13 julho 2022

OUTRA FILHA E OUTRO FUNERAL

13 de Julho de 1972. Com destaque de primeira página, o Diário de Lisboa noticiava que «a actriz Melina Mercouri» voltara «ontem à Grécia, com autorização especial das autoridades, para assistir aos funerais da sua mãe.» (...) «Foram-lhes concedidas exactamente 12 horas para permanecer em território grego e assistir às cerimónias fúnebres.» Na telefoto da UPI que acompanha a notícia, «ela aparece entre o irmão e o marido, o cineasta Jules Dassin, exprimindo pateticamente a sua dor, como qualquer das heroínas populares dos filmes que interpretou.» É uma coincidência evocar este episódio antigo de cinquenta anos, quando as questões da segurança jurídica das filhas de José Eduardo dos Santos em Angola também estão em aberto, por ocasião da eventual realização do funeral do antigo presidente angolano no seu país natal. Mas, descontando os aspectos mais essenciais, a analogia não é assim tão extensa quanto isso. A figura principal do episódio grego é a filha, enquanto a do episódio angolano é o progenitor que morreu; aquelas filhas, por muito espaço mediático que agora lhes concedam, não seriam notícia, não fosse o pai.

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