23 de Agosto de 1939. A presença do ministro dos Estrangeiros von Ribbentrop em Moscovo tinha um significado evidente. Adolf Hitler conseguira - mais uma vez - adiantar-se àqueles que se queriam opor às suas ambições expansionistas. O preço a pagar por qualquer das partes naquilo que o Diário de Lisboa denomina por a aproximação germano-soviética, era ter de desdizer tudo aquilo que fora a propaganda política de comunistas e de nazis até então. Em Portugal não havia diários comunistas que mostrassem quão súbita era a cambalhota, mas o l'Humanité do comunistas franceses desse mesmo dia, era lesto em mostrá-la. Marx e, sobretudo, Lenine, que sempre tinham tentado dar uma aparência de racionalidade à análise e actuação política dos comunistas, eram nesse dia descartados dos valores pelos quais eles haviam dito bater-se, no altar do pragmatismo de Estaline. O marxismo-leninismo reverenciado tornava-se de uma penada numa designação oca, que até seria cómica não fosse a seriedade das circunstâncias em que a descoberta era feita, e o comunismo assumia-se - finalmente - como uma fé mais do que uma ideologia, onde as obras de Marx e de Lenine faziam o papel da bíblia para os católicos: uma catrefa de livros espessos e de encadernações bonitas que, mais do que não serem para ler, era preferível nem serem lidos.
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