A reportagem é da Aljazzera e o facto de a locução ser em inglês (que não pretendo traduzir) confere um simbolismo reforçado ao seu conteúdo, e aos esforços de uma certa elite angolana em controlar por cá aquilo que se possa dizer sobre o que acontece lá. Para os mais antigos não é difícil registar no detalhe uma analogia interessante com os veneráveis serviços em português da BBC de outrora (entretanto extintos em 2011), que diziam lá de fora para cá para dentro aquilo que cá dentro não se podia dizer sobre o que cá se passava. E sem que Salazar, mesmo por interposta pessoa, os pudesse comprar...
30 junho 2015
O QUE É PRECISO PARA QUE UM ESCÂNDALO SE TRANSFORME NUM ESCÂNDALO
A notícia acima varreu os céus do princípio do mês como uma estrela cadente noticiosa em pleno dia. Vinda dos Estados Unidos, alguns órgãos a noticiaram mas sem terem querido explorá-la no seu potencial. Ou talvez não, se o fizessem seria contraproducente. Constata-se que a Transport Security Administration, por muito que faça parte da Homeland Security (entidade erigida depois do 11 de Setembro para lutar com outra eficácia coordenada contra todos os terrorismos), é um monumento à incompetência: 95% dos itens proibidos testados acabaram por entrar nos aviões? Parece ser a consagração da teoria que sugere que todo aquele ritual aparatoso a que os passageiros de avião são submetidos antes de embarcar se destina mais a tranquilizar os próprios, chateando-os, do que a assegurar verdadeiramente condições de segurança a bordo. Como já acontecera no 11 de Setembro, no dia em que os terroristas profissionais se quiserem tornar a apossar de um avião em voo, torná-lo-ão a fazer. Até lá dissuadem-se os amadores e intimida-se os estúpidos, mas não há qualquer volta a dar. Perante estas evidências costuma demitir-se o director do circo mas é pelo exposto que, vistas as coisas com um saudável distanciamento, não vale a pena dar projecção a um escândalo que nunca será resolúvel. É uma história que se presta a analogias.
AS ADOLF-HITLER-PLATZ E AS ADOLF-HITLER-STRAßE DE UMA EUROPA SINTONIZADA
De 1933 até 1942, originalmente na Alemanha propriamente dita e depois nas regiões anexadas dos países limítrofes, muita da toponímia urbana foi sujeita a um profundo revisionismo distinguindo os novos vultos do nazismo, a começar pelo Führer Adolf Hitler. A cena da fotografia acima é de 14 de Março de 1938 e a praça rebaptizada, previamente designada por Rathausplatz, situa-se numa Viena acabada de anexar no Anschluß. Seguir-se-iam muitas dezenas de outras placas em cidades e vilas fora da Alemanha, algumas curiosamente efémeras, como a de Mulhouse, cidade francesa da Alsácia (que veio a ser anexada pelo Reich em 1940), e cuja Rua do Selvagem – por sinal a rua comercial do centro da cidade – recebeu a distinção de ser a Adolf-Hitler-Straße por umas semanas, até às novas autoridades se aperceberem do sentido irónico a que a distinção se podia prestar...
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29 junho 2015
SOBRE A SIMPLICIDADE E A COMPLEXIDADE DAS DISCIPLINAS
Com um atraso indesculpável, mas a que espero que ainda se reconheça a intenção, assinale-se esta minha evocação do falecimento no início deste mês do professor António Manuel Baptista, que se recorda por ser uma das figuras emblemáticas da popularização mediática da Ciência nos primórdios da televisão e que, não sei porquê, a evolução das prioridades sociais me fez recorrentemente associar a Luís Freitas Lobo, uma outra figura emblemática, mas muito mais nova, da actualidade televisiva. Talvez pelo contraste, em que, enquanto o primeiro se aplicava em querer simplificar aquilo que me parecia ser intrinsecamente complexo (a Física), o segundo se esmera em complexificar aquilo que me parece ser intrinsecamente simples (o Futebol). Aliás, suponho que não será por acaso que as capas dos livros são como são: a que promove a Ciência usa os grandes vultos dela, a que promove(?) o Futebol destaca o próprio Freitas Lobo...
ESTA, COMO DIRIA O MEU AMIGO QUIM, É UM BOCADO ELABORADA E SEM LEGENDAS
- Smell that? You smell that?
- What?
- What?
