Esta prancha consegue exibir uma simultaneidade (ou quase) de acontecimentos como outras formas de expressão artistica - nomeadamente os filmes - não o conseguem fazer.
31 dezembro 2019
VINTE ANOS DE VLADIMIR PUTIN
31 de Dezembro de 1999. Boris Yeltsin renuncia à presidência russa e o primeiro-ministro Vladimir Putin assume-a interinamente. Acima vemo-lo a discursar nesse mesmo dia 31, ainda nessa qualidade de presidente interino. Vai ser uma interinidade que, descartando os aspectos formais, como quando trocou de posto com Medvedev entre 2008 e 2012, se irá prolongar pelos vinte anos seguintes, até a actualidade. Com a chegada de Putin ao poder, fundiu-se (na neve...) aquela ilusão ingénua, predominantemente americana, de que todos na Europa podíamos ser amigos uns dos outros, se nos comportássemos como os americanos desejavam. São vinte anos de Vladimir Putin no poder e a história dos seus feitos parece muito longe de estar acabada...
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30 dezembro 2019
«ABRAÇANDO A DERROTA»
Um dos processos defensivamente seguros que eu usei até hoje para seleccionar as minhas leituras era o de escolher títulos que houvessem sido galardoados por alguns dos conceituados prémios de literatura. Aqueles selos que normalmente acompanham o livro depois da atribuição do prémio (veja-se acima, para o Prémio Pulitzer), haviam-se tornado, pela experiência e mesmo que o assunto em causa não fosse, para mim, dos mais atractivos (como foi o caso de Emperor of All Maladies: A Biography of Cancer - Prémio Pulitzer de 2011 e já, felizmente, traduzido para português), o critério dos livros premiados, escrevia, tornara-se um método seguro de seleccionar leituras. Mesmo que o tópico se revelasse chato, o livro estava certamente muito bem escrito. Ora este Embracing Defeat: Japan in the Wake of World War II, que seleccionei para autoprenda de Natal deste anos, veio a revelar-se na demonstração que o critério terá as suas falhas. Entendamo-nos: o assunto em causa, a atitude dos japoneses nos anos que se seguiram imediatamente à sua derrota na Segunda Guerra Mundial é um assunto para mim muito interessante, sobre o qual pouco sei e, tanto quanto sei, pouco se sabe, tanto agora como na altura em que o livro foi publicado (recebeu o Prémio Pulitzer - entre vários outros galardões - em 2000). O livro tem conteúdo e por isso ensina o leitor e é naturalmente muito mais substanciado e desenvolvido do que qualquer página de wikipedia a respeito do assunto. Só que é insuportavelmente maçudo; é uma colecção encadeada de ensaios académicos. Não está em causa a competência científica do autor John W. Doner, apenas a sua vocação para transmitir os seus conhecimentos de forma atractiva. Abonará em favor do meu empenho ter lido este seu livro até um pouco mais de metade (p. 290) antes de o transferir para a galeria dos livros «a ler ulteriormente» (i.e., o mais provavelmente nunca). Não me vou alargar em comentários a um livro que quase ninguém quereria ler, ainda para mais depois de eu dizer mal dele, mas, tal o contraste com as experiências prévias, confesso a minha estranheza a respeito de qual terá sido a composição do júri Pulitzer naquele ano de 2000.
29 dezembro 2019
(UM CERTO ESTILO DE EXIBIR) O GOSTO PELO CINEMA
Muito se criticam as redes sociais, mas vem a propósito recordar esta efeméride de há precisamente 30 anos, no suplemento A Mosca, do Diário de Lisboa, uma crónica arrasadora para com as críticas e os críticos de cinema, especialmente os que escreviam no semanário Expresso. Ao longo da quase dúzia e meia de anos que o jornal então contava, havia-se desenvolvido um ecosistema fechado entre os que ali escreviam sobre cinema, que se tornara numa paródia do intelectualismo pedante, tal era o estilo adoptado. O autor da crónica de A Mosca era Jorge Silva Melo e a sua vítima João Lopes (acima), um dos tais três ou quatro críticos de cinema que se haviam notabilizado naquela década (a dos anos 80) por escreverem apreciações sobre os filmes que, para além do rebuscamento, pura e simplesmente não se percebiam. O comentário mais benigno consistia em aventar a hipótese que os críticos escreviam para serem lidos uns pelos outros; pelo contrário, o mais ferino - e essa deveria ser a opinião de Jorge Silva Melo, tendo em consideração a sua crónica - que nem isso seria verdade: os próprios autores teriam dificuldade em explicar ulteriormente o que eles mesmos haviam escrito. Para o comprovar, Jorge Silva Melo recuperava passagens de prosa que haviam sido escritas por João Lopes em algumas das suas críticas de cinema mais recentes. Mesmo 30 anos transcorridos, creio que elas ainda falarão por si:
«Não apenas o retrato de um corpo na sua inadequação às normas do equilíbrio social mas sobretudo uma arqueologia desse mesmo corpo em desequilíbrio nunca resolvido face ao desejo que o habita».
