09 novembro 2018

O FALSO «LE SOIR»

9 de Novembro de 1943. Nesse dia aparecia nas bancas da Bélgica ocupada este Le Soir misterioso, que se descobria ser uma versão pirata do vespertino colaboracionista normalmente publicado em Bruxelas com o mesmo nome. Se o jornal oficial tinha uma tiragem que rondava os 300.000 exemplares (era o jornal de referência da Bélgica francófona), os promotores da iniciativa arriscaram há 75 anos distribuir uma edição sua de 5.000 para ser posta à venda em Bruxelas, usando a mesma rotina e os mesmos canais de distribuição do Le Soir colaboracionista. Claro que os leitores rapidamente se apercebiam de que algo estava errado. Sem ser óbvia, a redacção dos artigos diferia substancialmente daquilo que eles sabiam que podia ser publicado sob a censura militar alemã. No artigo acima do lado direito, e apenas para dar um par de exemplos, depois do título que qualificava a Estratégia de eficaz, como todos os títulos laudatórios de primeira página, o subtítulo fazia Berlim admitir que a situação era muito séria, algo que a propaganda alemã nunca admitiria e que um jornal censurado como o Le Soir nunca poderia publicar. Quanto à fotografia que aparece do lado esquerdo é a de um bombardeiro B-17 norte-americano... Tratou-se de uma corajosa e imaginativa operação de propaganda e desinformação produzida pela resistência belga. Depois de se saber da sua existência, nos dias seguintes outros 45.000 exemplares do falso Le Soir foram vendidos clandestinamente em toda a Bélgica e no norte de França. Aquilo que, noutras circunstâncias, podia ter sido levado à conta de uma engenhosa partida de carnaval, não foi assim interpretado pelas autoridades alemãs, que não tinham qualquer sentido de humor.

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