- Napalm, son. Nothing else in the world smells like that. I love the smell of napalm in the morning. You know, one time we had a hill bombed, for 12 hours. When it was all over, I walked up. We didn't find one of 'em, not one stinkin' dink body. The smell, you know that gasoline smell, the whole hill. Smelled like... victory. Someday this war's gonna end...
28 junho 2015
A TRISTE E A AINDA MAIS TRISTE FIGURA DOS SOCIALISTAS FRANCESES, POR SEREM SOCIALISTAS E POR SEREM FRANCESES
Completar-se-ão proximamente 75 anos de um episódio que ainda hoje divide a França. A 10 de Julho de 1940, na ressaca da derrota francesa frente à Alemanha, numa sessão conjunta (Senado e Câmara de Deputados) da sua Assembleia Nacional reunida excepcionalmente em Vichy (devido à ocupação de Paris pela Wehrmacht), os parlamentares franceses votaram esmagadoramente pela concessão de poderes constituintes ao presidente do Conselho, o Marechal Philippe Pétain. O Estado Francês, que quase todos preferem actualmente designar por regime de Vichy, teve assim uma génese perfeitamente legitimada pelas instituições da III República, algo que se torna incómodo lembrar. Desde sempre, o resultado da votação tem sido interpretado e reinterpretado das mais variadas formas, conforme as simpatias políticas do intérprete. Mas há alguns factos indesmentíveis com que os socialistas franceses se fartam de contorcer sem poder desmentir: a) que Philippe Pétain recebeu aqueles plenos poderes de uma Assembleia eleita maioritariamente composta por parlamentares considerados de esquerda; b) que os votos favoráveis contados naquela votação representavam, apesar das vicissitudes de guerra, a maioria absoluta de todos os parlamentares (569 em 907) das duas câmaras; e c) que entre os 569 votos favoráveis a Pétain havia, ainda assim, uma maioria de votos de parlamentares considerados de esquerda e centro esquerda (286), votando ao lado de colegas de direita, centro direita ou sem filiação (283). Ou seja, quem gosta de enquadrar as questões políticas na eterna dicotomia esquerda/direita vê-se neste caso aos bonés, porque a conclusão que se impõe, com clarividência retrospectiva, é que uma substancial parcela dos parlamentares ditos de esquerda da Assembleia não estavam a perceber muito bem onde é que se estavam a meter com aquela votação. O problema do colaboracionismo da França com a Alemanha ir-se-ia mostrar, desde o princípio, transversal a todo o espectro da política francesa – não haviam os comunistas do PCF, por exemplo, aceitado até às últimas consequências a assinatura do Pacto entre Hitler e Estaline?... Conclua-se o parágrafo pelo óbvio: que em Julho de 1940 não se podia votar contra Hitler e que Pétain acabaria por se apropriar dos seus poderes ditatoriais fossem quais fossem as circunstâncias. Rebata-se com outra evidência: teria sido escusado legitimar assim a entrega desses poderes.
Isso foi no passado. No presente, a respeito doutra grande assembleia e no seu artigo de ontem do Público, José Pacheco Pereira, fustiga cruelmente os socialistas europeus pelo seu comportamento actual: «[O] Partido Popular Europeu, partido de Merkel, Passos e Rajoy e (...)os socialistas colaboracionistas que são quase todos os que os acolitam.» ou então «...o poder dos partidos do PPE e seus gnomos de serviço socialista...». Mesmo moderando a linguagem, e como aconteceu há 75 anos no caso do colaboracionismo com a Alemanha, fica-nos a sensação que entre os parlamentares socialistas europeus, anda tudo a apanhar bonés na atitude comum a adoptar por eles em relação à crise grega. Ainda muito recentemente, Martin Schultz, o presidente do parlamento europeu e também a cara mais conhecida desse socialismo europeu deixou-se apanhar numa troca de galhardetes com um eurodeputado grego do Syriza com ar de avozinho (acima), de onde só pôde sair mal na fotografia. Mas, para quem pense que a outra esquerda, a comunista (dialéctica), mostrar-se-á mais lúcida na estratégia e nos princípios políticos em discussão, pode desiludir-se acompanhando o comportamento do Partido Comunista Grego (KKE) que num dia convoca uma manifestação contra a austeridade para a frente do Parlamento grego para, no dia seguinte, e lá dentro, votar contra a proposta de realização de um referendo a esse respeito. Isto deixa o caminho aberto para quem, opondo-se ao projecto dito europeu e por muito que não gostemos de os ouvir, tem discursos (aparentemente) consistentes a esse respeito – caso da Frente Nacional francesa de Marine Le Pen. O que, por sua vez, torna, finalmente, ainda mais patética a conduta dos descendentes dos parlamentares da esquerda de 10 de Julho de 1940, personalizados na figura de um Manuel Valls que apela ao governo grego para regressar às negociações (abaixo). Numa confrontação em que não sabe muito bem o que há-de fazer, Valls não recolhe autoridade para apelar seja ao que for e faz uma triste figura de si a apanhar bonés por ser socialista mas também a apanhar ainda mais bonés por ser francês.
