03 março 2012

«QUIS CUSTODIET IPSOS CUSTODES»?

Quem fiscaliza os que fiscalizam? A expressão, originalmente latina, costuma ser atribuída a Juvenal, um poeta cínico que viveu em Roma nos dois primeiros séculos da nossa Era. E uma outra Era, nova, esta agora sobre essa mesma vigilância aos vigilantes terá começado há precisamente 21 anos atrás, a 3 de Março de 1991, quando um civil, utilizando uma então inovadora câmara vídeo VHS (acima, um exemplar pioneiro datado de 1985), filmou as cenas do espancamento que um grupo de polícias aplicava a um condutor que fora detido e que estava no chão (vídeo abaixo).

A partir desse momento histórico, numa sociedade como a norte-americana, há muito assente na televisão e nas imagens que ela transmite, a polícia percebeu ter perdido a impunidade de Séculos que gozara no tratamento abusivo aos detidos. Além desta, a sequência dos acontecimentos veio a possibilitar uma outra lição histórica para o aparelho do Estado quando, querendo beneficiar também da sua benevolência, o sistema judicial absolveu todos os polícias acusados de agressão naquele vídeo, desencadeando o ultraje geral e os distúrbios de Los Angeles de 1992.

Começados a 29 de Abril de 1992, dia do anúncio público da absolvição dos quatro réus, os distúrbios, muitas vezes filmados em directo a partir de helicópteros (acima), duraram seis dias, causaram 53 mortos, milhares de feridos e prejuízos estimados em quase mil milhões de dólares. Por imposição da razoabilidade política, o assunto dos polícias teve que ser reapreciado, acabando com condenações, comprovando que, para parafrasear Clemenceau, há assuntos que são demasiado graves para os deixar entregues apenas nas mãos de juízes, procuradores e advogados…

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