«A fractura do espaço que aqui se encerra magistralmente tem o seu complemento de profundidade nas vozes que, cantando, reactualizam a memória e lhe dão locomoção física».
«Não há em Terence Davies uma realidade anterior à reprodução, ela nasce de um contrato difícil entre o que se constrói a cada momento e o que é destruído na reelaboração do instante.»
«O debate das ideias e a saúde da reflexão sobre o cinema português devem vir para a praça pública sem o recurso a este tipo de processos que, no fundo, não servem o que mais importa». (Esta última citação é já de um dos colegas de João Lopes, colega esse que Jorge Silva Melo infelizmente não nomeia).
Não quero ir ao ponto de exagerar, considerando que a crónica de Jorge Silva Melo tenha sido um marco na desagregação da reputação cinéfila dos críticos do Expresso. Essa, por critérios funcionais, já estava nas ruas da amargura, comprovada pelas anedotas. Mas, porque ninguém aparecia a escrever que, neste aspecto, o rei seguia ridiculamente nu, lembro-me do quão foi reconfortante vê-lo consagrado num mesmo suporte - um jornal - em que apareciam impressas as dissertações ininteligíveis a propósito de filmes que constavam das páginas das críticas de cinema do Expresso. Ora, e para voltarmos ao início do que aqui escrevi, nada me demove da ideia que, houvesse redes sociais naquela época e João Lopes (JL), assim como todas as outras iniciais que o acompanhavam nos devaneios (MCF, AMS, JLR, EPC, MSF) e a degeneração desta escola de crítica cinéfila teria sido feroz e felizmente coarctada mais cedo. Embora seja do senso comum reconhecer que ninguém compra ou deixa de comprar um jornal por causa do que aparece escrito na página da crítica de cinema...
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O RAPTO DE MURIEL MCKAY - UMA HISTÓRIA VERDADEIRA COMO SE FOSSE UM FILME DOS IRMÃOS COHEN
Fargo é um filme de 1996, realizado pelos irmãos Cohen. Costuma ser descrito como um policial de humor negro, a amoralidade e crueldade dos protagonistas maus só compete com a sua estupidez. O núcleo da história centra-se num rapto que seria para ser semi-encenado mas em que tudo nele acaba por correr mal. É célebre uma das cenas já no fim do filme em que um dos raptores tenta desfazer-se do corpo do seu cúmplice (que entretanto matara) e é apanhado pela polícia em flagrante a alimentar com uma das pernas (meia calçada e tudo!) um triturador de madeira...
Mas, mesmo na vida real, os raptores podem ser muito estúpidos e isso torna os raptos absurdamente anacrónicos. Em finais de 1969, houve um par de imigrantes trinidadianos no Reino Unido (os irmãos Arthur e Nizamodeen Hosein) que, depois de terem assistido a uma entrevista do magnata australiano Rupert Murdoch na televisão, se decidiram a montar um plano envolvendo o rapto da sua esposa, Anna. Para o concretizar, seguiram o seu Rolls Royce desde a sede da organização em Londres até à que previam ser a habitação do magnata, para conhecer os hábitos da família...
Só que, porque o casal Murdoch estava então na Austrália, nessa altura a viatura estava ao serviço do adjunto de Murdoch, Alick McKay e foi essa residência, situada em Wimbledon, que os dois irmãos assaltaram em 29 de Dezembro de 1969, levando consigo a dona de casa, Muriel McKay. Atente-se que, Anna Murdoch, a visada pelos raptores, tinha então 25 anos (como se pode apreciar pela foto acima), enquanto que Muriel McKay tinha então 55 (abaixo). Só se pode especular o que terá passado pelas cabeças da dupla dos raptores para terem confundido uma com a outra...
