12 janeiro 2017

UMA VERSÃO MUSICADA DO EFEITO BORBOLETA

O Efeito Borboleta é a explicação conceptual de que, de pequenas causas, se podem vir a desencadear efeitos incomensuravelmente maiores. A sua formulação teórica, que se pode revestir de algum hermetismo (veja-se a função no canto superior esquerdo do quadro acima...), deve-se ao meteorologista Edward Lorenz (1917-2008), mas a explicação do que consistia o fenómeno rapidamente se popularizou por uma descrição muito mais simplificada: a de que o bater das asas de uma borboleta no Brasil (por exemplo) poderia vir a causar uma tempestade em algum local dos Estados Unidos. Dúzia e meia de anos depois, e num campo bem distinto do da meteorologia, vemos o mesmo Efeito Borboleta a ser transposto para uma Ópera, a do Malandro, no caso através da letra de Chico Buarque e da música de Kurt Weill. No caso, é o calote do malandro que provoca o colapso da indústria cachaceira do Brasil. Mas, porque, como previa Lorenz, os sistemas são dinâmicos e não lineares, neste outro caso, talvez por se tratar de ciências humanas, tudo reverte à borboleta e o malandro é autuado, julgado, condenado culpado pela situação...

O malandro/Na dureza
Senta à mesa/Do café
Bebe um gole/De cachaça
Acha graça/E dá no pé

O garçom/No prejuízo
Sem sorriso/Sem freguês
De passagem/Pela caixa
Dá uma baixa/No português

O galego/Acha estranho
Que o seu ganho/Tá um horror
Pega o lápis/Soma os canos
Passa os danos/Pro distribuidor

Mas o frete/Vê que ao todo
Há engodo/Nos papéis
E pra cima/Do alambique
Dá um trambique/De cem mil réis

O usineiro/Nessa luta
Grita (ponte que partiu!)
Não é idiota/Trunca a nota
Lesa o Banco/Do Brasil

Nosso banco/Tá cotado
No mercado/Exterior
Então taxa/A cachaça
A um preço/Assustador

Mas os ianques/Com seus tanques
Têm bem mais /Do que fazer
E proíbem/Os soldados
Aliados/De beber

A cachaça/Tá parada
Rejeitada/No barril
O alambique/Tem chilique
Contra o Banco/Do Brasil

O usineiro/Faz barulho
Com orgulho/De produtor
Mas a sua/Raiva cega
Descarrega/No carregador

Este chega/Pro galego
Nega arrego/Cobra mais
A cachaça/Tá de graça
Mas o frete/Como é que faz?

O galego/Tá apertado
Pro seu lado/Não tá bom
Então deixa/Congelada
A mesada/Do garçom

O garçom vê/Um malandro
Sai gritando/Pega ladrão
E o malandro/Autuado
É julgado e condenado culpado
Pela situação

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