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O CALOR TÉPIDO DO MÓNACO
Este Sábado foi um dia quente (36ºC), mas não memoravelmente quente, tratou-se apenas de um preâmbulo do Verão recém-chegado. Mas, a propósito dele, lembrei-me de uma música kitsch francesa de outrora (1978) que se passava no Mónaco tórrido de calor e de paixão entre muitos graus – já não me lembrava quantos – à sombra. E agora percebam o meu desapontamento quando (re)descobri que os graus eram apenas...28º. Que a música era foleira, que a letra era pirosa (que a tradução abaixo nem sequer é fiel nem a beneficia), com tudo isso eu poderia contemporizar desde que o calor que envolvia os amantes fosse tão tórrido quanto o tom de voz do intérprete (Jean François Maurice). Mas uns míseros 28ºC, ainda que à sombra, são causa de protesto contra as minhas Memórias que deixaram escapar este detalhe crucial...
27 junho 2015
OS NUS, OS DESCASCADOS E OS EM PELOTA
A experiência mostrou-me que se deve fazer uma cautelosa separação entre
os nus (que têm pretensões estéticas) e as outras exibições de pessoas
completamente despidas. E entre estas últimas há aquelas com pretensões eróticas,
em que as pessoas, mesmo não aparecendo totalmente nuas, aparecem descascadas,
e há as outras exibições sem pretensão alguma, em que a expressão mais acolhida
para as designar será em pelota. Mas, apesar da ajuda destas definições, ainda restam
situações como as das fotografias deste poste, conceptualmente nebulosas
(embora visualmente - quase - tudo apareça à mostra), de nos deixar dúvidas de como
descrever as nudezes de acordo com o enquadramento estético que lhes queiramos atribuir: estão nus, descascados ou em pelota? A fotografia acima é
de Werner Mahler, a outra de Ute Mahler.
26 junho 2015
O ESPÍRITO DE SÓCHI
Sóchi é a cidade russa que sedeou os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, um evento que foi então muito fiscalizado (hostilmente) pela comunicação social norte-americana, sempre pronta a apontar os fracassos de organização – tipificado pelo instantâneo acima da cerimónia de inauguração dos jogos, quando um dos cinco anéis olímpicos não chegou a abrir. O reverso da atitude é que tanta hostilidade, antes e durante os jogos, acirrou ainda mais os habitantes da cidade a adoptar um espírito peculiar – que também é geneticamente russo – de resolver as dificuldades seja por que forma for.
Chuvas intensas têm caído na região, os rios transbordaram e a cidade encontra-se presentemente inundada (acima), incluindo o aeroporto. No resto do mundo, a inundação das pistas implicaria que o aeroporto fechasse, a suspensão das partidas, o desvio das chegadas para outros destinos. Em Sóchi isso parece apenas um detalhe de somenos. Atente-se, entre o encadeado de fotografias abaixo, na pose hirta da hospedeira que segura o cartaz para reunir os excursionistas – sapatinho dentro de água mas até parece uma sentinela ao túmulo de Lenine!
EXCELENTE TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO
Já se percebeu que, se Marco António Costa tinha a ambição de algum dia vir a ser o líder nacional do PSD, ele que esqueça. Depois de uma campanha destas – acima a capa da Visão desta semana – fica a demonstração da impressionante capacidade de movimentação de meios de quem não o quer ver em tal cargo. Porque ocupá-lo trás consigo o risco de chefiar o executivo, também eu não o quereria ver em tal cargo. Mas tenho muito mais curiosidade em saber quem está por detrás destas movimentações prospectivas para o dia seguinte ao da queda de Pedro Passos Coelho. Mais do que umas biografias apressadas de quem poderiam vir a ser os marquistas no cenário da vitória (agora cada vez mais improvável) de Marco António Costa no interior do PSD, revelar a identidade dos interesses que estão a fomentar estes artigos da Visão, isso sim, seria um excelente trabalho de investigação jornalística, antecipando os protagonistas da próxima guerra interna do PSD. Tenho a certeza que o público ia adorar, mas já se sabe que o jornalismo político não é necessariamente feito para vender mais exemplares...
