26 maio 2017

«A MAIOR BURLA DA HISTÓRIA PORTUGUESA»

Até agora, parecia-me que havia um certo consenso em classificar o caso do «Angola e Metrópole», protagonizado por Alves dos Reis na década de 1920, como a maior burla da história portuguesa. Um caso que até tinha reputação internacional. No entanto, 87 anos depois do julgamento do mais famoso burlão português (abaixo), o juiz que presidiu ao julgamento de Oliveira e Costa e dos seus restantes comparsas do BPN não teve qualquer hesitação em qualificar o caso que julgou como a maior burla da história portuguesa. E não se trata de uma peça de retórica: o meretíssimo juiz tem toda a razão. Se tomarmos as manigâncias de Alves dos Reis por referência, na época ele apropriou-se de 200.000 notas de 500$, num valor global de 100.000 contos, um valor que representaria um pouco menos de 1% do valor que se estima que fosse o do PIB da economia portuguesa na altura (1925). Pelas últimas avaliações feitas pelo Tribunal de Contas, os custos do BPN já montam a 5.400 milhões de €, o que representa 3,0% do valor do PIB da economia portuguesa à data da nacionalização do banco (2008). Alguma controvérsia se levanta - pertinente - quanto à decisão então tomada de nacionalizar o BPN e a forma de que ela se revestiu. Mas isso é uma discussão sobre a identidade dos que vão arcar com o prejuízo - tradicionalmente é o contribuinte... - e não com o montante desse prejuízo, que é o que está aqui em comparação: Oliveira e Costa vale três vezes por Alves dos Reis. Vamos a ver qual será o padrão de Ricardo Salgado medido em Alves dos Reis. Viveram-se tempos históricos no que respeita à dimensão da escroqueria em Portugal. Espera-se que se vivam agora também no seu combate.
Olhando para esta edição do Diário de Lisboa de 8 de Maio de 1930 percebe-se o quão diferentes eram aqueles tempos, em que Alves dos Reis esteve quatro anos e meio em prisão preventiva até que o ministério público se decidisse a avançar para o julgamento, o que terá decerto ajudado à epifania religiosa que o levou a confessar os seus crimes. Nos tempos modernos, recorde-se que João Vale e Azevedo também experimentou uma epifania, mas não lhe deu para confessar nada...

Sem comentários:

Enviar um comentário