26 maio 2014

«DÉJÀ VU»¹


Envelhecer deve ser isto: sensações repetidas de déjà vu. Ontem enquanto escrevinhava a minha cruz no quadro à frente do LIVRE, veio-me uma sensação súbita de recuar bruscamente 27 anos e voltar a fazer o mesmo num outro boletim de voto, embora o partido em questão dessa outra vez fosse o PPM. E apenas o reavivar desse passado deu-me subitamente a certeza que também desta vez tudo acabaria para Rui Tavares da mesma forma como outrora acabara para Miguel Esteves Cardoso. Não que a constatação viesse acompanhada de hesitações: tratava-se mais de um voto destinado a avalizar a conduta de um eleito que saía do que uma concordância ideológica com um candidato que se reapresentava.

Mas, ao mesmo tempo, não deixei de achar refrescante a perspectiva (que se veio a confirmar) de que, mais ou menos uma vez por geração, a intelectualidade portuguesa se poder confrontar com a sua real representatividade dentro da sociedade. O espirituosíssimo Miguel Esteves Cardoso tinha recolhido 2,8% nas eleições europeias de 1987, o mais bisonho - mas também muito estimado - Rui Tavares conseguiu 2,2% nestas de 2014, ambos fracassaram na sua intenção de serem eleitos para o parlamento europeu. Tive pena das duas vezes. Mas a minha reacção desta vez é temperada pela esperança que deste episódio se reforce a constatação do quão escassa é a influência dos que são tomados por formadores de opinião.

¹ É apenas coincidência que se encadeiem dois postes com títulos em francês.

2 comentários:

  1. Convém, todavia, recordar que os 2,8% de MEC - em quem então também votei - correspondiam ainda assim a 120.000 votos, muito mais do que Rui Tavares agora conseguiu.

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  2. Não foram 120.000, foram bastantes mais, quase 156.000 votos.

    Convém todavia acrescentar que as eleições europeias tiveram lugar no mesmo dia que as legislativas, o que elevou a afluência às urnas para 5,6 milhões de eleitores, algo que nunca mais foi sequer aproximado (3,0 a 3,6 milhões nos últimos 20 anos).

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