MANU CHAO – INFINITA TRISTEZA
Aquilo com que os gregos do Syriza se podem contentar, em contrapartida pelo seu recuo em toda a linha (uma infinita tristeza), foi no terem convencido a opinião pública qualificada europeia (que ainda fosse ingénua...) que o embate entre a Grécia e a Tróica é político, como Paul Krugman o sintetizou. Conseguido isso, creio que não vale a pena ir tentar sacar mais qualquer coisa, fazendo-se de ingénuos, eles. Finalmente, no fundo da escala da relevância (e de outros atributos também), há a opinião do Camilo Lourenço, outra infinita tristeza.
25 junho 2015
PATRICK MACNEE (1922-2015)
Patrick Macnee era muito mais do que a personagem de John Steed, protagonista de uma série intitulada Os Vingadores de que nunca se perceberá de quê e contra quem se estão a vingar. Steed com o seu chapéu de coco e o guarda-chuva tornou-se a quintessência de se ser inglês, especialmente numa altura – na segunda metade da década de 1960 – em que a Inglaterra, sob Harold Wilson e os trabalhistas, se aplicava em fingir não ser o que sempre havia sido. Como quase parece tradição, a realidade encarrega-se de desmentir as aparências.
O exemplo televisivo do gentleman de pergaminhos irrepreensíveis foi afinal criado numa família muito moderna onde tinha uma mãe e uma tia, frequentou Eton mas foi de lá expulso, apesar de ser um dos mais emblemáticos actores ingleses de televisão adquirira a nacionalidade norte-americana há mais de 50 anos e residia na Califórnia há cerca de 40. A última vez que o vi, distinto como sempre, conduzia os Oásis ao volante do que parecia ser um London Cab (quando os irmãos Gallagher ainda partilhavam o mesmo carro!). Morreu hoje aos 93 anos.
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MOÇAMBIQUE - A DILUIÇÃO DAS NOSSAS RESPONSABILIDADES COLONIAIS
Hoje, dia em que se comemoram os 40 anos da independência de Moçambique, é um bom dia para sopesar devidamente os anos entretanto decorridos desde a data da concessão da independência à maior colónia portuguesa em África e registar de uma forma distanciada a progressão do país depois do fim do jugo colonial, com as consequências dele a diluírem-se cada vez mais à medida que os anos passaram. O Moçambique que existe actualmente – nos seus pontos fortes e nas suas fraquezas – já se deve praticamente todo aos moçambicanos.
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24 junho 2015
«SI LA GUERRE DE TROIE N’AURA PAS LIEU, IL Y A DES AUTRES GUERRES»
Há poucos dias o jornal francês Libération deu destaque a um relatório solicitado por um parlamentar (François Cornut-Gentille da oposição) sobre o grau de prontidão da Força Aérea francesa. Embora, a todos nós, leigos, nos faltem referências de que resultados se devem esperar, a resposta teve potencial para impressionar quem lê: na grande maioria dos modelos operados, a taxa de operacionalidade é inferior a 50%, incluindo os exemplares mais recentes e mais emblemáticos da aviação de combate de França, como é o caso do Rafale. É caso para nos perguntarmos quais seriam os resultados de um relatório equivalente feito à prontidão do material de voo da Força Aérea Portuguesa, e quão útil seria sabê-lo antes que a ministra Assunção Cristas, na senda do seu colega Nuno Crato, ainda proponha que a frota subutilizada vá fazer vigilância aérea das florestas, praias, colheitas ou outro lado qualquer. O pacifismo inerente à famosa peça de Jean Giraudoux (1935) já não contempla estes desenvolvimentos modernos.
COINCIDÊNCIAS NA CREDITAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS
Embora as redes sociais se manifestem, cada vez mais e mais veementemente, a respeito de quase tudo o que possa arruinar reputações, continuo a registar atentamente as ocasiões em que a comunicação social tradicional se concerta coincidentemente num tema que nos remete para alguém em particular, arrasando-o, como as redes sociais – fama sem proveito – ainda o não conseguem fazer. Miguel Relvas, por exemplo, há meses que andava a preparar o seu regresso. Ainda no princípio deste mês, os jornais anunciavam (o Observador fê-lo com um mês de antecedência) a edição de um livro seu apadrinhado por um who’s who de peso da sua área política: prefácio de José Maria Aznar, apresentação de José Manuel Durão Barroso, testemunhos de Fernando Ruas, Luís Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa ou Pedro Santana Lopes. Azar o de Relvas que, enquanto se aproximava a data fatídica, ressurgiu à superfície mediática a questão da concessão de títulos académicos por parte da Universidade Lusófona, nomeadamente a creditação de competências que permitiu que muito deles fossem obtidos de uma forma menos aplicada (em 8.680 casos, específica o Correio da Manhã). São milhares mas dá-nos para pensar logo num... No mínimo, ele há cada coincidência.
