianças armadas, guardei a fotografia que considero mais icónica do conjunto para o fim, onde um repórter trajando umas calças à boca-de-sino como já nem nos lembramos que possam ter existido, entrevista com uma seriedade insuspeita uma outra criança combatente, armada com uma espingarda de pressão de ar, daquelas de caçar pássaros…
¹... que há quem defenda que esse ambiente militar marcou de forma indelével Angola até à actualidade.

2 comentários:

  1. Falar de Angola nem vale a pena....
    Pela mesma altura em que estas fotografias foram tiradas, eu via por cá, na antiga metrópole, o Império "encaixotado" de Santa Apolónia até à Torre de Belém, passando pela Rocha Conde de Óbidos, situação que me marcou e continua a marcar indelevelmente - pela negativa - até hoje.

    Amenizando, em relação à última fotografia: pensar que também tive uns quantos pares de calças como aquele que o repórter traja...

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  2. Falar de Angola vale sempre a pena. E especificamente daquele período histórico cada vez mais, porque a própia História ensina que traumas e tabus e cenários de História virtual, do como podia ter sido, acabam por desaparecer com quem os criou.

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