21 dezembro 2019

EISENHOWER EM MADRID

21 de Dezembro de 1959. No decurso de uma viagem a diversos países europeus, o presidente Dwight D. Eisenhower (1890-1969), realiza a primeira visita de um presidente norte americano a Espanha. Para o generalíssimo Franco e o seu regime, essa visita reveste-se de um carácter simbólico desproporcionado para as 24 horas de duração da estadia: representa o fim oficial de um ostracismo de vinte anos, que se iniciara com o fim da Guerra Civil em Espanha (1939) e com a cumplicidade do regime franquista com os países do Eixo (Alemanha e Itália) ao longo da Segunda Guerra Mundial. O fim desta deixou a Espanha como um país pária, de outras épocas e ideologias, desgarrado no sistema de alianças que se forjara na Europa, neutro pelas circunstâncias, e não por opção ou constrangimento geográfico como eram os casos da Suíça, da Suécia, da Áustria ou da Finlândia. Esta visita valida o fim de quase quinze anos daquele penoso isolamento diplomático da Espanha, que só era quebrado ocasionalmente pelos encontros entre Franco e Salazar.
As necessidades da Guerra Fria impunham que os Estados Unidos retirassem a Espanha do castigo a que a haviam votado. Na ocasião, como agradecimento e como congratulação, o exagero congénito dos espanhóis esteve à altura da festividade! Numa comunicação social totalmente controlada, o jornal Arriba! (o órgão oficial do Movimiento) conseguiu contar mais de um milhão de espanhóis a receber Eisenhower nas ruas de Madrid (que contava então com dois milhões de habitantes...), os jornais americanos, mais sóbrios, reduziam a multidão para menos de metade... Pelo seu lado, o conservador ABC (abaixo) gabava a importância da entrevista havida entre Eisenhower e Franco. Era uma típica espanholada, como o comprova um artigo de 2016 do jornal El Mundo: «Benvindo Mr. Eisenhower, o Protocolo das Banalidades». Na verdade, não havia nada de importante para discutir. E como relembra o autor do artigo, podia-se adicionar a cruel constatação que, fora o caso de Salazar acima mencionado, os últimos encontros pessoais de Franco com chefes de Estado e governo haviam sido com Mussolini e com Adolf Hitler em 1940...

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