A propósito de prognósticos sobre a situação financeira portuguesa, parece-me estarmos a chegar a uma daquelas ocasiões em que já nem será preciso saber entender o que aparece escrito, basta apenas saber olhar com atenção para a imagem para se antecipar qual o desfecho…
31 março 2012
30 março 2012
THE INCOMPETENT
Pedro Passos Coelho foi visitar Leonor Beleza e a Fundação Champalimaud aproveitou para libertar a notícia que uma revista norte-americana da especialidade chamada The Scientist havia classificado o Centro Champalimaud para o Desconhecido em primeiro lugar entre os melhores sítios para trabalhar… fora dos Estados Unidos. O que não é Desconhecido é aquela propensão tradicional dos jornalistas portugueses para abocanhar destas notícias, quando vindas do estrangeiro, sem cuidado algum. O que é a revista The Scientist? E o que é que escreveu ela ao certo sobre as instalações da Fundação Champalimaud?
Começando pelo fim e socorrendo-nos do trabalho do Público lê-se: Embora tenha menos de dois anos, o Centro Champalimaud para o Desconhecido lidera a nossa lista de melhores instituições para os pós-doutorados. O centro concentra-se na investigação em neurociências e cancro e ocupa um cenário pitoresco com vista para o rio Tejo, em Lisboa. Apoiado pela Fundação Champalimaud, a instituição está equipada com um núcleo de instalações invejáveis e um campus lindíssimo. Desculpar-me-ão, mas a fundamentação é superficial demais para ser considerado científica. Aliás, mais parece a descrição promocional de um resort…
Quanto à revista The Scientist, encontrei o seu website oficial, que não inclui quaisquer dados sobre qual é a sua circulação. Fiquei contudo a saber que a revista esteve em vias de fechar em Outubro passado, tendo sido salva por um comprador de última hora. Soube isto tudo apenas em cinco minutos de navegação e suponho que o destaque noticioso acima será excessivo tendo em conta tratar-se de uma revista um pouco… secundária. Será que no dia em que a (hipotética) revista The Journalist publicar a notícia que os colegas portugueses se contam entre os mais preguiçosos e incompetentes da classe, a notícia é também assim retransmitida sem escrutínio?...
Começando pelo fim e socorrendo-nos do trabalho do Público lê-se: Embora tenha menos de dois anos, o Centro Champalimaud para o Desconhecido lidera a nossa lista de melhores instituições para os pós-doutorados. O centro concentra-se na investigação em neurociências e cancro e ocupa um cenário pitoresco com vista para o rio Tejo, em Lisboa. Apoiado pela Fundação Champalimaud, a instituição está equipada com um núcleo de instalações invejáveis e um campus lindíssimo. Desculpar-me-ão, mas a fundamentação é superficial demais para ser considerado científica. Aliás, mais parece a descrição promocional de um resort…
Quanto à revista The Scientist, encontrei o seu website oficial, que não inclui quaisquer dados sobre qual é a sua circulação. Fiquei contudo a saber que a revista esteve em vias de fechar em Outubro passado, tendo sido salva por um comprador de última hora. Soube isto tudo apenas em cinco minutos de navegação e suponho que o destaque noticioso acima será excessivo tendo em conta tratar-se de uma revista um pouco… secundária. Será que no dia em que a (hipotética) revista The Journalist publicar a notícia que os colegas portugueses se contam entre os mais preguiçosos e incompetentes da classe, a notícia é também assim retransmitida sem escrutínio?...
DIEN BIEN PHU E A GÉNESE DO INTERESSE DOS MILITARES FRANCESES PELAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Como se pode ler no cabeçalho do Le Parisien Libéré acima, Dien Bien Phu caiu a 7 de Maio de 1954. Naquele dia e daquele modo encerravam-se as hipóteses de subsistência de uma estrutura política que preservasse a supremacia da França na Península da Indochina. Diga-se que, a derrota francesa e a Operação Castor que a precedeu, já foram analisadas e comentadas um número exaustivo de vezes que apontam para um veredicto mais ou menos consensual: o alto comando francês cometeu inúmeros erros tácticos - alguns deles muito graves e com implicações directas no desfecho da batalha.
