08 março 2017

PELO ANIVERSÁRIO DA «BANHOCA» DE DON MANUEL FRAGA

A 17 de Janeiro de 1966 um bombardeiro B-52 norte-americano colidiu, quando voava sobre a costa mediterrânica de Espanha, com o KC-135 que o reabastecia de combustível numa manobra idêntica à da fotografia acima. Morreram os quatros membros da tripulação do avião reabastecedor e três dos sete membros da tripulação do bombardeiro. Teria sido mais um infortunado acidente de aviação, não fora os quatros engenhos nucleares que o B-52 transportava que, ao destruírem-se ou danificarem-se no impacto com o solo, arriscavam-se a contaminar radioactivamente os habitantes da povoação piscatória andaluza de Palomares. Três das quatro bombas atómicas vieram a cair em terra e foram rapidamente recuperadas pelos norte-americanos mas a quarta caiu no mar e a sua recuperação envolveu uma operação logística tremenda para a ir recuperar a 880 metros de profundidade, que durou dois meses e meio.

Mas isso é uma outra história. A que interessa aqui contar é que os explosivos convencionais de duas das outra três bombas detonaram quando do impacto, poluindo as redondezas com plutónio radioactivo. A situação tornou-se desconfortável para os norte-americanos que assumiram todas as despesas da descontaminação. E é para procurar contrariar os receios das consequências dessa temida poluição radioactiva que acontece o episódio que hoje se celebra aqui o 51º aniversário: a banhoca de Don Manuel Fraga. Manuel Fraga Iribarne era o ministro da Informação do governo franquista, um galego que aos 43 anos era uma estrela em ascensão no firmamento político espanhol, uma promessa da geração que se sucederia à do generalíssimo. E que queria passar por mais moderna e imaginativa que a enfadonha corte que rodeava Francisco Franco.

É nesse sentido que se compreende o gesto imaginado pelo ministro da Informação para descansar uma população receosa pelas consequências do desastre, mas também pelo impacto que esses receios poderiam ter na época balnear que se aproximava. E é assim que vemos Manuel Fraga, acompanhado pelo embaixador dos Estados Unidos em Espanha (noblesse oblige...), a irem tomar um banho revigorante a 8 de Março a uma praia (Quitapellejos) próxima de Palomares. O episódio, por ser inédito para a época e pela estoicidade dos intervenientes, ficou marcado no imaginário dos espanhóis e é ainda, de quando em vez, parodiado. Não se sabe quantos turistas terão ficado tranquilizados, mas parece verdade que o banho radioactivo não terá tido efeitos nocivos na saúde de Manuel Fraga Iribarne que morreu em 2012, quase nonagenário. Mas tudo isto, claro, só foram grandes proezas porque aconteceram muitos anos antes do professor Marcelo, que esse começa logo as suas banhocas a 1 de Janeiro...

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