05 março 2013

A ADESÃO DAS CAMISETAS LACOSTE AO ESPÍRITO DO MFA

Por tanto se cantar agora o Grândola, Vila Morena, a memória fez-me a partida de me levar de volta aos tempos em que primeiro conheci aquela música e a um episódio da altura, irrelevante então no turbilhão de acontecimentos desencadeados pelo 25 de Abril de 1974, mas que narrado hoje é capaz de se tornar significativamente engraçado. Mas comecemos a história antes disso, lá para a Primavera/Verão de 1973, quando a Lacoste® se decidira a lançar uma fortíssima campanha promocional das suas reputadas camisetas, identificáveis pelo seu famoso crocodilo.

A campanha também incluía rádio e televisão, terminando – este pormenor é importante para a continuação da história – com uma referência ao seu representante em Portugal, de seu nome Alberto Coronel. Mas atenção: talvez por razões familiares ou por outras, o apelido, idêntico à patente militar, era pronunciado de maneira personalizada, com todas as vogais abertas, à brasileira – córónel. Existindo então serviço militar obrigatório, três guerras em curso e mais de 200 mil homens em armas, houve quem suspeitasse que a razão para tal fosse uma preocupação de marketing

À luz dessas suspeitas, dizia-se que não conviria associar comercialmente uma marca cuja imagem apostava na selectividade com um conceito tão corriqueiro como eram então os militares. Mas também era possível refutar tal insinuação notando que coronel era uma patente diferenciada, a mais elevada entre os oficiais superiores… Como em tantas outras encruzilhadas com que então se defrontava Portugal, o 25 de Abril de 1974 veio também esclarecer esta pequena controvérsia sociológica quando do aparecimento dos anúncios televisivos da Lacoste® para a campanha Primavera/Verão de 1974.

Nesses meses subitamente revolucionários, para além do Grândola, Vila Morena, também o importador das Lacoste® pareceu ter assentado praça, passando a deixar-se tratar por Alberto Coronel, pronunciado agora com as vogais fechadas, à portuguesa, e se não integrado no espírito do MFA, onde predominavam patentes inferiores, pelo menos simpático para com as ideias da Junta de Salvação Nacional, onde as patentes eram mais homólogas. Foram alguns meses de grande unidade (até Setembro), onde não era só o povo a estar com o MFA, as camisetas Lacoste® também… Representadas por um Alberto coronel, que talvez fosse (ou não...) do MFA.

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