15 outubro 2020

A RETIRADA DAS GUARNIÇÕES FRANCESAS DA FRONTEIRA SINO-VIETNAMITA

Outubro de 1950. Mais do que uma data precisa, o que aqui se quer evocar é todo um período que abrange toda a primeira metade do mês, em que as forças militares francesas haviam planeado retirar as guarnições que mantinham postadas ao longo da fronteira sino-vietnamita (vejam-se os mapas abaixo). A manobra justificava-se porque os vários destacamentos que guarneciam a Route Coloniale 4 (RC4 - estrada colonial nº4) haviam perdido a sua razão de ser, depois da vitória dos comunistas de Mao Zedong na guerra civil chinesa que havia terminado um ano antes. Dispostos para serem originalmente um bloqueio ao circuito logístico que, vindo da China, abastecia o Viet Minh, os vários destacamentos franceses que se aquartelavam ao longo da RC4, em cidades como Cao Bằng ou Đông Khê, tornaram-se, eles próprios, um problema, já que a movimentação das tropas e as colunas de reabastecimento eram consistentemente atacadas pelo inimigo. Em 1950, a primeira e mais extrema das duas guarnições mencionadas (Cao Bằng), já só era abastecida por via aérea. A operação de evacuação era, por isso, um processo de controlo de estragos, que vemos frequentemente camuflado atrás da famosa expressão retirada estratégica. Concebida para se processar num complexo sistema de colunas militares que se encontrariam a meio caminho e se apoiariam mutuamente, coberta mediaticamente por detrás da muito mais sensível Guerra da Coreia (onde, depois de Inchon, a vitória total parecia à vista), a operação veio a revelar-se uma derrota significativa para as armas francesas de que só gradual e discretamente se vieram a saber pormenores. As notícias acima, recolhidas de dias encadeados do Diário de Lisboa, são sempre muito discretas e parcas em pormenores mas o teor cada vez mais apreensivo dos títulos dá para perceber a gravidade da situação. O Viet Minh havia-se apercebido com antecipação das intenções dos franceses e concentrado os seus meios de combate, atacando o inimigo quando ele se tornou vulnerável ao abandonar os seus redutos defensivos, com uma vantagem de efectivos de 5 para 1, em condições de combate em que a superioridade tecnológica dos franceses não conseguiria colmatar a desproporção. Os números são discordantes, mas é razoável estimar que, dos 6.000 homens engajados do lado francês, só 10% (600) conseguiram chegar à região controlada; outros 20% foram aprisionados e os restantes 70% foram dados como mortos e desaparecidos. Apesar da vitória, o Viet Minh sofreu 30% de baixas entre os 30.000 homens engajados.

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