07 maio 2021

EU GOSTO DE DEBATES, MAS NÃO TENHO A CERTEZA QUE ISTO SEJA UM DEBATE...

Ontem, o jornal Público publicou um artigo de opinião que a autora, Raquel Varela, pretendia ser o início de um debate refutando opiniões que haviam anteriormente sido produzidas por Susana Peralta e José Miguel Júdice sobre a questão de «quem deveria pagar esta crise». Hoje - e felicitemos desde logo Susana Peralta pela celeridade da sua resposta - a economista produz um texto seu em que responde à historiadora. E o jornal Público exulta, por ser o palco de um debate, intelectual, à boa maneira dos bons velhos tempos. Será mesmo um debate? A equiparação é do jornal, não é minha: embora conotando-as a uma mesma área política, tenho um respeito intelectual por Susana Peralta que não tenho por Raquel Varela. Uma é uma mais valia para o debate de ideias em Portugal, a outra é um embaraço. Nem sempre concordo com as conclusões a que a primeira chega nos artigos que escreve, sobretudo aqueles que são mais de opinião, mas isso não se compara com o que a segunda escreve, onde, como método, acha umas coisas, e os dados estatísticos que as desmintam são descartados como irrelevantes (já uma vez perdi tempo a denunciá-lo aqui no Herdeiro de Aécio). Na essência, a resposta de Susana Peralta consubstancia-se nisso: em explicar as fontes em que se apoiou para obter um retrato da distribuição da riqueza e dos rendimentos da população portuguesa, retrato esse que é distinto daquele (intuitivo?) que Raquel Varela traçou. Nos dois últimos parágrafos (que se podem ler abaixo), a economista ainda aproveita para demonstrar que a historiadora nem sequer compreende a distinção - essencial para efeitos de tributação - entre património e rendimento, contrapõe com os dados a que chegou para estabelecer onde se situa a média e acaba com uma estocada final, em que sugere que Raquel Varela se terá olhado ao espelho e assim mesmo se crismou a si própria de «classe média». Não é lá muito científico mas o Público não irá perder decerto este filet-mignon jornalístico, tanto mais que Raquel Varela é petulante demais para se ficar, e obtusa demais para se aperceber quando está a ser gozada pela audiência. Mas, apesar de o designarem assim, não tenho a certeza que isto esteja a ser um debate...

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