28 março 2018

QUEM CONTA UM CONTO...

Subtilmente, as façanhas da Cambridge Analytica estão a evoluir, conforme se pode comprovar pelos títulos acima. Da intervenção nas presidenciais norte-americanas para o impacto que as suas acções terão tido no desfecho do referendo do Brexit, aquilo que originalmente era uma influência, passou a ser considerada uma influência decisiva e já se estica o argumento até considerar que essa influência decisiva foi mesmo batoteira. Quem conta um conto... dá uma volta ao texto. Convém não misturar os temas. As batotas nas eleições são processos antigos, implicavam, naqueles bons velhos tempos e, quando as fraudes eram feitas com qualidade, encher as urnas com boletins preenchidos em nome de eleitores abstencionistas, um boletim por cada nome descarregado no caderno eleitoral. E quando se ia proceder ao escrutínio, os resultados reportavam os resultados desejados. Foi assim que aqui há 60 anos, nas eleições presidenciais portuguesas, o candidato Américo Thomaz venceu esmagadoramente o seu rival Humberto Delgado. Isso sim, foi uma eleição que se sabe ter sido batoteira. Com a adopção mais recente do voto electrónico, a prática continua a ser possível, mas os métodos passaram a ser outros. Agora envolve a pirataria informática e muito se falou do assunto por ocasião das eleições presidenciais norte americanas: falou-se muito - mas não se chegou a conclusão alguma. Mas aquilo de que se está acima a referir, a propósito da intervenção de organizações como a Cambridge Analytica, é completamente diferente.
Os votos que foram depositados e escrutinados em qualquer das eleições em que a organização interveio foram votos limpos (pelo menos até agora não houve alegações que não o foram). O processo como ela obteve a informação que lhe permitiu formatar a opinião dos eleitores pode ser (é) irregular, mas a formatação em si, não o é. Foi de livre vontade que o eleitores influenciados decidiram se votariam e como votariam e o seu voto é tão legítimo quanto o de todos os restantes eleitores. A eleição em si foi legítima, não existiu batota alguma. O que o desfecho daquelas eleições nos deve trazer como lição é como os processos de decisão democrática são afinal frágeis, ao contrário daquilo que estávamos habituados a considerar, sobretudo quando se referia a sociedades desenvolvidas do Ocidente. A fragilidade que assim se expôs é mais um ensinamento e uma responsabilidade para aqueles que, numa perspectiva cívica, acreditam que as decisões colectivas podem e devem ser influenciadas pela eficácia do esclarecimento público. É a Democracia, estúpido! Acredito que, para outros que já davam esse trabalho por adquirido, estes desfechos possam ser tão mais irritante quando há actos eleitorais que os poderes fácticos considerariam meros pró-forma, como os factos posteriores vieram comprovar que aconteceu nestas duas eleições de 2016. Mas este género de reacções acima, como que amuadas e a querer reverter o que já está feito, fazem-me lembrar os jogos de futebol da infância e os caprichos de alguns putos que queriam ganhar o jogo a todo o custo, apenas porque eram o dono da bola...

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