07 outubro 2011

A «COISA» PROFÉTICA DE MAX

É um dos paradoxos sociológicos que os defensores mais acérrimos do status quo nas sociedades abertamente segregadas sejam aqueles que pertencem aos estratos inferiores do grupo dominante, no caso do exemplo que é retratado na fotografia acima os brancos das classes pobres. Para eles, mas também como regra geral, parece representar um consolo existir alguém em quem se possa descarregar e que nos esteja estatutariamente abaixo. Não será rigorosamente a mesma coisa, mas há muito de semelhante na atitude que se tem vindo a assumir colectivamente após a descoberta do volume desproporcionado do endividamento da Madeira. Porém, se a analisarmos friamente, há que reconhecer que a situação madeirense não passa afinal de um excesso da nossa situação nacional… Se as finanças nacionais estivessem bem a questão madeirense seria apenas uma contrariedade...
...e far-se-ia provavelmente metade do barulho. A situação financeira do país é séria, mas aliviar-nos-á a consciência o gesto de acusar quem tivesse abusado ainda mais da situação. Sobretudo porque, em termos de percepção da opinião pública, as animosidades se satisfazem contra o estilo mediático truculento e desafiador de Alberto João Jardim que, por sua vez, suscita as reacções simétricas como a da imagem acima… Mas os seus 33 anos no poder dever-se-ão tanto a ele como à conivência dos madeirenses mais a sua natural disposição para se alhearem dos problemas encapotados. Vem a propósito lembrar que, já em 1977 ainda antes de Jardim, Max cantava na televisão uma canção intitulada A Coisa, algo que o cantor nunca nomeia, substituído pelo rufar do bombo, e que no fim confessa não saber do que se trata – o que se torna numa profética metáfora do buraco orçamental ora exposto…

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