25 janeiro 2011

O QUE RIDICULARIZA UMA DEMOCRACIA

Em 28 de Fevereiro de 1986, quando regressava a casa vindo do cinema acompanhado de sua mulher, o Primeiro-Ministro sueco Olof Palme foi alvo de um atentado em plena rua por alguém que o alvejou a tiro. Palme só chegou ao hospital 45 minutos depois, onde já entrou cadáver. As investigações policiais que se sucederam, apesar das 300 pessoas envolvidas e dos dois anos de duração, também acabaram mal, sem que fosse encontrado qualquer suspeito viável. A questão do autor do assassinato do seu Primeiro-Ministro continua ainda hoje por resolver e permanece um embaraço da História da Suécia. Mas, 25 anos depois, o episódio tornou-se necessariamente algo acessório para a vida quotidiana da Suécia.
Este episódio passou-se numa daquelas democracias que costumamos apontar como de referência, e é nela que penso quando leio todos aqueles que parecem incomodar-se com o pretenso ridículo do interessante resultado eleitoral (4,5%) do candidato José Manuel Coelho¹ nas eleições presidenciais de anteontem. Esquecer-se-ão os incomodados que, também nessas democracias de referência e quando o eleitorado considera que as eleições não têm importância, também aparecem dessas candidaturas marginais a recolher resultados interessantes como foi o caso do Partido Pirata que recebeu 7,1% da votação (e elegeu um eurodeputado) nas últimas eleições europeias de Junho de 2009.
O que decididamente ridiculariza a democracia portuguesa quando em comparação com aquelas democracias de referência, comparando abordagens distintas ao assunto inicial do assassinato por resolver de um Primeiro-Ministro em exercício, é assistir-se a protagonistas e partidos nucleares do regime, como é o caso de Paulo Portas e do CDS, a proporem, 30 anos passados sobre os acontecimentos, a constituição de mais uma (a nona!!!) Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o acidente de Camarate… Esta, como outras atitudes de outros protagonistas centrais que se pretendem passar por sérios, é que se tornam ridículas. Não quem as denuncia, como o fez nesta campanha José Manuel Coelho.
¹ Nas suas declarações da noite eleitoral, não ouvi José Manuel Coelho agradecer-lhe mas Judite Sousa merecia-lhe um agradecimento especial pela forma como o (des)tratou na entrevista concedida à RTP. O povo sempre adorou enredos com vítimas (ele) e megeras (ela)…

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