05 outubro 2015

A FILOSOFIA DA PEDRA FILOSOFAL

Pode ser quase um anátema criticar o poema de António Gedeão. Cantado ou declamado é daquelas obras que se gosta muito porque sim. Mas não sei quantos dos que o leram e/ou ouviram chegaram a reflectir logo sobre o primeiro verso: Eles não sabem que o sonho... É que, se atentos, se imporia de imediato uma pergunta: quem são os eles, ignorantes, a que Gedeão passa as culpas, por não saberem, por não sonharem? (Eles não sabem, nem sonham...) É que é tão genuinamente popular e português (e cobarde) atribuir as culpas a terceiros de uma forma difusa, sem precisar as culpas nem nomear culpados... Em A Pedra Filosofal o sonho parece algo compartilhado por uma enorme maioria sonhadora subjugada a uma minoria obtusa. Ora, não é assim nem nunca foi assim. Gosto muito de ouvir a balada cantada por Manuel Freire mas há que reconhecer quanto o poema é ideologicamente demagógico...

2 comentários:

  1. Exceptuando o António Teixeira e o jornal Avante, ninguém criticava o governo fascista português de forma explícita. Por razões que o A. Teixeira finge desconhecer, as críticas ao regime eram feitas através de metáforas ou expressões simbólicas. Acha que "Os Vampiros" também era uma cobardia de Zeca Afonso?

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  2. É capaz de ter sido assim como descreve. Se ele há uma Alice no País das Maravilhas, porque é que não pode haver um António no País dos Fascistas? Foi mesmo devido à fineza da “metáfora” e/ou “expressão simbólica” que a “Pedra Filosofal” alcançou a popularidade que alcançou, nada teve a ver com o facto de se estar em 1969 e a censura ter recebido instruções de tolerância. Estilisticamente, o processo criativo só ganhou com a frontalidade propiciada pelo 25 de Abril. Quem já esqueceu sucessos dessa época como o “Cão Raivoso” de Sérgio Godinho, que “ferrava fascistas” e “chamava-lhes um figo”?

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