20 março 2012

AS VÍTIMAS DA INSURREIÇÃO

As duas fotografias deste poste são de insurrectos que foram vítimas da repressão do poder. Mas há quase tudo a separá-las para além dos 31 anos que medeiam entre elas. A vítima de Paris 1968 (acima, a fotografia é do turco Goksin Sipahioglu) é transportada de maca, com uma lesão sangrenta sobre cuja gravidade apenas podemos especular. Mas a sua cara de sofrimento quase se torna obscena quando a comparamos com as cinzas ainda fumegantes dos restos mortais – identificáveis pelas costelas – da vítima da Chechénia 1999 (abaixo, a fotografia é do russo Dmitry Beliakov). Podemos atribuir-lhes os mesmos nomes, mas o grau da repressão e o preço pago pelos vencidos torna certos episódios em meras brincadeiras de jovens mimados. O destino da vítima de cima terá sido uma cama de hospital, quiçá acompanhada das recriminações familiares, o da de baixo, na melhor das hipóteses, uma vala comum sem qualquer identificação.

3 comentários:

  1. Sim, também concordo com o que diz sobre o Maio de 68 -- uma brincadeira de meninos mimados.
    Manipulados do exterior (URSS ?), os jovens agitaram-se o exigiram mais, tudo, o impossível...
    Eu era jovem nessa altura, e lembro-me perfeitamente do Maio 68, em Paris, e no ano seguinte, aqui, au Portugal.
    Eu, que já trabalhava e ajudava na economia familiar (meu pai gravemente doente, morreu em 71), não via com bons olhos aquele protestar só pelo protesto.
    Aqui ainda havia a questão da guerra colonial mas em França a questão da Argélia já estava encerrada.
    Dito doutro modo -- aqui os jovens tinham um pesadelo à sua espera (eu fui malhar com os ossos à Guiné), justificava-se a agitação; em França, só queriam fazer barulho (sejamos realistas, exijamos o impossível -- um bom slogan dessa altura).

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  2. Reza uma história – que não posso assegurar ser fidedigna – que de Gaulle terá perguntado ao seu próprio neto – cuja geração não suportara a derrota de 1940, a humilhação da ocupação (1940-44), a penosa reconstrução do pós-guerra ou ainda as fracturas da guerra da Argélia – o que é que a geração dele afinal queria?...

    Registe-se ainda uma ambivalência na forma como ainda actualmente os ideais daquela época são defendidos por aqueles membros daquela geração – pelos vistos, a sua! – que a viveram mais intensamente em Portugal: há uma exaltação das generalidades mas uma evasão das especificidades, nomeadamente no que respeita às doutrinas políticas (marxismos, leninismos, maoismos, trotskismos, bombismos…) que a esmagadora maioria deles vieram depois a professar…

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  3. Sobre os ideais daquela época, há um olhar nostálgico dos que a viveram.
    Compreende-se, éramos jovens, tudo era novo e até aquelas exigências mais disparatadas pareciam justas.
    Como lhe disse, não alinhei, não concordava talvez por olhar de fora para aquele imenso bruáá que saía das faculdades.
    Tive alguns familiares meus presos pela PIDE na sequência da agitação em Coimbra. Um deles, quase a acabar Medicina, foi incorporado como alferes de artilharia. Depois, lá viram que precisavam mais dele como médico, deixaram-no acabar o curso e logo a seguir seguiu para Angola.
    Quando, em 75, frequentei a Fac de Letras da UP, ainda vim a apanhar com estilhaços daquele movimento estudantil.
    Alguns profs eram até exilados que, em 68, viviam lá fora (por exemplo, o José Augusto Seabra, já falecido).
    As aulas eram formidáveis e eu só lamentava ser trabalhador estudante e viver a 150 km do Porto, não podendo participar tanto quanto eu gostaria.

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