28 setembro 2019

O PARTIDO DO TÁXI E A SOLUÇÃO DA MOTA COM MÚLTIPLOS «SIDECARS»


No espectro político português não haverá partido que demonstre maior preocupação com meios de transporte - especialmente de reduzida capacidade... - do que o CDS. Esta trotinete que acima aparece associada a Nuno Melo, como seu hipotético meio de transporte para o parlamento europeu em consequência dos resultados alcançados pelo partido nas eleições europeias de Junho passado, é um longínquo descendente dos tempos difíceis que o CDS viveu sob o cavaquismo (1987-95), quando a sua representação parlamentar desceu para mínimos (4 deputados em 250 em 1987; 5 em 230 em 1991) prenunciadores do colapso completo do partido nas eleições seguintes. Esse ciclo negativo só foi ultrapassado quando o CDS se apresentou a votos metamorfoseado num outro partido distinto, o PP ((Partido Popular), que conseguiu eleger 15 deputados em 230 nas eleições de 1995.

Aliás, não deixa de ser irónico a forma (com verdadeiros laivos revisionistas orwellianos) como no CDS se pretende contar o que foram esses tempos históricos. O nome que imediatamente aparece associado aos tempos difíceis é Diogo Freitas do Amaral, fundador do partido e que entretanto tornara a dirigi-lo. Mas Freitas do Amaral foi apenas o responsável pelos resultados do CDS em 1991, em que o partido até aumentou, ainda que muito marginalmente, a sua representação parlamentar de 4 para 5 deputados. Do nome de Manuel Monteiro, que triplicou essa representação (de 5 para 15) nas eleições de 1995, não se houve praticamente falar. Nem de Monteiro, nem da sigla PP, que continua pegada à documentação oficial (e só à oficial...) do CDS. Mas o paradigma da ausência da narrativa histórica é a figura de Adriano Moreira, que toda a gente parece ter esquecido que dirigia o partido em 1987 quando ele inicialmente colapsou. O ano passado o CDS deu-lhe uma grande ovação em congresso sem que tivesse aparecido um amigo da onça a recordar um facto que, sendo chato, por acaso é verdade: que, em 45 anos de história, foi Adriano Moreira quem conduziu o CDS até ao nadir da sua representatividade eleitoral. Adriano Moreira é uma daquelas pessoas misteriosas por onde as responsabilidades políticas e históricas escorrem como se fossem gotas de chuva de uma gabardine bem impermeabilizada...

Para todos os efeitos, o feito de Adriano Moreira, ao alcançar uma representação parlamentar mínima de 4 deputados nas eleições de Julho de 1987, arrastou consigo, como graçola irónica, a adopção da expressão o partido do táxi, intróito para que de há 32 anos para cá, os resultados do CDS em eleições legislativas sejam regularmente confrontados com as capacidades de meios de transporte dos seus eleitos; a analogia é agora adoptada recorrentemente pelos próprios dirigentes do CDS. Mas, por o ser, e porque as sondagens até agora não se mostrarem particularmente entusiasmantes para a organização política dirigida por Assunção Cristas, é que me lembrei desta prancha de BD de Taka Takata em que o herói, depois de comprar uma mota para passear com a prometida, se vê confrontado com a exigência desta de passear, mas apenas acompanhada, e das exigências dos acompanhantes em trazer, também eles, companhia. Apesar do aspecto ridículo (veja-se o último quadro), trata-se de uma opção modular, que Assunção Cristas poderá adoptar às circunstâncias: de partido do táxi, passa-se para o partido da mota (a associação a Mota Soares é apenas uma coincidência...) com os sidecars que forem precisos...
ADENDA: Cinco lugarinhos! Foi mesmo à conta.

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