A análise realizada pelos próprios franceses é – naturalmente – bastante mais complexa e faz uma distinção entre causas para a derrota na Batalha de Dien Bien Phu e para a derrota na Guerra da Indochina. Assim, na perspectiva dos próprios e de forma sucinta, a sua derrota nesta última dever-se-ia ao facto de se tratar de uma guerra de uma natureza diferente das anteriores. Do lado francês descurara-se, não só a motivação dos combatentes, como sobretudo a acção psicológica junto das populações civis em nome das quais se combatia. E prometia-se: se, quanto a isso, o poder político falhara no Vietname, na Argélia os militares dispunham-se a encarregar-se eles próprios do assunto…
Foi assim que apareceu um novo exército francês muito mais polivalente na Guerra da Argélia, muito mais estudioso das Ciências Sociais e dedicado às tarefas administrativas e no qual o seu homólogo português se foi inspirar quando se viu envolvido, por sua vez, nas Guerras de África a partir de 1961. Pelo contrário, durante aqueles mesmos anos (de 1950 a 1980) os exércitos de inspiração anglo-saxónica mantiveram uma separação entre o que era de índole política e social e o que era militar nos conflitos similares¹ que travaram. No computo global, as duas abordagens distintas não pareceram determinantes para o desfecho de qualquer daqueles conflitos, numa esmagadora maioria das vezes em prol das teses nacionalistas. Mas o melhor deste assunto serão mesmo as alusões subtis a ele quando feitas nas aventuras de Astérix…
A análise realizada pelos próprios franceses é – naturalmente – bastante mais complexa e faz uma distinção entre causas para a derrota na Batalha de Dien Bien Phu e para a derrota na Guerra da Indochina. Assim, na perspectiva dos próprios e de forma sucinta, a sua derrota nesta última dever-se-ia ao facto de se tratar de uma guerra de uma natureza diferente das anteriores. Do lado francês descurara-se, não só a motivação dos combatentes, como sobretudo a acção psicológica junto das populações civis em nome das quais se combatia. E prometia-se: se, quanto a isso, o poder político falhara no Vietname, na Argélia os militares dispunham-se a encarregar-se eles próprios do assunto…
Foi assim que apareceu um novo exército francês muito mais polivalente na Guerra da Argélia, muito mais estudioso das Ciências Sociais e dedicado às tarefas administrativas e no qual o seu homólogo português se foi inspirar quando se viu envolvido, por sua vez, nas Guerras de África a partir de 1961. Pelo contrário, durante aqueles mesmos anos (de 1950 a 1980) os exércitos de inspiração anglo-saxónica mantiveram uma separação entre o que era de índole política e social e o que era militar nos conflitos similares¹ que travaram. No computo global, as duas abordagens distintas não pareceram determinantes para o desfecho de qualquer daqueles conflitos, numa esmagadora maioria das vezes em prol das teses nacionalistas. Mas o melhor deste assunto serão mesmo as alusões subtis a ele quando feitas nas aventuras de Astérix…
29 março 2012
A EXECUÇÃO DE ANTON DOSTLER
Anton Dostler (1891-1945) foi um general da Wehrmacht de origem bávara e com uma carreira não propriamente destacada, a não ser por causa de uma ordem por si dada em Março de 1944: a execução de 15 prisioneiros de guerra norte-americanos. Por causa dela, Dostler foi julgado e condenado à morte alguns meses depois do fim da Segunda Guerra Mundial. A fotografia acima mostra-nos a cena a minutos da execução que teve lugar a 1 de Dezembro de 1945, com Dostler, devidamente fardado, a ser amarrado ao poste com um olhar onde parece fuzilar (qual vingança antecipada...) a objectiva do fotógrafo. À sua volta ainda há quem se preocupe com a sua condição física, mas quanto ao apoio psicológico, o capelão (à direita), ainda que paramentado, parece já completamente desinteressado da sua pessoa…
Etiquetas:
Fotografia,
Segunda Guerra Mundial
THE THICK OF IT
A série televisiva intitula-se, no original, The Thick of It. A tradução deste título é complicada: thick é um adjectivo traduzível por espesso, grosso, denso, compacto, cerrado, apinhado, turvo, mas também bronco ou estúpido, embora a palavra também se possa referir à parte mais espessa ou mais dinâmica, ou ao ainda ao centro, de algo. Em suma, dar-lhe um título em português seria (será) uma oportunidade única para a criatividade do tradutor. É uma série política, vinda de um país (Reino Unido) que tem tradição de qualidade nelas, recordem-se, para exemplo, Yes, Minister (e a sequela, Yes, Prime Minister) ou House of Cards, qualquer delas (abaixo) já aqui referidas aqui no blogue. O padrão de exigência é alto e, começando pelo fim, The Thick of It não me parece estar à altura da comparação.
