Durante muitos milénios a economia mundial quase não cresceu, e mesmo os surtos de desenvolvimento localizado, como o associado ao Império Romano, incorporaram taxas de crescimento hoje negligenciáveis (0,2% ao ano).
(José Manuel Fernandes, Público, 15 de Março de 2013)
Mesmo faltando
corroboração de outras fontes, esta frase revela-se interessante por aquilo que expõe quanto à fundamentação teórica dos conhecimentos de quem a escreveu. De uma penada, José Manuel Fernandes mostra-nos a superficialidade do que aprendeu sobre História e sobre Economia. Sobre esta última, mostra não ter compreendido quanto indicadores económicos como o
PIB assentam em convenções contabilísticas que são difíceis de converter para outras realidades tecnológicas: como se contabilizará o custo mão-de-obra do trabalho escravo, por exemplo. E sobre História, deduz-se que José Manuel Fernandes nem terá percebido quanto escasseiam os dados demográficos e (ainda mais os) económicos antes do Século XIX. Se ele lesse livros que lhe dessem o devido
lastro ao que decerto
achará que sabe (como o da capa acima), descobriria no fim das suas 400 páginas que não lhe aparecera um número sequer... Para além destes há, de facto, estudos quantitativos sobre as economias antigas mas que não podem ser mais do que hipóteses de trabalho. Usá-los, e a preciosismos como
taxas de crescimento de 0,2% ao ano, é demonstrativo de que não se compreenderam as
raízes do argumento que se está a invocar. Por exemplo: o que se poderá dizer
com segurança sobre a taxa de crescimento da economia europeia no tempo de Carlos Magno?... Resposta: Nada. Estes são aqueles argumentos que, na célebre classificação de Wolfgang Pauli, são tão
estúpidos que
nem sequer estão errados.