07 outubro 2019

ELE DEVE HAVER UM CRITÉRIO...

Comparando estas duas notícias, e a colossal diferença na cobertura noticiosa, sobretudo televisiva, que tem estado a ser dada a ambos os protestos, permanece o mistério do critério que leva a dedicar muito mais atenção a um (o de cima) do que a outro. Ao contrário do que é reputado canonicamente, não pode ser o carácter sangrento da repressão: «60 feridos e um manifestante baleado» não se comparam a «mais de 100 mortos e de 6.100 feridos». Nem poderá ser relevante a questão da importância por causa da proximidade geográfica, já que o Iraque é-nos muito mais próximo do que Hong-Kong. Uma explicação maldosa remete para a hegemonia que, mau grado tudo, os americanos continuam a exercer sobre a informação internacional: enquanto os culpados da repressão no primeiro caso são convenientes, o regime de transição de Hong-Kong sob a tutela da China, no segundo caso são inconvenientes, pois o regime iraquiano é apenas a consequência da ocupação dos Estados Unidos daquele país entre 2003 e 2011. Mas, se calhar, a explicação é mesmo maldosa. Ele deve haver um critério para que a repressão em Hong Kong seja noticiosamente tão mais importante do que a de Bagdade.

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