Terá havido entusiasmo em excesso quando The Thick of It apareceu em 2005 e houvesse logo quem a quisesse qualificar como a versão do Século XXI de Yes, Minister, com o enredo realçando as disputas entre o cada vez mais importante aparelho da informação mais os respectivos assessores de imagem em contraste com o funcionalismo público clássico - e os políticos, não nos esqueçamos deles... A comparação torna-se num exagero que apenas serve para elevar as expectativas de quem, como eu, ainda não tinha visto a série, e provocar o consequente desapontamento. Em The Thick of It encenam-se situações ridiculamente cómicas mas não chega a tratar-se de uma comédia. Os traços das personagens são tão grosseiros – os protagonistas estão, por exemplo, permanentemente a praguejar – que se chega a perder a perspectiva de onde começa e acaba a caricatura…
Terá havido entusiasmo em excesso quando The Thick of It apareceu em 2005 e houvesse logo quem a quisesse qualificar como a versão do Século XXI de Yes, Minister, com o enredo realçando as disputas entre o cada vez mais importante aparelho da informação mais os respectivos assessores de imagem em contraste com o funcionalismo público clássico - e os políticos, não nos esqueçamos deles... A comparação torna-se num exagero que apenas serve para elevar as expectativas de quem, como eu, ainda não tinha visto a série, e provocar o consequente desapontamento. Em The Thick of It encenam-se situações ridiculamente cómicas mas não chega a tratar-se de uma comédia. Os traços das personagens são tão grosseiros – os protagonistas estão, por exemplo, permanentemente a praguejar – que se chega a perder a perspectiva de onde começa e acaba a caricatura…
Mas, mesmo não sendo notável, a série não deixa de ser importante, nem que seja para nos apercebermos das evoluções que o Poder tem vindo a sofrer e da importância relativa que a governação propriamente dita tem vindo a perder em favor da comunicação, a ponto de se edificar uma realidade virtual baseada nesta última: analise-se a imagem acima, onde Malcolm Tucker cruza os braços em desafio a uma proposta que recebeu para que se demita, mas onde essa discussão nos parece irrelevante ao ler-se na televisão por detrás de si o anúncio – que ele ignora – que já o fez… É sempre interessante perceber melhor o modus vivendi desta gente. A surpresa final é a forma como esta série me escapou, e tive que a encomendar na Amazon. A globalização das séries televisivas, especialmente as de língua inglesa, e apesar da existência de vários canais do cabo que lhes são inteiramente dedicadas, revela-se muito menos global do que o que é propalado…
28 março 2012
TELEVISÃO, a.T.
É tão (ou talvez mais) difícil de explicar às actuais gerações o que era uma televisão a preto e branco quanto o pormenor de que essas televisões funcionavam sem telecomandos... Uma geração foi assim habituada à fidelidade ao que estivesse a dar, não apenas porque na maioria das vezes não havia outra alternativa mas também porque, mesmo quando a houvesse, era um aborrecimento levantarmo-nos para ir à televisão carregar no botão para saber qual era. Este anúncio da AEG de 1974 prometia-nos uma novidade: sensores em vez de botões, dóceis, obedientes, ultra-compreensívos, funcionam através duma simples carícia. Não nos poupando a viagem, apenas a intensidade do gesto, realce-se também uma certa megalomania: o aparelho tinha oito sensores instalados enquanto havia apenas duas opções disponíveis, 1º e 2º canal...
27 março 2012
A CRISE, QUE NÃO É DE CRIATIVIDADE
Confesso-vos que cada vez me aborrece mais os repetidos discursos que se ouvem por aí, nada criativos por sinal, preconizando abstractamente soluções empresariais criativas para responder a esta crise, cujas causas últimas se devem, se pensarmos bem, à criatividade excessiva de alguns políticos e funcionários com as nossas contas públicas…
Criatividade mostra ter a ex-prostituta que se regenerou e se tornou vendedora personalizada de preservativos, numa actividade onde adiciona valor complementando-a com demonstrações práticas sobre a sua utilização. Ora, de que é que isso valerá, se a presente crise se exprime pela diminuição abrupta dos que estão interessados em comprar preservativos?…
Etiquetas:
Economia,
Inanidades,
Sociedade
26 março 2012
CRS = SS ???
Ainda a pretexto de referências que aqui fiz aos acontecimentos de Maio de 1968 em França, junto aqui mais duas fotografias daquela época, onde as pinturas e os cartazes repetem um slogan popular mas estúpido comparando a polícia de choque francesa (conhecida pela sigla CRS: Companhias Republicanas de Segurança) com a SS alemã (Schutzstaffel).
A associação torna-se verdadeiramente insultuosa para as incontáveis vítimas das SS durante a Segunda Guerra Mundial, a começar pelas 642 que foram executadas em Oradour-sur-Glane em 10 de Junho de 1944, um episódio que todos aqueles estudantes universitários deveriam conhecer, para que se preservasse, ao menos, os limites da decência...
E mais do que concluir com o óbvio – que diante das verdadeiras SS, os veteranos de Maio de 68 nunca teriam tido chances de sobreviver para contar a sua história... – diga-se sobretudo que estas imagens são a demonstração de uma ausência de memória histórica por parte da mesma geração que agora quer acusar as gerações que se lhe seguiram do mesmo pecado…
E mais do que concluir com o óbvio – que diante das verdadeiras SS, os veteranos de Maio de 68 nunca teriam tido chances de sobreviver para contar a sua história... – diga-se sobretudo que estas imagens são a demonstração de uma ausência de memória histórica por parte da mesma geração que agora quer acusar as gerações que se lhe seguiram do mesmo pecado…
OS ESTADOS CONFEDERADOS DA AMÉRICA (CSA)
A Guerra Civil norte-americana (1861-65) terminou com a vitória dos estados do norte, mantendo-se a continuidade da União (USA). Mas suponho tratar-se de uma daquelas guerras onde os descendentes dos vencidos parecem aceitar o desfecho com mais azedume. A prová-lo, as inúmeras reconstituições em que a bandeira dos confederados aparece a substituir a legitima, a da União, em locais e momentos simbólicos da História posterior dos Estados Unidos.
