16 maio 2014

SABER OLHAR

Agosto de 1975. Analise-se acima o encontro de dois altos responsáveis das recém vitoriosas organizações nacionalistas (e comunistas) da Indochina que haviam acabado de derrubar em Abril os dois regimes (cambojano e sul-vietnamita) apoiados por Washington. Envergando o capacete típico dos norte-vietnamitas, Lê Duẩn (1907-1986), o secretário-geral do Partido Comunista do Vietname, abraça sorridente o vice-primeiro-ministro cambojano Son Sen (1930-1997) que ostenta o lenço axadrezado identificativo dos Khmers vermelhos. Os sorrisos, mais do que expressar felicidade, têm aquela exuberância rasgada mas indistinta como os asiáticos lhes conseguem dar. Note-se contudo como o braço esquerdo de Son Sen agarra o de Lê Duẩn num gesto que parece procurar mantê-lo à distância e evitar um abraço ainda mais amplo que equivaleria simbolicamente, neste exercício de interpretação da fotografia, à temida implantação de uma hegemonia vietnamita sobre o Camboja. Três anos depois, por decisão do mesmo Lê Duẩn, o Vietname invadiria o Camboja. O regime de que Son Sen era um dos principais protagonistas revelara-se hediondo, mas não terá sido principalmente por isso que Lê Duẩn tomou a decisão de o derrubar.

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