04 julho 2020

AS ELEIÇÕES DO «PUT UP» OU «SHUT UP»

4 de Julho de 1995. Sempre houve, e continua a haver, uma certa tendência entre os britânicos para se esquecerem que foi sob um governo conservador que o Reino Unido aderiu à CEE em 1973. Tal como sempre houve uma certa propensão para negligenciar o facto que essa adesão havia sido depois validada por um referendo em Junho de 1975, referendo esse promovido por um governo trabalhista. O que os acontecimentos conducentes ao referendo do brexit em Junho de 2016 parecem ter tornado agora nebuloso é o quanto todos os líderes conservadores depois de Margaret Thatcher tiveram que lidar com uma facção eurocéptica dentro dos tories que usava e abusava desse eurocepticismo para desafiar o titular do cargo, acusando-o(s) de fraqueza(s) diante de Bruxelas. Há 25 anos quem estava de serviço era o primeiro-ministro John Major e que por essa altura se cansara de tanta intriga sem os correspondentes desafios directos à sua liderança. Por isso, a 22 de Junho, fora o próprio John Major a forçar o desafio, convocando eleições internas para a liderança do partido conservador e desafiando os contestatários a concorrer: «apresentem-se ou calem-se» («put up or shut up») era o seu slogan de campanha, conforme se pode escutar no vídeo acima. As eleições internas, em que participaram todos os deputados conservadores (329 à época), tiveram lugar há precisamente 25 anos: John Major ganhou por uma larga maioria (66%). Mas a concorrência a sério tivera, mais uma vez, falta de comparência. O rival do primeiro-ministro era uma daquelas figuras que nem sequer consegue ser levada a sério. O secretário de Estado para Gales, John Redwood, que, mesmo assim recebeu 89 votos (27%), tornara-se conhecido (até fora do Reino Unido!) por, dois anos antes, e ao assumir o cargo, ter sido filmado a fingir ridiculamente que cantava o hino nacional galês, cuja letra nitidamente desconhecia... Há vinte e cinco anos, um palhaço apanhado em tais palhaçadas não tinha grandes perspectivas políticas. Hoje já não há tanto a certeza...

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