22 outubro 2023

A TROCA DE CIDADÃOS NA ÍNDIA PORTUGUESA

(Republicação)
22 de Outubro de 1943. Em Mormugão (Goa), dão-se por concluídos os procedimentos de mais uma permuta de cidadãos de países beligerantes que se encontravam do lado errado quando da eclosão da guerra. Neste caso, a permuta envolvia cidadãos de países aliados que se encontravam em territórios controlados pelo Japão e cidadãos nipónicos que residiam na América do Norte ou do Sul. Cada uma das partes transportava os cidadãos do inimigo num navio até um porto neutral escolhido por ambas, para aí proceder ao transbordo e identificação dos cidadãos entregues e recebidos. No caso da guerra na Ásia, Portugal desempenhava nestas operações um papel incontornável, pois era o único país que permanecera neutral e que dispunha de territórios e portos no Oceano Índico onde se podiam processar tais operações. Para não serem atacados pelos submarinos, os navios que as realizavam estavam enfaticamente identificados como se pode ver pelas fotografias acima. O navio usado pelos Aliados navegava até sob pavilhão sueco, o Gripsholm; o usado pelos japoneses era um antigo navio francês, o Aramis, que haviam rebaptizado de Teia Maru depois de o apresarem em 1942. A viagem deste último, desde a saída de Yokohama em 14 de Setembro até chegar a Mormugão um mês e um dia depois, explicará mais em concreto em que consistiam estas «trocas de cidadãos». Saído com 80 passageiros do Japão, foi embarcar mais 975 a Xangai a 19 de Setembro, 24 a Hong-Kong a 23 de Setembro, foi buscar mais 130 às Filipinas a 26 de Setembro, 27 ao Vietname em 30 de Setembro e ainda 289 a Singapura em 5 de Outubro. Ao chegar a Mormugão, em 15 de Outubro de 1943, o Teia Maru trazia 1.525 passageiros. Havia muitos membros do clero, padres e freiras, também missionários protestantes, também havia executivos de empresas norte-americanas que operavam na Ásia e respectivas famílias. A grande maioria era norte-americana (1.233), mas também havia canadianos (217), alguns britânicos, mas também cidadãos de outros países neutrais (15 chilenos) que haviam preferido abandonar os países que os albergavam. No dia seguinte chegou o Gripsholm, que havia realizado uma viagem semelhante, trazendo a bordo os 1.340 cidadãos japoneses que regressavam também ao seu país. Os dois navios ficaram acostados próximos, como a fotografia acima documenta, mas foi só três dias depois, a 19 de Outubro, após a identificação de todos os passageiros, que o transbordo de pessoas e bagagens teve lugar. Depois de conferido, o Teia Maru largou a 21 de Outubro para Yokohama, via Singapura e Manila, o Gripsholm fê-lo no dia seguinte (há precisamente 80 anos) para Nova Iorque, via Porto Elizabeth (na África do Sul) e Rio de Janeiro. Nesse dia a United Press publicava dois pequenos despachos em que dava conta da satisfação das duas partes pela forma como a operação tinha decorrido. Era um ponto a favor de Portugal.

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