30 outubro 2021

A BOMBA TSAR

Se a Corrida Nuclear terá começado a 16 de Julho de 1945, quando os Estados Unidos realizaram o seu primeiro ensaio nuclear em Alamogordo, no Novo México, também se poderá dizer que ela terá atingido o seu apogeu – qualitativamente – em 30 de Outubro de 1961, há precisamente sessenta anos, quando a União Soviética realizou o maior de todos os ensaios nucleares de sempre ao detonar uma bomba que era 2.500 vezes mais potente do que a de Alamogordo. Depois desse teste, tendo a disputa pela qualidade atingido o limite do absurdo, a Corrida Nuclear transferiu-se para a quantidade de ogivas nucleares, como se pode ver no gráfico acima. O engenho que foi testado há precisamente 60 anos (foto acima: 27 toneladas), cuja designação oficial era RDS-220, fora alcunhada pela equipa que o construíra por Большой Иван (João Grande), mas veio depois a ser conhecida no Ocidente por Bomba Tsar (Царь бомба), nome que veio a pegar. Trata-se da maior arma nuclear jamais construída e arrepia-nos ainda mais saber que, na sua configuração original, ela fora concebida para produzir uma detonação que fosse equivalente a 100 Megatoneladas de TNT, o que seria correspondente ao dobro da energia (50 Megatoneladas) que foi efectivamente libertada durante o teste realizado. Apesar do carácter remoto do local escolhido para o teste (o arquipélago de Novaya Zemlya no Árctico - veja-se a localização assinalada acima), vários problemas de ordem técnica impediram que o potencial da arma fosse testado em pleno nas suas 100 Megatoneladas. Uma das questões importante era a dos resíduos radioactivos causados pela explosão que, naquela configuração, iriam atingir as zonas habitadas da própria União Soviética. Outro problema, não despiciendo, é que, com aquela potência, o mais provável seria que a tripulação do bombardeiro encarregue de lançar a bomba não tivesse possibilidades de sobreviver ao teste… Mesmo com a potência limitada em 50%, o resultado do teste impressiona (veja-se o gráfico comparativo acima). Os dados a ele referentes são superlativos: lançada de 10 km de altitude por um TU-95 modificado para o efeito, a bomba foi concebida para detonar quando atingisse os 4 km de altitude. A bola de fogo provocada pela detonação (abaixo) com cerca de 9 km de diâmetro pôde ser observada até 1.000 km de distância, os efeitos de choque por ela provocados na crosta terrestre puderam ser medidos por três vezes a dar a volta à terra e o cogumelo que se formou em consequência da detonação atingiu os 60 km de altitude… Embora o projecto fosse um enorme disparate, tanto do ponto de vista científico como do ponto de vista militar, como aliás o futuro viria a comprovar, Nikita Khrushchov (1894-1971), o líder soviético de então, tão exuberante quanto bronco, mas sempre politicamente arguto, não deixou escapar mais esta ocasião de humilhar os norte-americanos naquilo que eles tanto prezam: também nas bombas atómicas, os soviéticos passavam agora por ser os maiores (the biggest)…

2 comentários:

  1. Agradeço o elogio embora me escape a razão do lol, a causa para que o tópico tenha piada

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