A princípio, como se percebe pela notícia inicial ou por este cartaz acima, houve confusão com o que acontecera. Muriel McKay não justificava o montante do resgate: um milhão de libras! A raptada fora um verdadeiro erro de casting. Mesmo assim, os raptores prosseguiram a sua operação e os familiares de Muriel McKay prosseguiram as negociações para recuperar a familiar. Uma das entregas acabou por fracassar e foi só à segunda, em princípios de Fevereiro de 1970, que a polícia conseguiu colectar elementos que os levaram à identificação e posterior captura dos irmãos Hosein.
Irrecuperavelmente estúpidos, mas maldosos como as personagens de Fargo, quando capturados já há muito se haviam desembaraçado de Muriel McKay e do seu cadáver, que nunca foi encontrado. Num remate adicional consentâneo com o filme, acredita-se que tenha sido dado como alimento aos porcos da quinta que ambos possuíam no condado de Hertforshire. Mas, mesmo sem o cadáver, a acumulação de outras provas era tal que a dupla acabou condenada a prisão perpétua. Segundo consta, acabaram sendo libertados e expulsos para a Trinidad natal ao fim de 20 anos.
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O DOMÍNIO DOS DEUSES (XIII)
Olhando para a penúltima imagem, imaginem por um momento que o mesmo - a cedência do empregador perante todas as reivindicações - acontecia numa mesa de negociações com Mário Nogueira ou com Ana Avoila... Seria o fim da importância de qualquer dos dois...
A INAUGURAÇÃO DO METROPOLITANO DE LISBOA
29 de Dezembro de 1959. Inauguração do Metropolitano de Lisboa. Hoje designaríamos por tutorial o filme acima protagonizado por Artur Agostinho, uma figura popular dessa época, que presta todas as explicações de como se deve utilizar o novo meio de transporte. Confronte-se essa modernidade prática do filme de promoção com as imagens da reportagem da RTP da cerimónia oficial daquela inauguração e a atenção que nelas é dada à participação do cardeal patriarca, nomeadamente a bênção das instalações.
28 dezembro 2019
PROMOÇÃO IKEA - BONECO DE NEVE PARA MONTAR EM SUA CASA
A água é de origem sueca certificada. A cenoura é uma incorporação nacional para acrescentar valor ao produto. O balde é chinês. E o cliente é estúpido, independentemente da nacionalidade.
O DOMÍNIO DOS DEUSES (XII)
Embora numa outra perspectiva que não a do #MeToo, este casal também está a ser violentamente assediado. Mas é por uma boa causa.
27 dezembro 2019
O DOMÍNIO DOS DEUSES (XI)
O comportamento de Ordralfabetix é um exemplo académico daquilo que os economistas designam eufemistica e impessoalmente por "pressões inflacionistas". Os comuns chamar-lhe-ão ganância. E os liberais, economistas e outros, qualificá-la-ão de virtuosa.
26 dezembro 2019
O DOMÍNIO DOS DEUSES (X)
Guilus é a caricatura de um popular apresentador da televisão francesa de então, Guy Lux (1919-2003), em que Uderzo captou particularmente bem o seu sorriso profissional, porém desprovido de qualquer emoção.
«O CLIMA DO MUNDO MODIFICA-SE NUM SENTIDO MAIS BENIGNO»
É irresistível publicar esta notícia com precisamente 70 anos, uma tradução de outra que fora publicada originalmente no britânico Sunday Express, onde se fazia eco das opiniões de dois «peritos de climatologia» daquele país, C.E.G. Brookes (por sinal deve ser C.E.P Brooks 1888-1957) e George(s) Clarke Simpson (1878-1965), quanto àquilo que hoje designamos por aquecimento global. Aqui, esse aquecimento é-nos apresentado como uma oportunidade benigna em vez de uma ameaça catastrófica, mas vale a pena ler o que então se escrevia. Para ajudar a perceber que a ciência e a utilização que se pretende dar à ciência podem ser fenómenos assumidamente distintos e, garantidamente, fenómenos mediáticos como a Greta Thunberg não são ciência.
25 dezembro 2019
A EXECUÇÃO DE NICOLAE CEAUSESCU
Começo por registar o zelo como, menos de um dia depois da sua publicação, o vídeo inserido foi «removido por violar os termos de utilização do You Tube». Não pelo gesto, que as imagens de um julgamento sumário seguido de uma execução não são bonitas de se ver e nada se perde pela sua remoção. Mas pela celeridade como se procedeu à remoção, sintoma como o patrulhamento parece eficaz, embora o critério para o fazer me deixe perplexo. Alguém detém a propriedade das imagens de como o casal Ceausescu foi morto e, pelos vistos, zela por a exercer. Na prática, e como a minha intenção era apenas ilustrar a brutalidade escusada (e obscura nos seus propósitos) para com o ditador romeno, o vídeo violador poderia ter sido substituído por um qualquer fotograma da cena, já que o essencial da mensagem, a minha repulsa, está contido nas palavras que escrevo e não naquilo que escolhi para complementar tal opinião. Mas preferi deixá-la assim, com os traços da remoção bem à vista, já que realça o aspecto sórdido de que tudo o que foi evocado se revestiu.
