30 novembro 2018

OS ALDRABÕES DA MEIA MARATONA DE SHENZHEN


Uma das notícias do dia é que a organização da meia maratona de Shenzhen, que teve lugar Domingo passado, apanhou nada menos que 258 concorrentes a fazer batota. 237 desses foram apanhados pelas câmaras de trânsito fazendo um pequeno percurso a corta mato entre as duas alas da avenida que lhes poupava uns bons dois quilómetros de prova. Mas, antes que as emoções se empolguem, explique-se às massas propensas à indignação que o evento em questão é tão popular que as inscrições para a corrida foram limitadas a um máximo de... 16.000. Os faltosos correspondem assim a 1,6% daquela referência. Por outro lado, as fraudes em maratonas acontecem frequentemente, já tive oportunidade de contar, aqui no Herdeiro de Aécio, uma delas, ainda mais famosa por ter ocorrido durante os Jogos Olímpicos de 1972.

Mas o interesse suplementar desta história é ela ter ocorrido na China, deixando no ar a sugestão de que existe por lá uma propensão antropológica para aldrabar as regras do jogo sempre que a oportunidade se oferece, em jeito de gigantesca metáfora do comportamento da China no que respeita ao cumprimento das regras estabelecidas pela OMC quanto ao comércio internacional. O comportamento desleal dos chineses no quadro daquela organização é uma acusação compartilhada por quase todos, senão mesmo todos os seus parceiros comerciais. Contudo, o consenso sobre o diagnóstico da culpa dos chineses desfez-se entretanto no que concerne à terapia, depois da tomada de posse da administração Trump e do estilo de discurso confrontacional do novo inquilino da Casa Branca.

Levando as palavras (sempre excessivas) de Trump à letra, era como, no caso acima, em vez de sancionar os 258 prevaricadores que fizeram batota com multas e suspensões desportivas (como deve vir a acontecer), viesse a ser anunciado que eles haviam sido condenados a pesadas penas de prisão, quiçá mesmo a penas capitais. É muito possível que as corridas passassem a ser completamente correctas, mas também é extremamente provável que a popularidade de participar em maratonas caísse a pique, pois ninguém quereria correr o risco de uma pena de prisão por um pecadilho.

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