06 janeiro 2017

OPERAÇÃO «DECKHOUSE FIVE»


Há cinquenta anos (6 de Janeiro de 1967), dava-se início no Vietname do Sul à Operação Deckhouse Five, uma operação anfíbia e helitransportada que teve lugar na foz do rio Mekong, numa das ilhas do fértil delta daquele rio, a cerca de 100 km da capital, Saigão, e sobre um território que se considerava estar controlado pelos vietcong. Participaram na operação um batalhão de fuzileiros dos Estados Unidos e dois batalhões de fuzileiros sul vietnamitas. O plano consistia em varrer de sul para norte a ilha definida por dois braços do delta (Ham Luong e Co Chien), identificando, engajando e destruindo o dispositivo militar que o inimigo possuísse na região. Ao fim de dez dias a operação fora concluída com resultados desapontantes: com o custo de 7 mortos do lado norte-americano e 1 morto do lado sul-vietnamita, os batalhões de fuzileiros fizeram-se senhores do terreno, tendo abatido no decurso da operação 21 guerrilheiros do vietcong e capturado 44 armas. Estranhamente, não encontro registo do número de prisioneiros capturados embora se saiba que vários dos indícios colectados no local mostravam que a região abrigara um dispositivo militar muito superior até bem pouco tempo antes da operação. Também não existem quaisquer referências às populações civis. No seu computo global a operação resultara numa vitória... e também num insucesso.
Com a clarividência de se saber agora o desfecho da guerra de que a operação foi apenas um episódio menor, é possível ver a partir do filme de época (acima) as características (algumas erradas) de que se revestia a intervenção norte-americana no Vietname. Em primeiro lugar, as operações montavam-se em função dos recursos e interesses norte-americanos e não das realidades sul-vietnamitas. O uso a dar à frota anfíbia do famoso Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos, o próprio lobbying do ramo, parecia obrigar o próprio comando norte-americano a dar prioridade a acções militares em regiões litorais onde era vocação dos fuzileiros intervir, independentemente da sua relevância estratégica. Em segundo lugar, como se perceberá pelo vídeo acima, as demonstrações de força parecem ser mais concebidas para transmitir confiança ao auditório doméstico do que para intimidar os vietnamitas. Para estes últimos, a discrepância das forças em presença era tão grande que, mais helicóptero, menos avião, a questão do poder de fogo e de mobilidade nem se punha. Os argumentos da outra parte eram outros. Em terceiro lugar, percebe-se que, tão tarde quanto 1967, as operações norte-americanas parecem ainda circunscrever-se à sua componente militar clássica; nada se diz (e muito pouco se terá feito, presume-se) sobre a captação das simpatias das populações recém-retiradas à influência vietcong, no quadro daquilo que se preconiza ser uma acção contra-subversiva normal. Em quarto lugar, no que concerne às informações, a sua segurança revelava-se um desastre total, já que o inimigo mostrava saber com regularidade e antecipação quais as intenções norte-americanas. Só isso explica que os fuzileiros tivessem atacado... o vazio.
Apesar de tudo isto nos parecer hoje mais ou menos evidente, o mais engraçado deverá ser a forma como o resultado da operação foi avaliado à época. Positivamente, claro está. A operação foi levada à conta de uma espécie de exercício com fogos reais (mesmo reais), assim para o mais exigente. Mas, eloquente do que era a percepção dos comandos militares norte-americanos das prioridades do conflito vietnamita, o destaque do relatório vai para o problema de quem devia controlar a aviação que operava sobre a área da operação anfíbia: segundo a doutrina da US Navy e do US Marine Corps para as operações anfíbias, teria que ser o comandante da operação de desembarque; porém, a Força Aérea norte-americana, sediada em Saigão, tinha um outro entendimento: essa norma aplicar-se-ia quando o desembarque tivesse lugar em locais onde o espaço aéreo fosse hostil, o que não acontecia naquele caso. Acabou por ter de ser o Comandante-Chefe William Westmoreland (por sinal, neutro, do Exército) a desempatar a questão em prol dos navais, mas ressalvando que a complicação das duas estruturas de comando aéreo recomendaria que não se repetissem outras operações anfíbias, pelo menos naquela área.

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