06 julho 2015

O COLABORACIONISMO – DISCRETO – DOS HOLANDESES PARA A «NEUROPA»

Como aconteceu em todos os países europeus, também os Países-Baixos tiveram os seus movimentos de extrema-direita fascista, emergentes ao longo da década de 1930. Já aqui num poste anterior havia feito menção à Aliança para a Reconstrução Nacional (no original Verbond voor Nationaal Herstel – VNH) do general Snijders, mas o mais bem sucedido desses partidos foi, sem dúvida, o Movimento Nacional-Socialista (Nationaal-Socialistische Beweging – NSB), criado em 1931, cujo estilo e ideologia se ia inspirar mais directamente nos nacionais-socialistas da vizinha Alemanha. O equivalente local ao Führer chamava-se Anton Mussert (1894-1946). Nas únicas eleições livres...
...a que concorreu em 1937, o NSB recebeu 170.000 votos, correspondente a 4% da votação, num país onde há tradicionalmente uma proliferação de formações políticas com representação parlamentar (10 nesse ano). Mas o NSB distinguia-se dos demais por ser um partido militante, pois quase um terço dos votos recebidos (cerca de 50.000) era de militantes na organização. O NSB perdeu militância nos anos que imediatamente se seguiram até à invasão e ocupação alemã de Maio de 1940, quando passou a ser o único partido autorizado. O número de militantes cresceu até aos 100.000 durante a Guerra, o que correspondia a um em cada 30 adultos masculinos de um país...
...que contava então com 8,9 milhões de habitantes, e uma façanha que envergonhava em militância a União Nacional de Salazar num Portugal que tinha então 7,7 milhões... Estes números demonstram assim quanto o colaboracionismo – talvez também o oportunismo... – foi vasto entre os holandeses, numa proporção dificilmente reproduzida noutros países da Europa ocidental. Porém, e aí reside o sucesso da discrição dos holandeses, quando se faz o balanço daqueles anos, o exemplo maior do colaboracionista que trai a pátria é o do norueguês Vidkun Quisling, os melhores exemplos dos grandes julgamentos e execuções de colaboracionistas são os da França de Vichy...
...e aquilo que sabemos sobre os Países Baixos sob ocupação aparece dominado por episódios de resistência e pelo Diário de Anne Frank... Surpreendente, pois enquanto os franceses se censuram por ter permitido o extermínio de 30% da sua comunidade judaica de antes da Guerra, os holandeses descontraidamente ultrapassam o trauma de ter permitido que o mesmo tivesse acontecido a 60% da sua. Como se constata, o nível de colaboracionismo nos Países Baixos foi muito superior ao da esmagadora maioria dos outros países da Europa Ocidental, a habilidade está em ter sabido gerir a imagem histórica depois disso.

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