21 maio 2014

DIVAGAÇÃO SOBRE O RELEVO INFORMATIVO/PUBLICITÁRIO DAS EXIBIÇÕES DAS PARTES PUDENDAS

A pretexto da realização de mais um dos tradicionais Festivais de Cannes, pretendi desenterrar esta fotografia de um festival passado vai para mais de 30 anos (1983), onde alguns dos Monthy Phyton (identificam-se Terry Jones, Terry Gilliam, Michael Palin) se exibem impudicamente com o emblemático Hotel Carlton por trás. Pode perceber-se no gesto a paródia ao artifício de concitar as atenções da comunicação social com a exibição de partes da anatomia que tradicionalmente se resguardam, expediente que em Cannes nunca foi de todo incomum.
Trinta anos antes da paródia dos Python, em 1954, ficara famoso um episódio (e um conjunto de fotografias) quando uma actriz mais ambiciosa e em busca de promoção chamada Simone Silva tirara, quando provocada, o soutien durante uma sessão fotográfica com Robert Mitchum, provocando com a ousadia um frenesim entre os fotógrafos que custou um braço partido a um, uma perna partida a outro e várias lentes e material danificado em terceiros. Mas a coisa caiu mal e veio a custar a Simone o pedido oficial para que se retirasse do festival…
No tempo da paródia dos Monthy Phyton a situação pouco evoluíra: as exibições públicas de nudez eram ainda a especialidade dos streakers, exibindo-se perante dezenas de milhares naqueles recintos onde o público se reunia em quantidade compensadora, como esta famosa fotografia de um deles, tirada no estádio de Twickenham em 1974, depois de apanhado pela polícia e pudicamente velado, deixando-nos numa especulação porventura sobrestimada pelo formato do tradicional capacete do Bobbie, da dimensão daquilo que se estaria a cobrir…
Chegámos à actualidade e tudo parece ter mudado quando as Femen ucranianas descobriram e tiram todo o proveito de uma das regras do jornalismo do Século XXI: torna-se obrigatório cobrir-se exaustivamente tudo o que faz alguém que se esteja a exibir publicamente em pelota. É assim que se constata que um dos melhores suportes de uma mensagem político-publicitária passou a ser um par de mamas (ou vários pares) o mais assertivas possíveis. Não há câmara fotográfica ou de vídeo que resista aos apelos de uma nudez, feminina de preferência…
Há mesmo aqueles que, com os seus conhecimentos históricos, equiparam este novo género publicitário a uma versão evoluída, ainda que recorrendo a um erótico-rasca, dos homens-sanduíche que foram uma das imagens de marca da década da Depressão.

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