27 agosto 2019

DOIS ATENTADOS NA IRLANDA QUE NOS FAZEM PERCEBER A DISTINÇÃO ENTRE O QUE É POLÍTICO E O QUE É MILITAR

27 de Agosto de 1979. No mesmo dia, o IRA promove dois atentados na Irlanda. No mais sangrento dos dois, montam uma emboscada a uma coluna de soldados britânicos. O local fora cuidadosamente escolhido, mesmo em cima da fronteira que separa a Irlanda do Norte da Irlanda, assim como o fora o encadeado da emboscada: primeiro haviam sido atacada a viatura de uma coluna que patrulhava; da explosão haviam resultado seis mortos e vários feridos; daí por uma meia hora e no local onde o IRA antecipou que os britânicos iriam instalar um PC para coordenar a evacuação dos feridos, detonaram uma outra bomba, que matou outros doze militares britânicos, incluindo um tenente-coronel e um major que estavam a comandar as operações de salvamento. A emboscada foi mais do que uma mortandade, foi uma carnificina impressionante: o método empregue - bombas de 350 kg - fez com que desaparecessem os cadáveres de algumas das vítimas. E no entanto, do ponto de vista técnico, militar, o atentado foi um sucesso do IRA e a passagem de um enorme atestado de incompetência aos militares britânicos, apanhados completamente desprevenidos, com as suas próprias rotinas operacionais a serem usadas contra si. Mas, para o IRA, a emboscada parecia ser apenas um recado entre profissionais. Porque, no mesmo dia, a organização terrorista irlandesa montara um outro atentado em que o visado era um membro da realeza britânica: lorde Louis Mountbatten (1900-1979). Mountbatten morreu quando explodiu uma bomba - esta muito menor: 25 kg - no seu barco de recreio, também ao largo da Irlanda. Com Mountbatten morreram também três dos seus acompanhantes e outros três ficaram seriamente feridos (a imagem acima é de uma reconstituição feita para um documentário). Mas, como parecia ter sido a intenção inicial do IRA, estas últimas, não os soldados, é que foram as vítimas politicamente relevantes e aquelas que a comunicação social deu destaque - especialmente lorde Mountbatten. Se a emboscada de Warrenpoint era um aviso para os profissionais, a bomba que visou Mountbatten era um aviso ás elites britânicas quanto elas não se podiam considerar a salvo. Quando do 40º aniversário dos dois atentados convém recordar o quanto o jornalismo frequentemente perde o que é mais interessante e importante numa história.

Sem comentários:

Enviar um comentário