29 maio 2019

A FRANÇA «ETERNA» E O QUE DE PROFUNDO SE PODIA ESCREVER A SEU RESPEITO

29 de Maio de 1969. Para que os seus leitores pudessem acompanhar melhor a actualidade política francesa, que se preparava para a primeira volta das eleições presidenciais provocadas pela demissão do general de Gaulle, o Diário de Lisboa publicava um pequeno resumo recapitulativo dos principais partidos políticos franceses. Um exercício que, visto a esta distância de 50 anos, se torna engraçado, já que, de todas as formações ali nomeadas, e tomando em consideração os resultados das eleições europeias do passado fim de semana, apenas os partidos socialista (6,2%) e comunista (2,5%) subsistem (e com votações irrisórias). Aliás, estes cinquenta anos mostraram-nos o quanto se tornou uma tradição da direita francesa mudar de designação com frequência, como se fosse dirigida pelo pessoal do departamento de marketing de uma marca de refrigerantes ou de gelados. Mas nem tudo terá mudado tão radicalmente nestes cinquenta anos: numa outra página da mesma edição do jornal aparecia este texto abaixo, tradução de um original do Le Monde, assinado por Maurice Duverger e que cansava o leitor só de olhar para ele, pela densidade. Hoje denominá-lo-íamos de wall of text. No entanto, o título mostrava-se apelativo e chamava a atenção para uma questão pouco enfatizada: a de que o candidato Alain Poher representava a direita francesa que não se revia de todo no legado do general. Era uma abordagem que perturbava as tradicionais classificações esquerda/direita. Assim apresentado, o assunto e, sobretudo, o formato, eram demais para aquilo que o leitor mediano do jornal pretenderiam, embora peças densas como aquela prestigiassem as páginas das publicações que as acolhiam. Hoje o formato está aligeirado: convida-se o Pedro Adão e Silva para nos explicar o que é que o Maurice Duverger quer dizer com aquilo... ou então o Miguel Sousa Tavares ou a Manuela Moura Guedes, que é a mesma opção da anterior, só que comprada na loja dos chineses.

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