14 julho 2018

IDOLATRAR A MEDIANIA

Hoje, ao apreciar a prestação da selecção inglesa no jogo de disputa pelo terceiro lugar do Mundial, lembrei-me do que George Best (que, assinale-se, apesar de britânico, jogou pela selecção da Irlanda do Norte) disse certo dia de David Beckham: «Não consegue rematar de pé esquerdo, não sabe jogar de cabeça, não gosta de defender, nem sabe desarmar os adversários, e não marca muitos golos. Mas, aparte disso, é um bom jogador*». O olho experimentado da estrela veterana não se deixava iludir pela promoção de alguém que a afición inglesa queria fazer passar por um seu longínquo sucessor. Entre as várias idiossincrasias dos ingleses (onde se inclui a insistência em conduzir do outro lado da estrada), subsiste esta necessidade da existência de um panteão muito próprio de futebolistas locais cuja valia aparente raramente sobrevive à travessia do Canal da Mancha**. Nesta promoção insuflada de David Beckham registe-se, com simpatia, a coincidência de, sendo um jogador mediano, ter enchido cabeçalhos por ter casado com uma cantora (Victoria das Spice Girls) que também não se distinguiu na sua carreira por causa das suas qualidades vocais...

* He can’t kick with his left foot, he can’t head a ball, he can’t tackle and he doesn’t score many goals. Apart from that he’s all right.”
** Alguém imagina, por exemplo, Wayne Rooney a vingar como grande estrela num clube europeu do continente?

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