25 de Dezembro de 1989. Aquele que fora até aí o dirigente comunista supremo da Roménia, Nicolae Ceaușescu, é executado imediatamente depois de um julgamento sumaríssimo que o condenou à pena capital. Como episódio final de um colapso encadeado, mas até aí pacífico, dos vários regimes comunistas da Europa de Leste, este desfecho surpreendentemente sangrento acabava por levantar questões que o tempo nunca esclareceu cabalmente: porquê, mais do que a necessidade, esta nítida premência em eliminar o ditador o mais rapidamente possível? Duas explicações se especulavam para justificar essa premência: o novo regime assentava em bases frágeis e o antigo regime poderia contra-atacar ou, então, as eventuais cumplicidades dos membros mais proeminentes do novo regime com o antigo, cumplicidade essas que poderiam ser expostas por Ceausescu se ele continuasse vivo. De toda a forma, Ceausescu não merecia tal sorte, naquelas circunstâncias. Até poderia ter sido condenado à morte, mas em consequência de um julgamento público que enfatizasse o que fizera para merecer tal pena. Se todos os novos regimes pós-comunistas da Europa de Leste foram acolhidos com simpatia a Ocidente, o da Roménia nunca se livrou da desconfiança deste enorme pecado original da execução nunca cabalmente explicada do ditador comunista.
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OS LENÇÓIS DE HEMROULLE - UMA ESPÉCIE DE CONTO DE NATAL
Hoje, e porque é uma manhã de Natal que nos transporta até à infância, vamos deixar que a História que aqui publico seja contada em Banda Desenhada.
Para os mais curiosos, acrescentemos que o tenente-coronel John Hanlon comandava o 1º batalhão do 502º Regimento de Para-quedistas, pertencente à famosa 101ª Divisão Aerotransportada. Que o regedor da aldeia de Hemroulle se chamava Victor Gaspar (curioso nome, não é?). Que o combate contra os panzers alemães que aparece no final da terceira prancha se travou na própria manhã do dia de Natal de 1944 (daí a escolha da data para a evocação). Finalmente, e porque a história em BD não o especifica, que a devolução dos lençóis teve lugar em Fevereiro de 1948, três anos depois dos acontecimentos.
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24 dezembro 2019
O «DESAPARECIMENTO» DAS CINCO VEDETAS CONSTRUÍDAS EM FRANÇA PARA A MARINHA ISRAELITA
24 de Dezembro de 1969. Do porto francês de Cherburgo «desapareceram» subitamente cinco vedetas, as últimas de doze que ali haviam sido construídas numa encomenda que havia sido feita por Israel em 1965 ao estaleiro CMN. Desde essa altura, ocorrera a Guerra dos Seis Dias em 1967 (com a vitória israelita) e as relações diplomáticas entre a França e Israel, outrora robustas no que se referia ao fornecimento de equipamento militar, haviam evoluído em sentido negativo. Tanto que, em 1968, o general de Gaulle ordenara o estabelecimento de um embargo ao fornecimento de material de guerra a Israel. Entre os fornecimentos suspensos, incluíam-se parte (cinco) destas vedetas de mísseis para a marinha de Israel, que foram entretanto concluídas num estaleiro naval de Cherburgo e que ficaram a aguardar destino (e o armamento) enquanto o imbróglio político se resolvia, conforme se pode apreciar nesta fotografia acima, de três delas, placidamente acostadas, numa foto tirada em Setembro de 1969. Nessa altura, os israelitas ainda esperariam que o novo presidente francês, George Pompidou, eleito em Junho de 1969, alterasse a disposição da França em relação aos fornecimentos militares a Israel, mas isso não veio a acontecer.