Uma outra forma ainda mais criativa de expressar aquela mesma atitude é a de escrever livros de história alternativa onde a Guerra Civil termina por uma vitória sulista. Consultando-se a Wikipedia, a lista é interessante – por comparação, alguém conhece uma novela em que os absolutistas fossem os vencedores em Evoramonte?... – e tem a particularidade adicional de se descobrir entre os autores nomes tão interessantes quanto os de Winston Churchill e Newt Gingrich.
Uma outra forma ainda mais criativa de expressar aquela mesma atitude é a de escrever livros de história alternativa onde a Guerra Civil termina por uma vitória sulista. Consultando-se a Wikipedia, a lista é interessante – por comparação, alguém conhece uma novela em que os absolutistas fossem os vencedores em Evoramonte?... – e tem a particularidade adicional de se descobrir entre os autores nomes tão interessantes quanto os de Winston Churchill e Newt Gingrich.
25 março 2012
DOIS TÍTULOS POÉTICOS PARA A OPERAÇÃO «MARKET GARDEN»
Uma grande operação aerotransportada predispõe-se naturalmente a bons enredos, elaborados num crescendo, com os preparativos no solo, a viagem, o salto propriamente dito, os primeiros recontros com o inimigo, etc. Qualquer dos dois livros abaixo, que respeitam à mesma Operação, a Market-Garden, que se desenrolou na Holanda em Setembro de 1944, não desmerecem essas expectativas. Mais, ambos têm títulos com uma certa ressonância poética – Uma Ponte Longe Demais (esquerda) e Nunca Neva em Setembro. Mas há diferenças significativas a separá-los.
Cornelius Ryan concluiu o seu em 1974, pouco antes de falecer. À semelhança do livro que o celebrizara (O Dia Mais Longo), a sua narrativa vai-se apoiando nos depoimentos dos intervenientes, concentrando-se na participação de algumas unidades seleccionadas – neste caso é a 1ª Divisão Aerotransportada britânica, a que foi lançada no local mais isolado, sobre Arnhem, 100 km por detrás das linhas germânicas. Tudo acabou nove dias depois numa derrota, mas atenção! – um magnífico desastre, conforme o segredo britânico para transformar fiascos em galantes sucessos…
O livro de Robert Kershaw tem mais 15 anos, data de 1989. Há uma diferença de perspectiva em relação ao anterior, observável logo pelo título, que é a correcção que um soldado alemão faz à sua conclusão distraída quando viu os pára-quedas no ar pela primeira vez. Quanto aos alemães que assistiram ao lançamento dos pára-quedistas, este livro destrói fundadamente a ideia convencionada que eles não têm capacidade de improvisação. Ali tiveram-na e foram bem sucedidos. Mas é só implicitamente que qualquer dos livros chega a discutir as limitações deste género de operações...
Etiquetas:
Livros,
Segunda Guerra Mundial
IMPACTOS VÁRIOS
Há notícias, esclarecimentos e desmentidos que, apesar de, conforme se lê acima, não terem tido impacto contabilístico, têm grande impacto credibilício...
Adenda de 27/03/12: Deixo aqui este enorme espaço em branco em memória da reportagem televisiva que ali esteve, onde o 1º Ministro Pedro Passos Coelho aparece pessoalmente a justificar parte da dimensão do deficit orçamental até Fevereiro com os reembolsos antecipados feitos pela RTP. Inseri-o no blogue dia 25, durou 48 horas... O que nos vale é que os jornalistas, sentindo a vontade da opinião pública, não o devem largar com perguntas sobre o assunto...
