31 janeiro 2015

AS BODAS DE PRATA DO PRIMEIRO MC DONALDS SOVIÉTICO

Há quase precisamente 25 anos, a 30 de Janeiro de 1990 e após uma dúzia de anos de elaboradas negociações entre a multinacional e as autoridades soviéticas, a Mc Donalds inaugurou o seu primeiro restaurante na União Soviética, em Moscovo. A fotografia acima evidencia a estranha semelhança estética das bandeiras das duas instituições, compostas por campos vermelhos de onde se realçam, a amarelo, símbolos universalmente reconhecidos, o M estilizado por um lado, a foice, o martelo e a estrela, por outro. E, pela perspectiva como a foto foi tirada, a primeira, em representação do capitalismo, parece prevalecer sobre a que sempre passara por representar o comunismo. Embora a loja fosse detida em 51% por capitais soviéticos, o dia da inauguração tornou-se um sucesso histórico nos anais da McDonalds, e isso aconteceu muito por culpa desse mesmo povo que fora uma referência incontornável do discurso comunista nos 70 anos precedentes. De uma previsão inicial de uma afluência de mil a três mil clientes para o dia da inauguração, a loja veio a registar o décuplo das estimativas mais optimistas (30.000), em filas compactas que davam a volta a praças e quarteirões adjacentes conforme se pode ver no vídeo abaixo. Nos dias seguintes a cena e as bichas repetiram-se. Em termos das aspirações dos trabalhadores, mesmo antes da desintegração da União Soviética, para quem o quisesse ler, o episódio tornara-se na exibição da vitória do capitalismo.

A história do comunismo ortodoxo em Portugal passou ao lado de tudo isto que aqui se observa e que se designava pragmaticamente por socialismo real, submetido a todas as suas deficiências funcionais e carências materiais. Só essas deficiências e carências explicarão esta adesão popular aos padrões de consumo ocidentais logo que se tornaram disponíveis, porque aquilo de que os soviéticos dispunham era mesmo muito mau. Por outro lado, no caso português, e porque todas estas conquistas das classes trabalhadoras nos passaram ao lado, tenho as minhas dúvidas, quando assisto às intervenções dos jovens parlamentares comunistas e os ouço com as suas propostas recicladas do que foi implementado sob aqueles regimes (as tais outras políticas...), se eles saberão o que foi a realidade concreta do que defendem e se - só para exemplo - alguma vez se dispuseram a observar com distanciamento como funcionavam os supermercados soviéticos em Moscovo (abaixo). É que ao ver-se a degradação das imagens abaixo apercebemo-nos porque, nessa fase, o soviético comum abraçou aquilo que o capitalismo lhe apresentava com tanto entusiasmo.

1 comentário:

  1. O P.C. da nossa praça é um "Trabant"... de estimação.
    Não serve para andar: é uma recordação de tecnologia ultrapassada e que só não vai para a sucata porque já existem poucos!

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