Já aqui tive oportunidade de me referir neste
blogue à
Depuração (
L´Épuration em francês) que em França se seguiu à sua libertação da ocupação alemã durante o segundo semestre de 1944. Mas a minha referência de então, intitulada
A Verdadeira Puta era uma referência genérica e irónica à volubilidade das
massas populares, sempre dispostas a manifestarem-se pelo vencedor do momento. Neste
poste dedico-me mais à análise de algumas fotografias das vítimas (ou não…) desse processo que teve tanto de caótico quanto de arbitrário.

Comecemos por uma fotografia de
Henri Cartier-Bresson que apanha o momento em que uma informadora dos alemães é denunciada perante a assistência de um desses tribunais
ad-hoc que devem ter pululado pela França libertada naquela altura. Ter-se sido colaborador dos alemães (coloquialmente:
collabo) tornara-se um estigma. Atente-se ao cuidado em ser inexpressivo por parte do
Juiz que preside ao julgamento, contrastando com os ares triunfais da acusadora, de raiva e animosidade da assistência e, sobretudo, de resignação da acusada...

Nesta outra fotografia, também nos apercebemos de uma resignação apática na expressão da rapariga a quem cortam o cabelo, uma
colaboradora acusada provavelmente daquilo que então se baptizou por
colaboração na horizontal... O que parece marcar mais o conjunto á aquilo pode passar por um gesto
atencioso do
carrasco do lado direito (um
FFI ou um
FTP), que parece segurar
delicadamente o queixo dela enquanto o
barbeiro prossegue indiferente e metódico a sua tarefa de lhe rapar integralmente a cabeça…

Mas, como em tudo na vida, estas foram sanções reservadas para os comuns. As pessoas bem
colocadas na vida, como a estilista
Coco Chanel (acima, numa pose em que parece troçar das duas desgraçadas acima), cuja ligação sentimental
a um oficial alemão era bem conhecida, foram poupadas a tais vexames, mesmo quando sujeitas a um
Comité de Depuração. Porém, quem a protegeu (fala-se de Churchill...) também lhe recomendou que se fizesse
esquecida, o que ela cumpriu passando os dez anos seguintes (1944-54) exilada na Suíça...
Coitada da Chanel, 10 anos exilada...
ResponderEliminarSe fosse por cá, 10 dias e já eram 5 a mais.
Tudo se esquece muito depressa, como está demonstrado.