24 março 2012
O POVO ESTÁ COM O MFA COM O BENFICA E COM O SPORTING
Creio que poucos acontecimentos simbolizarão tão bem o ambiente distendido do período imediatamente a seguir ao 25 de Abril quanto esta final da Taça de Portugal entre o Benfica e o Sporting que, como era costume, foi disputada no Estádio Nacional em 9 de Junho de 1974. O que não era costume, como as imagens abaixo mostram e porque passara a haver Liberdade, era o povo vir para o próprio campo participar no jogo daquela forma tão próxima e directa, quase íntima, quase como se se tratasse de uma peladinha entre as equipas de solteiros e casados lá do bairro…
Foi um episódio profundamente democrático, aproximando verdadeiramente o povo dos seus ídolos da bola: repare-se como na celebração do golo o Márinho é mais abraçado pelos membros da assistência do que propriamente pelos seus colegas (1:22). Estão a ver o Cristiano Ronaldo a prestar-se hoje àquelas apertos?… Eu não. O jogo veio a ser vencido, após prolongamento, pelo Sporting por 2-1. Depois do apito final (2:45), nota-se ainda alguns adeptos – presumivelmente benfiquistas – a ir ter com o árbitro, talvez para discutir algumas das suas decisões assim mais fascistas…
OS «ABORRECIMENTOS» DA FRANÇA
Ainda não fiquei esclarecido se a famosa expressão A França aborrece-se (La France s'ennuie) terá sido inventada originalmente no Século XIX, na própria época em que a regularidade das Revoluções em França (1789, 1830, 1848, 1871) a tornaram pertinente, ou se se tratou de uma invenção do Século XX, retrospectivamente transplantada para o passado. O que tenho por certo – e os factos demonstram-no – é que quem se aborrecia não seria a França, mas sim Paris, porque foi aí que todas as Revoluções tiveram lugar e que, desde 1871, ao longo das III (1871-1940), IV (1946-1958) e V Repúblicas (1958-….), por causa das consequências económicas e sociais, foi preocupação constante dos sucessivos governantes franceses que em Paris não se aborrecessem…
Até à Primavera de 1968… Durante as décadas seguintes, os acontecimentos de Maio desse ano em Paris beneficiaram do beneplácito de serem comentados – e acarinhados – pela mesma geração que neles participou – ou que neles gostaria de ter participado… Foi um esforço intenso esse, o de procurar atribuir um significado desproporcionado ao que a História real se incumbiu de demonstrar que não o teve. Simultaneamente, o significado da palavra aborrecimento por parte da França foi adquirindo um sentido cada vez mais literal e menos malicioso. Fotografias da cobertura de Maio de 68 demoraram três décadas até poderem entrar no circuito e serem apreciadas pelo seu distanciamento e pela ironia implícita, como aconteceu com estas duas de Goksin Sipahioglu.
Na fotografia mais acima aparece-nos a juventude rebelde, ali composta por uma dezena de revolucionários de trazer por casa, reunidos num apartamento (clandestino?...) sob a égide do retrato de Fidel Castro na parede, imbuídos de uma atitude que procurará superar as carências de hardware para a luta armada: uma baioneta, uma espingarda de pressão de ar e mais dois capacetes... Na de baixo é a situação e a meia-idade que se manifestam diante do túmulo do soldado desconhecido paramentada com as faixas tricolores, com especial destaque para os ministros André Malraux e Michel Debré. Aprecie-se o mérito do fotógrafo, porque nem é preciso ouvir-lhes as proclamações, apenas observe-se só as poses, para se perceber a teatralidade ridícula da cena…
Na fotografia mais acima aparece-nos a juventude rebelde, ali composta por uma dezena de revolucionários de trazer por casa, reunidos num apartamento (clandestino?...) sob a égide do retrato de Fidel Castro na parede, imbuídos de uma atitude que procurará superar as carências de hardware para a luta armada: uma baioneta, uma espingarda de pressão de ar e mais dois capacetes... Na de baixo é a situação e a meia-idade que se manifestam diante do túmulo do soldado desconhecido paramentada com as faixas tricolores, com especial destaque para os ministros André Malraux e Michel Debré. Aprecie-se o mérito do fotógrafo, porque nem é preciso ouvir-lhes as proclamações, apenas observe-se só as poses, para se perceber a teatralidade ridícula da cena…
23 março 2012
AS PONTES AÉREAS QUE SALVARAM ISRAEL
Sem ser um segredo, uma das evidências mais esquecidas é o quanto o nascimento e a sobrevivência inicial do Estado de Israel devem à Checoslováquia. Quando o Reino Unido resolveu abdicar do seu mandato sobre a Palestina em 1948, fê-lo em conflito simultâneo com as organizações nacionalistas árabes e com as organizações sionistas judaicas. Como os extremistas dos dois lados haviam recorrido ao terrorismo, a popularidade de uns e outros na opinião pública e nos governos ocidentais não era propriamente elevada. Nessas circunstâncias, um dos raros países que se terá então mostrado interessado em negociar com os sionistas foi a Checoslováquia.
Para além dos excedentes de guerra, aquele material que sobrara e que era muito comum nos anos imediatamente seguintes à Segunda Guerra Mundial, a Checoslováquia possuía uma notável indústria de armamento que, para embaraço dos checos mas também consequência das capitulações de Munique em 1938, passara os anos da Guerra a abastecer os exércitos do III Reich. Depois perdera-se aquele grande cliente e terá sido com agrado – mas também só depois da concordância de Moscovo – que a Checoslováquia respondeu às solicitações dos sionistas judeus. Na encomenda destes últimos incluía-se também aviação de combate…
A encomenda foi satisfeita com uma mistura eclética de aeronaves que, anos antes, se haviam até confrontado nos céus: 25 Messerschmitt Bf 109, de concepção alemã mas de construção checa (acima, com a cruz de David), conjuntamente com 60 Spitfires (abaixo) que originalmente haviam sido fornecidos pelos britânicos aos checos. Levá-los da Checoslováquia até ao destino obrigou à montagem de umas discretas pontes aéreas que receberam os nomes de Operação Balak ou Velvetta, onde se contou com a cumplicidade da Jugoslávia socialista, que disponibilizou uma base aérea onde os caças se reabastecessem para a continuação da sua viagem até Israel.
