26 novembro 2018

O REMATE COM O PÉ QUE ESTÁ MAIS À MÃO

Há mais de dezassete anos e meio o ministro do Equipamento Social, Jorge Coelho, demitia-se na sequência da derrocada da ponte de Entre-os-Rios. Para quem ainda se lembre do episodio, é quase impossível não o associar imageticamente com a recente derrocada da estrada que atravessava a zona das pedreiras em Borba (comparem-se as fotografias abaixo). Nos dois casos, assistiu-se a uma falência evidente das responsabilidades do Estado em assegurar a segurança das infraestruturas que os cidadãos utilizam. A opinião pública e publicada pedem (e pediam) culpados. Há dezassete anos, o grande momento mediático pós desastre foi a demissão do ministro Jorge Coelho que acima podemos ver a assumir «as responsabilidades políticas». As opiniões aplaudiram o gesto e, recuperando uma expressão portuguesíssima do hoje esquecido comentador desportivo Alves dos Santos, politicamente foi como se se tratasse de um remate com o pé que estava mais à mão. O que na altura não se sabia é que o político acabou sendo o único (auto-)sancionado: o julgamento concluiu-se em 2006 com a absolvição dos seis réus. Mais do que isso, os acontecimentos dos meses imediatamente seguintes à queda da ponte vieram dar robustez à impressão que Jorge Coelho procedera daquele modo mais como expediente político do que pelo imperativo ético evocado, abandonando um governo que se descobriu depois a colapsar por dentro, colapso esse que se viria a expressar escassos nove meses passados, a pretexto de umas eleições autárquicas mal sucedidas para o PS. É por tudo isso que aqui relembro que creio que se deve proceder com muita calma quanto a pedidos de demissão e outras exuberâncias mediáticas a respeito do que agora aconteceu em Borba, e guardar as indignações lá mais para diante, para evitar que tudo acabe - como, infelizmente, se tornou tradicional - em «águas de bacalhau». Mais do que as falhas da nossa idiossincrasia de sermos um país de porreiraços (é sempre chato condenar os culpados), há esta pecha de nem sequer preservarmos a memória para que se evite repetir as mesmas asneiras...

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