06 novembro 2011

O «RAID» de ZEEBRUGGE

Ao ocuparem a Bélgica no princípio da Primeira Guerra Mundial em 1914, os alemães fizeram de Bruges uma base para os seus submarinos – os famosos U-Boot. No apogeu, a base chegou a albergar 30 submarinos que se encarregavam de perturbar o tráfego dos Aliados, tanto a curta distância, no Canal da Mancha, como a média, no Oceano Atlântico. A base possuía uma característica que era ao mesmo tempo uma força e uma fraqueza: estava ligado ao mar por um canal com quase 10 km de extensão (acima, uma fotografia actual), o que a fazia suficientemente distante da costa para estar protegida de um ataque de artilharia dos couraçados da Royal Navy, mas a base também poderia ser facilmente neutralizada caso os Aliados procedessem a um desembarque anfíbio (ao estilo do de Galipoli) e bloqueassem o canal. Para o evitar, no molhe que protegia a embocadura do canal os alemães haviam colocado uma guarnição permanente com 6 peças de artilharia de costa além de múltiplas posições defensivas com metralhadoras.
Em Fevereiro de 1918, a Royal Navy decidiu-se por desencadear uma operação relâmpago onde as unidades anfíbias se superiorizassem de surpresa às defesas costeiras alemãs. Alcançada essa vantagem, navios previamente preparados introduzir-se-iam no canal afundando-se em locais críticos que o bloqueasse e impedisse o trânsito dos submarinos até que os alemães os conseguissem remover do fundo do canal. Mal se conseguissem os afundamentos, a pequena equipa de assalto retirar-se-ia para evitar toda a potência do mais que previsível contra ataque alemão. A operação acabou por ter lugar na noite de 22 para 23 de Abril de 1918. Mais do que a força, contava-se com a surpresa e a dissimulação: havia 32 pequenas unidades navais que estavam encarregadas de criar uma cortina de fumo artificial sobre o molhe onde desembarcariam os 733 fuzileiros navais (Royal Marines) da força anfíbia de ataque, que representavam quase metade (43%) dos 1.700 efectivos envolvidos na operação.
Os detalhes da batalha podem ser lidos na Wikipedia mas desde cedo se perdeu o elemento de surpresa, os alemães foram extremamente rápidos a reagir e os fuzileiros britânicos foram severamente castigados. Apesar de se ter procedido ao afundamento dos navios, nenhum deles o foi nos locais originalmente previstos para provocar maior dano. O objectivo da operação falhou: o tráfego dos U-Boot alemães nunca chegou a ser interrompido. Pior ainda foi mesmo o preço pago em sangue pelos britânicos: quase 600 baixas (⅓ dos efectivos empenhados) entre as quais 227 mortos. Do lado alemão não houve praticamente baixas: 8 mortos e 16 feridos… Numa guerra que ia a caminho do 4º ano e onde todo o peso da acção recaía no Exército, o Almirantado não se desorientou e fez um enorme estardalhaço à volta do raid, atribuindo nada menos que 8 Victoria Crosses (a condecoração britânica mais elevada) a quem nele se distinguira, naquele segredo britânico de arrancar momentos gloriosos aos mais embaraçososfiascos militares

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