A encomenda foi satisfeita com uma mistura eclética de aeronaves que, anos antes, se haviam até confrontado nos céus: 25 Messerschmitt Bf 109, de concepção alemã mas de construção checa (acima, com a cruz de David), conjuntamente com 60 Spitfires (abaixo) que originalmente haviam sido fornecidos pelos britânicos aos checos. Levá-los da Checoslováquia até ao destino obrigou à montagem de umas discretas pontes aéreas que receberam os nomes de Operação Balak ou Velvetta, onde se contou com a cumplicidade da Jugoslávia socialista, que disponibilizou uma base aérea onde os caças se reabastecessem para a continuação da sua viagem até Israel.
Esses aviões tiveram uma contribuição importante mas não decisiva para o desfecho da guerra que Israel então travava (1948). O mesmo não se poderá dizer do material trazido pela outra ponte aérea em 1973 que terá sido crucial para Israel. Também é verdade que o fornecedor desta vez já era outro: os Estados Unidos, o que tornaria dispensáveis os cuidados em manter a Operação – aqui baptizada Nickel Grass – tão discreta quanto as anteriores. 25 anos depois, Israel voltava a estar em guerra – do Yom Kippur – com os seus vizinhos árabes mas continuava a não dispor de condições para poder substituir sozinho o material que a guerra ia destruindo.
Os meios e material envolvidos nesta outra ponte aérea não têm qualquer comparação com as anteriores. Durante um mês os grandes aviões cargueiros C-5 e C-141 dos Estados Unidos realizaram 567 missões com destino a Israel onde transportaram mais de 20 mil toneladas de material de guerra, incluindo até carros de combate M-60 ou peças de artilharia auto-propulsionada de 155 mm. Directamente pelo ar chegaram 40 caças-bombardeiros F-4 e 36 A-4 e ainda 12 cargueiros C-130. Refira-se que o papel cúmplice da Jugoslávia, disponibilizando a base aérea para reabastecimento, foi aqui representado por Portugal com as Lajes, nos Açores.
Mesmo contando com a melhoria de estatuto internacional do fornecedor do material de guerra – de um país europeu mediano para uma das superpotências mundiais – e com a melhoria da qualidade desse material – os Estados Unidos forneceram Israel com o que de mais moderno havia em termos de equipamento militar – as conclusões a extrair depois da Guerra do Yom Kippur é que em 25 anos (1948-1973), depois de 4 guerras tacticamente vitoriosas contra os seus vizinhos árabes (1948, 1956, 1967 e 1973), a autonomia estratégica de Israel parecia não ter evoluído de todo, sempre dependente do exterior para a sua sobrevivência como Estado.
Etiquetas:
Armamento,
Aviação,
Eslováquia,
Estados Unidos,
Estratégia,
Israel,
República Checa
22 março 2012
O ASTRONAUTA
The Astronaut é um pequeno telefilme norte-americano (73 minutos), que foi emitido pela ABC originalmente em Janeiro de 1972 e que veio a ser transmito pela RTP vários meses depois, não garantirei, mas quase certamente ainda antes do 25 de Abril. Este detalhe é importante por causa do enredo do filme. A primeira missão tripulada a Marte corre mal e um dos astronautas morre – é a cena que melhor recordo desse filme, estamos a seguir num ecrã de televisão a evolução dos astronautas na superfície marciana quando, súbita e casualmente, as imagens são substituídas por um anúncio de problemas de transmissão que serão resolvidos tão logo que possível, como tantas vezes acontecia na realidade com as transmissões das estadias dos astronautas das missões Apollo na Lua…
A NASA pretende encobrir o acidente por causa do prestígio envolvido e concebe um plano, aproveitando os vários meses que a viagem de retorno da missão tomará, vinda de Marte. É criado, com a ajuda da cirurgia, um sósia perfeito do astronauta morto – o actor Monte Markhan (abaixo). Tudo parece correr bem, o regresso à Terra e a amaragem da cápsula é um sucesso, as cerimónias de boas vindas sucedem-se, excepto a mulher do astronauta que começa a desconfiar… O resto adivinha-se. Este filme de ficção espacial (embora com poucas cenas no espaço, que era o que então me motivava…) tornou-se-me memorável por causa da referência – subversiva! – à manipulação das imagens e das informação e ao facto de não devermos acreditar em tudo o que a televisão transmite.
UM SUPERSÓNICO NO QUINTAL
No princípio dos anos 70, o TU-144 (acima) era uma das coqueluches da engenharia aeronáutica soviética. O aparelho era um de dois únicos no Mundo – a par do seu grande rival, o Concorde anglo-francês – a ser concebido para o transporte comercial de passageiros a velocidades supersónicas, um tipo de aparelho designado pela sigla SST.
