03 agosto 2020

A CURA DE ÁGUAS DO SENHOR DIRECTOR

3 de Agosto de 1950. Já aqui me havia referido anteriormente a situações em que aquilo que acontecia ao director do Diário de Lisboa se podia revestir de importância de primeira página naquele jornal. O que se tornava supimpamente ridículo. Nessa outra altura, a 4 de Maio de 1943, o sr. dr. Joaquim Manso fora vítima de um acidente quando, «ao passar na rua Nova do Almada, escorregara, caíra, desamparado, pelo que recebera uma funda incisão na região superciliar», conforme se podia ler na notícia de primeira página do jornal que tão superiormente dirigia. Sete anos transcorridos, as razões que o faziam reaparecer na primeira página do jornal eram ainda (acessoriamente) de saúde, mas felizmente não tão graves: o director da publicação estivera numa cura de águas em Mondariz, na Galiza, e a notícia, de primeira página, é sobre o banquete de despedida que alguns compatriotas terão organizado em sua homenagem... Mas o melhor nestas coisas é sempre reproduzir o original: «Regressou de Mondaris (sic), onde fez a sua habitual cura de águas, o sr. dr. Joaquim Manso, director do «Diário de Lisboa». No último dia da sua estadia, um grupo escolhido de portugueses ofereceu-lhe, na maior intimidade, um banquete a que assistiram também algumas gentis senhoras. No momento dos brindes, falaram, brilhantemente, os srs. dr. Adriano Pires e o sr. Major Castelino Pais que tiveram para com o homenageado palavras de muito apreço. O nosso director agradeceu, frisando o seu reconhecimento por uma tão espontânea manifestação de simpatia.» As minha considerações a respeito dos brindes que saudaram o fim da cura de águas do senhor director serão mais compreensivas do que o exemplo anterior, em que a sua «incisão na região superciliar», trágica, ombreava com o drama de 63 navios afundados no mês anterior pelos submarinos alemães, mas, de toda a forma e mesmo compreendendo-se que Agosto é sempre um mês pobre em notícias: era mesmo necessário o destaque?...

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