23 maio 2014

A BATALHA DE KARAMÉ

A Batalha de Karamé foi travada em Março de 1968 junto a uma vila jordana que lhe deu o nome, tendo como antagonistas o exército israelita contra os guerrilheiros palestinianos da OLP e o exército jordano. Próximo de Karamé, que se situa nas margens do rio Jordão, rio que passara a constituir desde a Guerra dos Seis Dias em Junho de 1967 a fronteira de facto entre Israel e a Jordânia, fora construído um campo de refugiados palestinianos, que a Fatah de Yasser Arafat passara a usar como base para as suas operações de infiltração no território controlado pelos israelitas, na outra margem. Desde Fevereiro que se vinham a acumular os incidentes mas a razão próxima que foi invocada por Israel para desencadear a operação que esteve na origem da batalha foi a detonação de uma mina A/C por um autocarro escolar que causou a morte a dois adultos e ferimentos em dez crianças.

A operação planeada pelos israelitas, que obrigaria a mais uma incursão em território jordano, foi realizada mais em força do que em rapidez e subtileza: os israelitas concentraram mais de uma dezena de milhar de homens de duas brigadas e de outros sete batalhões independentes antes de a desencadear, movimentos esses que, obviamente, não escaparam à observação dos palestinianos e jordanos da outra margem. Os israelitas fizeram chegar previamente aos jordanos, através de canais diplomáticos, as suas intenções de limitar os seus objectivos aos guerrilheiros palestinianos e, por isso, estavam a contar com alguma neutralidade, ou pelo menos com um empenho muito moderado, do lado jordano. Mas, na realidade e quando chegou a hora da verdade, tudo não passara de wishful thinking.
Quando os israelitas desencadearam finalmente a operação, os grandes combates travaram-se, não com os guerrilheiros palestinianos, mas com os blindados, a aviação e a artilharia jordana. Os invasores depararam-se com uma resistência feroz que implicava custos desproporcionados para os objectivos da operação. Mesmo assim, os objectivos mínimos foram cumpridos, o campo de refugiados foi arrasado (acima), fizeram-se cerca de 150 prisioneiros. Mas a densidade do fogo inimigo tornava a manutenção das posições conquistadas insustentável e os israelitas evacuaram-nas no próprio dia. Haviam-lhes custado uma trintena de mortos e uma centena de feridos. Os jordanos haviam perdido mais (84 mortos e 150 feridos) e os palestinianos ainda mais (150 mortos, 100 feridos, além dos 150 capturados já mencionados acima). Acrescente-se, para comparação, que numa outra operação realizada nesse mesmo dia, mas com mais discrição e souplesse, os israelitas haviam entrado noutro local da Jordânia, haviam abatido cerca de 20 jordanos e 20 palestinianos, capturados outros 27 e haviam-se retirado sem sofrer qualquer baixa.

Mas, se os israelitas conseguiram, ainda assim, cumprir os mínimos e saíram da batalha como os seus vencedores tácticos, o grande vencedor estratégico da mesma foi a Fatah e Yasser Arafat. Não se incomodando com exageros, proclamou-a como a primeira batalha que os israelitas haviam perdido, e os simpatizantes por todo o mundo árabe, ainda marcados pela humilhação que constituíra a Guerra dos Seis Dias de 1967, estavam ansiosos por ouvir notícias de vitórias militares, mesmo que elas fossem mais do que duvidosas. O financiamento vindo dos países ricos do Golfo e os voluntários vindos da diáspora palestiniana multiplicaram-se e a Fatah, de uma entre várias, tornou-se na organização preponderante na OLP, com o seu dirigente máximo, Yasser Arafat, a passar a presidi-la em 1969, enquanto adquiria um protagonismo internacional charmoso reservado apenas a alguns líderes guerrilheiros (Mao, Fidel, Che Guevara).
Dito isto, e mudando totalmente de tema mas não de forma de raciocínio, o que interessará depois de contados os votos no próximo dia 25 não será propriamente a crueza dos resultados, que acredito sejam uma derrota mais ou menos severa para a coligação governamental. Isso, como em Karamé, é a própria batalha eleitoral de que depois ninguém se lembrará. O que me interessa descobrir é quem vai conseguir (se houver quem o consiga…) convencer os seus da valia dos resultados alcançados.

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