17 junho 2016

AS MODAS INTELECTUAIS

Pretexto para indignar leitores e arranjar mais um pretexto para deixar as redes sociais ao rubro, Mein Kampf foi a obra mais vendida da Feira do Livro, a Editora Guerra & Paz já prometeu uma terceira edição. Mas não foi o facto da sua propriedade intelectual ter caído nos finais de 2015 no domínio público que fez com que o livro mudasse de características: tem tanto de célebre quanto de maçudo. Tirando alguns obcecados ideológicos e alguns devotados do mesmo clube do Pacheco Pereira, é um livro ilegível para quem o quiser fazer de uma forma lúdica. Utilidade, serve sobretudo para ir lá recuperar umas passagens demonstrativas de que Hitler, ao contrário de Estaline, não era hipócrita. Como acontece com os exemplares do Expresso ao Sábado, acredito que o livro tenha sido muito vendido, mas não será para o ler. Nesse aspecto e para aqueles mais veteranos e que ainda tenham memórias de há 41 anos recordo que, como os frutos mais apetecidos eram aqueles que haviam sido proibidos, estes dois volumes abaixo de O Capital também já iam na terceira edição em finais de 1974, e também duvido que alguém os tivesse lido antes de voltarem a ser postos à venda no OLX...

5 comentários:

  1. O "Mein Kampf", embora exija esforço e disciplina, é um livro que um leitor médio, comum, consegue superar numa leitura continuada, o seu autor - que, como o A. Teixeira bem salienta, não está com "rodriguinhos" - quase dialogando de viva voz com o leitor (a edição que possuo é a da editora "Pensamento", publicada em meados dos anos 80, reeditando um texto anterior da "Afrodite"). Ao invés, "O Capital" não é um livro para se ler, mas para se ir lendo devagar, devagarinho, exigindo um empenho e conhecimentos económicos ao leitor muito acima da média. Curiosamente, a edição que tenho é a supra retratada, adquirida em alfarrabista muitos anos depois dos idos de 1975,tudo indiciando que o seu anterior proprietário se limitou a apor nela uma assinatura de posse...

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  2. Sobre Mein Kampf, não é contestável a sua opinião, que um leitor médio o "consegue superar". O que me questiono é quantos, deste grande universo de compradores que o levou para casa por ocasião da Feira do Livro, quantos se disporão à "superação" nestes tempos em que os textos são cada vez mais e mais "compactos"...

    Quanto a "O Capital" e se o terminou (tarefa que sempre me pareceu mais assumida que empreendida...), felicito-o pela perseverança, porque eu não o fiz. Lembro-me que, porventura por causa disso e para converter os convertidos, havia uma versão "crash course" de marxismo teórico intitulada "Os Conceitos Elementais (sic) do Materialismo Histórico" que também se vendia muito bem, mesmo com erros de gramática no título e tudo...

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  3. Não terminei "O Capital", muito longe disso...

    Quanto ao resto, penso que os convertidos se ficam (ou ficavam) pelo "Manifesto Comunista" e pelo "Que Fazer?" - o resto são, como bem diz, coisas para "Pachecos".

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  4. Não seria mais prudente que cada um falasse por si? Que sabe o A. Teixeira e o José Lima sobre quem leu o quê?

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  5. Não sei se já notou uma curiosidade de alguns guarda-roupas, José Lima: se por um lado a maioria das peças deixam de servir com a idade, os barretes podem continuar a enfiar-se cabeça abaixo, mesmo que já se tenham passado mais de 40 anos, e por muito exótico que possa ser a origem do barrete que se enfia, até mesmo uma daquelas ushankas soviéticas de pele parece continuar a servir perfeitamente em certas cabeças que não incham nem desincham, apenas não mudam...

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