Não se pode acusar Pedro Passos Coelho de ser um político rotundamente mentiroso. Agora que ele olhou para o nome do partido a que preside e descobriu que se chama social democrata, ter-se-á lembrado: e se experimentássemos dizer que no PSD somos social-democratas? Recorde-se que aquele seu livro de autopromoção, publicado faz uns anos, intitulava-se precisamente Mudar e é por isso que ele não mente, porque é isso que ele faz: muda. Muda ele e mudam os outros atrás dele. Muda também com coerência o apresentador do livro Mudar, o professor Rui Ramos, observador respeitado e imparcial da nossa realidade política e cujas crónicas do Observador já se nota estarem em fase de transição para a social democracia. O homem ainda acaba marxista e de braço dado com Manuel Loff numa qualquer manifestação pelos direitos dos trabalhadores... Mas a pressa de Mudar será mesmo de Pedro Passos Coelho, que a disputa da liderança tem de ser travada antes que o partido incorpore os potencias efeitos eleitorais perniciosos das descobertas que jornais como o Diário Económico andam a dar à estampa.
Durante décadas, habituei-me a que os comunistas possuíssem o exclusivo e guardassem o segredo de procederem às mais desavergonhadas inflexões bruscas de opinião - com eles, Hitler passou de besta a bestial de um dia para o outro em Agosto de 1939 para voltar a ser novamente uma besta em Junho de 1941. Para o conseguirem fazer, as palavras precisavam ser despojadas da sua substância: por isso qualquer comunista era capaz de afirmar sem se rir que era um democrata embora o seu propósito confesso, se chegado ao poder, fosse o de estabelecer uma ditadura (do proletariado)! Depois de quatro anos e meio a dirigir o governo mais ideologicamente liberal da História de Portugal, Pedro Passos Coelho imita o topete dos comunistas (lembram-se de quando ele queria privatizar a CGD?) a pretender aparecer-nos travestido de social-democrata. Mais do que vergonha, que isso percebe-se que não tem, terá este gajo alguma convicção?
Em mais de 40 anos de democracia, até agora, este foi, definitivamente, o pior Primeiro-Ministro que nos podia ter caído em sorte. E, como convém nunca perder a perspetiva histórica, seria sempre desajustado e injusto avaliá-lo apenas em função das circunstâncias e do momento que foi o seu, ou mesmo relativamente a quem o antecedeu ou sucedeu, porque o que nos deve importar é o avanço socioeconómico do país, face aos seus pares, registado durante o seu mandato. Também poderíamos ser tentados a julgá-lo pelo seu próprio enriquecimento pessoal e se, como em tantos casos de que ouvimos falar “lá de fora”, ele chegou ao Governo com uma mão à frente e outra atrás e o deixou revelando possuir valioso património e recursos financeiros. Mas será certamente ainda cedo para conhecermos todos esses pormenores, não podemos ainda saber quantos milhões ele não terá amealhado numa qualquer offshore, e, mesmo que assim não seja, sairá sempre muito mal visto face àquele outro senhor que usava botinhas, criava galinhas no quintal, e acabou enterrado em campa rasa lá para as Beiras. Há fixações, e fixações… cada um tem as suas. A mania de contar os tostões que se têm no bolso e adaptar os gastos em consequência, é uma atitude bacoca e ultrapassada; para que serviriam os Bancos se assim fosse?
ResponderEliminarO que eu estou aqui a comentar (e a criticar) não é o primeiro ministro que Passos Coelho foi, é o primeiro ministro transmutado de social democrata que ele agora anuncia querer vir a ser, numa próxima encarnação.
ResponderEliminarO que podemos apreciar dos últimos quatro anos e meio foi o número de vezes em que ele e o partido invocaram a social democracia, e em que situações substantivas a aplicaram em actos de governo. Eu acho que, só pela desfaçatez do golpe de rins, Pedro Passos Coelho não merece o retorno.
Ou, como diria um antigo primeiro-ministro embora a propósito de sequestros, não gosto deste género de inflexões, "é uma coisa que me chateia, pá!"
Um tipo sem quaisquer escrúpulos que já só engana quem quer ser enganado. Convém relembrar no que consiste a “social-democracia” na versão à Passos Coelho - http://www.cmjornal.xl.pt/nacional/politica/detalhe/passos-medida-mais-sensata-seria-a-de-baixar-salario-minimo.html -, pregada a partir de púlpitos “sociais-democratas” como “O Insurgente” (os tais que defendem o sufrágio censitário) e “O Observador", e posta em prática por esses grandes vultos da “social-democracia” que são Carlos Moedas, Maria Luís Albuquerque, Hélder Rosalino, Manuel Rodrigues, Bruno Maçães e Sérgio Monteiro.
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