Porém, sem ter tido os problemas de exploração comercial com que o Concorde se defrontou no espaço aéreo dos Estados Unidos, o Tu-144 tinha outros mais, de cariz técnico: por exemplo, a insonorização interna em velocidade de cruzeiro era tão má que os passageiros mal conseguiam conversar com quem estava sentado ao seu lado…
Por essa falta de conforto, mas também por questões de segurança, e apesar de terem sido construídas 16 unidades do Tu-144, os seus voos comerciais apenas duraram sete meses, entre Novembro de 1977 e Maio de 1978, numa proporção economicamente desastrosa de (mais de) duas aeronaves construídas por mês de exploração.
Provavelmente, será por esse excesso que um desses exemplares envelhece hoje num quintal da cidade de Cazã. Não deixa de ser uma ironia que, naquele que outrora foi um dos países totalitários mais controlados do Mundo, haja uma aeronave que era avaliada – aos preços de então – em mais de 50 milhões de dólares…
Por essa falta de conforto, mas também por questões de segurança, e apesar de terem sido construídas 16 unidades do Tu-144, os seus voos comerciais apenas duraram sete meses, entre Novembro de 1977 e Maio de 1978, numa proporção economicamente desastrosa de (mais de) duas aeronaves construídas por mês de exploração.
Provavelmente, será por esse excesso que um desses exemplares envelhece hoje num quintal da cidade de Cazã. Não deixa de ser uma ironia que, naquele que outrora foi um dos países totalitários mais controlados do Mundo, haja uma aeronave que era avaliada – aos preços de então – em mais de 50 milhões de dólares…
…que possa jazer hoje esquecida numa cidade russa de província nas condições que as fotografias documentam. Depois do controle e do secretismo da era soviética, as fotografias desta negligência tornam-se mais uma metáfora sobre as consequências na Rússia da implosão do seu império refundado sob a égide do marxismo-leninismo.
21 março 2012
OS «THILOS KRASSMAN» DA FÍSICA TEÓRICA
Se os portugueses gostam de se ufanar quanto à sua capacidade de adaptação quando se instalam noutros países, será justo dar um destaque idêntico aos inúmeros casos de sucesso de quem faz o percurso inverso, i.e., vindo do estrangeiro, se instala em Portugal. Se, no título escolhi o nome de Thilo Krassman para tipificar essas pessoas, fi-lo por duas razões: porque, trabalhando em televisão, tratava-se de alguém nessas condições que possuía uma visibilidade muito superior aos dos demais; porque, tendo vindo para Portugal já adulto, apesar de décadas de prática, até ao fim da vida manteve um identificativo sotaque echtrrancheiro, não sendo menos acarinhado por isso.
Por outro lado, um blogue como o Herdeiro de Aécio, já com mais de seis anos, começa a ter história. Em Novembro de 2006, já aqui se publicava um poste cumprimentando os trabalhos teóricos de dois físicos portugueses de ascendência holandesa a trabalharem nas nossas universidades pelos seus trabalhos na dedução da existência de uma nova partícula subatómica. Pouco mais de cinco anos depois, o bom trabalho parece prosseguir e anunciam-se novas deduções quanto à existência de outras partículas por parte de um desses mesmos protagonistas, Eef van Beveren da Universidade de Coimbra – abaixo, à esquerda, na companhia de George Rupp do IST.
Numa época que parece dominada pela falta de confiança naquilo que se pode fazer com os recursos de que dispomos, em que até há governantes estarolas que chegam a apontar a emigração como uma solução dos problemas de emprego da juventude, têm muito mais valia estes exemplos, daqueles que vieram de fora para se conseguirem distinguir cá dentro, do que os exemplos clássicos da emigração, daqueles que foram de cá de dentro para se distinguirem lá fora… Vai sendo tempo de sermos pragmáticos e de levar às suas devidas consequências o ditado popular que estabelece que só fazem falta aqueles que cá estão...
Numa época que parece dominada pela falta de confiança naquilo que se pode fazer com os recursos de que dispomos, em que até há governantes estarolas que chegam a apontar a emigração como uma solução dos problemas de emprego da juventude, têm muito mais valia estes exemplos, daqueles que vieram de fora para se conseguirem distinguir cá dentro, do que os exemplos clássicos da emigração, daqueles que foram de cá de dentro para se distinguirem lá fora… Vai sendo tempo de sermos pragmáticos e de levar às suas devidas consequências o ditado popular que estabelece que só fazem falta aqueles que cá estão...
