18 março 2023

LEGENDAS DE FOTOS QUE DESCREDIBILIZAM O ARTIGO E A AUTORA

Vale a pena esmiuçar a legenda que o Público escolheu para a fotografia que ilustra este seu artigo acima sobre a desclassificação das actas do Conselho Superior de Defesa do tempo do Marcelismo. António de Spínola com as tropas na Guiné já depois de ter sido demitido de vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas por Marcello Caetano na sequência da publicação do livro Portugal e o Futuro. Há aqui tanto erro que é difícil saber por onde começar a crítica. Optei por o fazer pela ordem em que os disparates são mencionados. António de Spínola foi demitido do seu cargo de vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas em Março de 1974. O pretexto invocado para a sua demissão foi a sua falta de comparência a uma cerimónia em que todos os oficiais generais vieram manifestar junto de Marcello Caetano o seu apoio à política ultramarina prosseguida pelo presidente do Conselho. A cerimónia e os seus participantes ficaram ironicamente conhecidos pela «brigada do reumático». Mas o que importa reter é que medeia um escasso mês entre essa demissão e o 25 de Abril de 1974. Conceber que, nesse mês, o demitido general Spínola regressasse à Guiné (onde aliás havia um novo comandante-chefe...) para se envolver em operações, é um disparate indicativo que quem escreve esta legenda não faz a mínima ideia sobre o que está a falar. E depois há a fotografia, que é relativamente conhecida, data de Outubro de 1969 - ou seja quatro anos e meio antes da demissão do general Spínola! - e foi publicada numa das edições de Novembro da revista francesa Paris-Match. A jornalista que assinava a reportagem associada à foto é precisamente Geneviève Chauvel, cujo nome aparece referido em rodapé. Podemos perceber que a fotografia foi ali colocada apenas com o propósito de ilustrar a guerra colonial, cujas actas desclassificadas são o verdadeiro tema do artigo. Mas escrever tanta asneira ignorante numa legenda que precede a leitura do artigo propriamente dito, descredibiliza obrigatoriamente tudo aquilo que a jornalista - Helena Pereira - venha a escrever sobre o assunto.

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