27 abril 2023

COMO ERA O PORTUGAL DO «BOTAS» E COMO O «BOTAS» GOSTAVA DE SE FAZER TRATAR NESSE PORTUGAL

27 de Abril de 1963. A data de 27 de Abril fora elegida pelo Estado Novo como a referência d«o aniversário da entrada de António Salazar para o Governo», como ministro das Finanças em 1928. Cumpria-se assim então o 35º aniversário dessa data. Vale a pena dizer que Salazar só se tornara presidente do Conselho de Ministros e começara a dirigir verdadeiramente o governo em 5 de Julho de 1932, quatro anos depois disso, mas a narrativa do regime precisava da fase antecedente, a do homem providencial que disciplinara as finanças públicas (foi Salazar no século XX e agora é Centeno no século XXI...). Esse 35º aniversário foi comemorado na Assembleia Nacional com um daqueles discursos enfadonhamente previsíveis e laudatórios «Há trinta e cinco anos entrava no Terreiro do Paço um homem que, por voto repetidamente expresso da Nação, ainda de lá não conseguiu sair. Eis um fenómeno de longevidade política para o qual não julgo se encontre paralelo no Mundo moderno (Fidel Castro ainda só estava no princípio da sua longevidade em Cuba...) que de certo há-de ter uma explicação profunda, que não será precisamente a ditada pela simplicidade apaixonada dos seus detractores habituais». Esta é a notícia da esquerda, mas, como se pode ler no lado direito, o visado aproveitara os dias que seriam do seu duplo aniversário (natalício e da entrada para o governo) para ir passá-los, na maior intimidade, a Santa Comba Dão. Nessa intimidade, aproveitara a ocasião para deslocar-se inesperadamente ao sanatório (estância sanatorial) do Caramulo. Esclareça-se que a visita não devia ter sido tão inesperada quanto isso, já que todos os seus detalhes, que incluía a visita a um aviário «especialmente o pavilhão das incubações», conseguiram ser publicados na edição do dia. Ao contrário dos discursos da Assembleia Nacional, que se ficou apenas pelo discurso do primeiro orador. Salazar gostava, como poucos, destas manifestações a que ele respondia com uma modéstia excessiva e um distanciamento que se podia facilmente confundir com desdém. Fora para Santa Comba Dão e contemplava à distância, como «Na residência do Chefe do Governo e no Palácio de São Bento foram hoje recebidos durante o dia numerosos telegramas e cartões de felicitações por motivo do 35º aniversário da entrada do sr. prof. dr. Oliveira Salazar para o Governo. Também por ali passaram muitas individualidades que deixaram pessoalmente os seus cartões de cumprimentos, bem como algumas senhoras a entregar ramos de flores.»

1 comentário:

  1. O Caramulo era gerido pelos Lacerdas,o João,mencionado na notícia,e o Abel.Um destes irmãos era afilhado do Salazar.Granja Avícola,Sanatórios,Pousada,era tudo deles.
    O Abel,morreu debaixo de um comboio,passagem de nível sem guarda,aqui em Águeda,quando se dirigia para um almoço da UN em casa do conhecido Homem de Melo (conde de Águeda)
    Há um museu Abel Lacerda que merece uma vista. No 1º andar vê-se pintura e escultura.Foi lá que vi um quadro do Picasso e do Dali,já passaram muitos anos. No r/c é um museu automóvel,onde há mais de trinta anos,se encontrava um Mercedes blindado,oferta do Adolfo ao Botas
    Abraço

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