07 dezembro 2022

AS DEZASSEIS HORAS DA CARREGADA AGENDA DE UM PRIMEIRO-MINISTRO

Ontem, logo depois da vitória da selecção portuguesa no campeonato Mundial do Qatar, tivemos direito à aparição televisiva de expressão prazenteira do primeiro-ministro, António Costa, associando-se de imediato ao sucesso e à goleada. Por esta vez, deixemo-nos de especulações cínicas sobre qual teria sido a conduta - e a cobertura noticiosa - se o resultado do jogo tivesse sido diferente. Só os amigos é que são para todas as ocasiões, os primeiros-ministros não são. Enquanto o ouvia, uma pergunta que se me ocorreu - mais uma que nenhum jornalista se lembrou de desenvolver para artigo de interesse - foi o de saber quanto tempo duram os voos entre Lisboa e Doha, a capital do Qatar. Felizmente vivemos em tempos em que as respostas para estas questões estão à distância de alguns cliques! E a resposta é: 7 horas! E aí, por momentos, condoí-me de António Costa, que tinha ainda 7 horas de voo pela frente no regresso a Portugal. Até me lembrar que fora uma opção dele e que, como diz o ditado popular: «quem corre por gosto, não cansa».
Mas, sendo um problema do António Costa também é um problema do primeiro-ministro português e é nessa perspectiva que o assunto me interessa. Deixem-me descartar à partida a questão dos custos das viagens, tão apreciada pelo populismo. Não é nada disso que eu quero questionar neste caso. A questão é que, feitas as contas, uma destas viagens ao Qatar para ver um jogo da selecção de futebol demora (7 + 2 de jogo + 7) pelos menos umas 16 horas de uma agenda que sabemos sempre carregada de um primeiro-ministro. E do presidente Marcelo, que nem deve dormir no avião. E também da Ana Catarina Mendes, que consegue dizer platitudes em todas as latitudes. 16 horas é muito cansativo. Tanto que António Costa já se fez representar anteriormente num destes jogos por estar doente. E cancelar uma visita torna-se compreensível caso as circunstâncias o imponham, como aconteceu ainda há cinco meses, quando o primeiro-ministro cancelou a sua visita a Moçambique devido «a risco de incêndios». Ontem, porém. estava bem de saúde e nada parecia obstar a que fosse ao Qatar.
Só havia mesmo aquela situação um pouco incómoda nas urgências hospitalares, que alguma comunicação social classificava (acima), alarmisticamente..., de caótica. Aparentemente, e tomando por referência a sua atitude de Julho passado, António Costa apreciará acompanhar os bombeiros na sua tarefa nobre de apagar incêndios, mas aprecia-os menos, agora em Dezembro, nestas outras suas outras tarefas de condutores de auto-macas, à espera às portas das urgências dos hospitais. Desta vez, a situação e os atrasos não terão justificado qualquer cancelamento da sua parte. Eu concordo com esta última atitude, já que António Costa não faz lá nenhuma falta em qualquer das funções, o que fica por explicar é (mais est)a falta de coerência do primeiro-ministro. Por curiosidade e coincidência, e de acordo com uma notícia já de hoje, 16 horas estará a ser o tempo de espera de atendimento no hospital de Loures. No entretanto, «Portugal venceu a Suíça por 6-1» e as redes sociais estão ao rubro por António Costa ter deixado escrito algures que «É mais fácil formar governo do que escolher o onze (com a qualidade do plantel que nós temos)».

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