13 março 2017

A DECISÃO «ESTRITAMENTE PESSOAL» DA FILHA DE ESTALINE

Há cinquenta anos era notícia de capa de jornal os episódios associados à deserção para o Ocidente de Svetlana, a filha de Estaline (acima). Se, politicamente, o episódio não tinha qualquer significado (ainda era no tempo em que não havia heranças de poder nos regimes comunistas...), em termos simbólicos, o acontecimento não podia escapar ao interesse da comunicação social ocidental. Em 6 de Março, Svetlana aproveitara uma viagem autorizada à Índia para pedir asilo político à embaixada dos Estados Unidos em Nova Deli. O assunto ribombara mas a União Soviética tardava em reagir. Tanto assim que foi só uma semana depois, a 13 de Março de 1967 e mostrando muita contrariedade, que a edição do Pravda daquele dia publicava um comunicado da TASS, desvalorizando o gesto e classificando-o como uma «questão estritamente pessoal». Estranha (e inverosímil) liberalidade esta, num país em que era obrigatório possuir passaporte para viajar no interior da própria União Soviética e em que as viagens ao estrangeiro eram todas cuidadosamente escrutinadas. Ironicamente, do outro lado da trincheira da guerra-fria, as autoridades norte-americanos deviam conhecer bem Svetlana e o carácter instável e volúvel da nova desertora. O futuro iria, de resto, confirmá-lo. Mas, por causa dessa imprevisibilidade e do risco dela se poder vir a voltar contra eles, não se mostravam entusiasmados em exibi-la como o troféu que a comunicação social do Ocidente desejaria. Também por ali o interesse era manter o assunto o mais discreto possível, o problema no Ocidente (que não existia no Leste) eram os interesses próprios da comunicação social.

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