20 março 2012
AS VÍTIMAS DA INSURREIÇÃO
As duas fotografias deste poste são de insurrectos que foram vítimas da repressão do poder. Mas há quase tudo a separá-las para além dos 31 anos que medeiam entre elas. A vítima de Paris 1968 (acima, a fotografia é do turco Goksin Sipahioglu) é transportada de maca, com uma lesão sangrenta sobre cuja gravidade apenas podemos especular. Mas a sua cara de sofrimento quase se torna obscena quando a comparamos com as cinzas ainda fumegantes dos restos mortais – identificáveis pelas costelas – da vítima da Chechénia 1999 (abaixo, a fotografia é do russo Dmitry Beliakov). Podemos atribuir-lhes os mesmos nomes, mas o grau da repressão e o preço pago pelos vencidos torna certos episódios em meras brincadeiras de jovens mimados. O destino da vítima de cima terá sido uma cama de hospital, quiçá acompanhada das recriminações familiares, o da de baixo, na melhor das hipóteses, uma vala comum sem qualquer identificação.
UMA LIÇÃO QUE NOS CHEGA DO OUTRO LADO DO MUNDO
Esta derrota de José Ramos-Horta, logo na primeira volta das eleições presidenciais em Timor, uma derrota apesar do seu prestígio internacional (como Prémio Nobel da Paz 1996) e dos cargos que já desempenhara (primeiro-ministro de 2006 a 2007 e presidente desde então) faz-nos recordar como a recandidatura de Aníbal Cavaco Silva de 2011 foi facilitada.
É verdade que a realidade política de Timor é específica, muito diferente da portuguesa: Ramos-Horta fora eleito em 2007 à segunda volta pelos votos de uma coligação de todos-menos-a-Fretilin mas, todos aqueles que se queixam actualmente do desempenho deplorável do actual presidente português, também não se devem esquecer que, ao contrário do que aconteceu agora em Timor, as eleições a que Cavaco Silva se recandidatou (e venceu) em 2011 não contaram propriamente com o que de melhor haveria quanto à categoria dos seus rivais. E com esta observação, não pretendo criticar aqueles que então avançaram mas antes os outros, os que se resguardaram… - como, de resto, o próprio Cavaco Silva também fizera em 2001.
É verdade que a realidade política de Timor é específica, muito diferente da portuguesa: Ramos-Horta fora eleito em 2007 à segunda volta pelos votos de uma coligação de todos-menos-a-Fretilin mas, todos aqueles que se queixam actualmente do desempenho deplorável do actual presidente português, também não se devem esquecer que, ao contrário do que aconteceu agora em Timor, as eleições a que Cavaco Silva se recandidatou (e venceu) em 2011 não contaram propriamente com o que de melhor haveria quanto à categoria dos seus rivais. E com esta observação, não pretendo criticar aqueles que então avançaram mas antes os outros, os que se resguardaram… - como, de resto, o próprio Cavaco Silva também fizera em 2001.
19 março 2012
A OBJECTIVIDADE DO CRONÓMETRO
Ian Thorpe é um nadador australiano, pentacampeão olímpico, que falhou na sua intenção de regressar aos 29 anos à ribalta da modalidade, quando não se conseguiu qualificar para a selecção do seu país nos próximos Jogos Olímpicos de Londres, que terão lugar este Verão. Os cronómetros são objectivamente chatos, não ligam à importância dos nomes, e classificaram-no no 21º e 12º lugar nos 100 e 200 metros livres nessas provas de qualificação. O desporto tem sobre a arte a vantagem da objectividade, coisa que as agências de comunicação não conseguem contornar. É dispensável assim comentar um Mike Jagger que se passeia pateticamente pelos palcos como se ainda não tivesse ultrapassado a idade da reforma, ou então aguardar contritamente pela prometida (e nunca concretizada) próxima obra-prima literária de Umberto Eco, a tal que se seguirá ao Nome da Rosa…
18 março 2012
A ÚLTIMA ESTÂNCIA
Este conjunto de fotografias fazem parte de uma colecção a que o autor, o britânico Martin Parr, deu o título de The Last Resort (A Última Estância).
As fotografias foram tiradas nos princípios da década de 1980, estava-se então no apogeu daquilo que se viria a designar depois por thatcherismo.
As fotografias foram tiradas nos princípios da década de 1980, estava-se então no apogeu daquilo que se viria a designar depois por thatcherismo.
E o tema das fotografias da colecção eram os veraneantes de New Brighton, uma estância turística que se situava nos arredores de Liverpool …
...na outra margem do rio Mersey, que se atravessava de ferry, conforme a famosa canção cantada vinte anos antes por Gerry e os Pacemakers:
Só que, ao contrário da banalidade da letra da canção, as fotografias de Parr, seguindo o exemplo das de Cartier-Bresson nas margens do Marne, já em 1937,…
…são de uma realidade cruel, mostrando-nos o povo em todo o seu esplendor! Foram imagens que provocaram imensa controvérsia na época da sua publicação.
Por muito que se considerassem frontais, os britânicos não se queriam rever nestas imagens reais do seu comportamento nos seus tempos livres...
De resto, aquela era uma sociedade que ainda não se dispusera a assumir um fenómeno social novo, tipicamente inglês, como o hooliganismo…
Etiquetas:
Fotografia,
Música,
Reino Unido,
Sociedade
Subscrever:
Mensagens (Atom)