Foi assim que, na noite da consoada de há cinquenta anos, os israelitas realizaram uma das suas típicas operações clandestinas, em que as suas tripulações de manutenção presentes em Cherburgo e sob um pretexto falso, roubassem as cinco vedetas, aproveitando a descontracção nas condições de segurança no porto propiciada por se estar na quadra do Natal. Só dois dias depois a notícia se tornou notícia, como se confirma por esta referência publicada no Diário de Lisboa a 27 de Dezembro. Por essa altura, as vedetas foragidas já estavam a navegar em pleno Mediterrâneo, como se percebe pelo mapa em hebraico abaixo. Elas só chegarão a Israel a 31 de Dezembro, com a assistência de alguns navios que os israelitas haviam disposto previamente ao longo da rota de fuga. Com o episódio, os israelitas marcaram pontos, os franceses perderam-nos. Todos? Não. Alguns franceses ganharam com isso, nomeadamente o estaleiro naval que recebeu finalmente o pagamento integral da encomenda. Mais do que isso, e por causa da publicidade do episódio - afinal as lanchas seriam tão boas que os israelitas se dispuseram a roubá-las! - que o estaleiro veio a receber encomendas daquele mesmo género de pequenos navios da Alemanha Federal, da Grécia, do Irão, da Líbia e da Malásia.
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23 dezembro 2019
O DOMÍNIO DOS DEUSES (VIII)
Recorde-se que esta história data de 1971, três anos depois dos acontecimentos de Maio de 68 em França, em que os representantes profissionais da classe operária foram apanhados completamente desprevenidos pelas reivindicações estudantis, e será significativo do quanto em pouca conta Goscinny e Uderzo terão esses sindicalistas profissionais no desenho que fazem acima, oito de uma vez, exuberantes no gesticular como clamam conta o seu interlocutor, um acabrunhado centurião Hirsutus (Oursenplus no original) que, sozinho, se vê obrigado a ocupar todo o seu lado da mesa. Como na vida real, há ali muito mais preocupação com os próprios egos (e agendas) do que com o desfecho das negociações: «...uma comissão (...) não exclui a hipótese de um acordo eventual que convenha às duas partes.»
A CONSOADA LISBOETA DO (FUTURO) COLABORACIONISTA FRANCÊS
O Diário de Lisboa de 23 de Dezembro de 1939 dava-nos conta, numa das suas páginas centrais, das deambulações do académico francês Abel Bonnard. Pela sua agenda, deduzia-se que o académico iria passar o Natal entre nós. Nada se esclarecia quanto a isso mas as razões talvez não fossem acidentais. Mais do que o seu posicionamento ideológico (durante esta visita ele terá sido recebido por Salazar), Bonnard era conhecido pelas suas simpatias francamente pró-alemãs, o que o tornariam mal-quisto na França em guerra. Se a sua conferência na Sociedade de Geografia era sobre «O Mediterrâneo e os barbarescos», o que o trouxera até nós passar a consoada haviam sido outras razões prementes, e do presente de então: a hostilidade no seu país natal. A partir da Primavera de 1940 e com a vitória dos alemães na Batalha de França e o regime de ocupação a que esta foi submetida, Abel Bonnard iria desforrar-se: iria passar os quatro Natais seguintes em França e mesmo na qualidade de ministro da Educação do governo de Vichy desde 1942. Mas tudo isso acabará em poucos anos: Bonnard passará os anos (e os Natais) restantes no exílio, primeiro na Alemanha até 1945 e depois na Espanha, até à sua morte em 1968 com 84 anos, um dos mais dedicados colaboracionistas franceses.
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22 dezembro 2019
COMO SE CHAMA AQUELE QUE TRAZ OS BRINQUEDOS ÀS CRIANÇAS?
Este mapa faz uma resenha comparativa do nome que se dá nos vários países da Europa àquele que traz os brinquedos às crianças no dia de Natal. Há de tudo, inclusive a curiosidade de haver um nome para tal figura mesmo em países predominantemente muçulmanos, caso da Turquia. Para os adultos e em política, esta mesma lógica inocente de receber prendas sem quaisquer custos nem contrapartidas não é exclusiva do Natal, as prendas ou, pelo menos, o dinheiro para elas, não vêm do Pólo Norte mas sim de Bruxelas e, pelo menos cá em Portugal, o exercício tem o nome improvável de QREN (abaixo). Que, conforme costuma constar, é tradicionalmente sempre muito bem negociado pelo governo português que houver, assim como imaginativas costumam ser as cartas para o Pai Natal...
O DOMÍNIO DOS DEUSES (VII)
Isto foi escrito há quase quarenta anos, quando as relações laborais eram assumidas sem hipocrisia e os escravos eram escravos e não colaboradores em fase de estágio, sem direito a remuneração...
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