23 junho 2015
LONDRES, CAPITAL DE UMA POTÊNCIA VITORIOSA MAS EXANGUE
Está-se em Abril de 1945, a dias dos últimos combates da Segunda Guerra Mundal na Europa, e a fotografia aérea é de Londres, mostrando os arredores ainda destruídos da emblemática catedral de São Paulo. Na altura, serviria de consolação aos londrinos saberem que a rival Berlim, então em vias de se render, estaria em muito pior estado. Simbolicamente porém, esta é uma imagem demonstrativa de uma vitória que deixou o vencedor exangue. Na BD, Edgar Pierre Jacobs recupera precisamente as mesmas regiões circundantes à catedral para a última imagem com Blake & Mortimer da aventura O Segredo do Espadão.
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TRÊS NAZIS E MEIO
Berlim, Março de 1933. Os Nazis acabam de alcançar o poder e uma vitória eleitoral retumbante (mas sem maioria absoluta – 44%) nas eleições que tiveram lugar a 5 desse mês. A inércia, porém, ainda faz do partido um organização de contestação e de combate nas ruas, numa militância descoordenada. Estes militantes, que cantando hinos à porta do estabelecimento comercial acabam por o boicotar, são disso um exemplo. No letreiro por cima da entrada lê-se F. W. Woolworth Co. G.m.b.H. Estas quatro últimas letras são o equivalente alemão à nossa designação Lda., mas o resto é a designação de uma cadeia de lojas de retalho de origem norte-americana fundada em 1879 pelo milionário Frank Winfield Woolworth e que se expandira para a Alemanha. Haverá na atitude dos militantes um retoque de nacionalismo xenófobo que se torna inconveniente agora que os nazis passaram a ser responsáveis pelas relações exteriores da Alemanha - nomeadamente com os Estados Unidos... Esta mesma cena tornar-se-á impossível de repetir dali por uns meses – embora continue a ser tolerada, senão mesmo incentivada, à frente de lojas que fossem detidas por judeus. Uma nota final, responsável pelo título, é a diferença entre o militante mais à direita (de escuro) e os restantes: não aparece fardado nem enverga braçadeira e a sua postura é muito mais contraída, como se se tratasse de um transeunte desgarrado que foi cativado pela farra. Também por essa interpretação esta excelente fotografia – de que desconheço o autor – é uma sinistra demonstração da capacidade de arregimentação dos nazis nessa fase de ascensão do III Reich.
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22 junho 2015
CONTRIÇÃO POR CONTRIÇÃO
António Costa tem resistido a dizer uma frase tão curta como: “Desculpem, mas prometemos nunca mais levar o país à bancarrota”. Faz o inverso, negando a evidência passada.
Alguém pegou num texto de Manuel Villaverde Cabral e deu destaque a esta passagem. Eu bem sei que é defeito do jornalismo realçar a polémica em vez do bom senso mas, vamos admitir que a preocupação de Villaverde Cabral pela conduta de António Costa é genuína, vamos esquecer que lhe está a sugerir que assuma a responsabilidade colectiva pelas actuação passada do partido que dirige, vamos desdenhar a controvérsia quanto à repartição daquelas responsabilidades, e concentrando-nos na contrição pela contrição, ainda para mais formulada de uma forma tão expressiva, não me lembro de ter lido Villaverde Cabral a penitenciar-se alguma vez no passado pelas asneiras de juventude, pedindo desculpa pessoalmente por ter sido comunista e prometendo nunca mais regressar a tais desvarios ideológicos. Não é pelos votos, é só para merecer respeito por causa da sua trajectória política.
EUROPA: A TÁCTICA E A ESTRATÉGIA DA SUA EVOLUÇÃO
Hoje, e embora ainda não haja certezas de como o será, poderá ser um dia importante para a História da Europa. Tacticamente e a contar com as evidências, tudo indica que serão as forças centrípetas a ganhar o dia. Contudo, dei por mim a perguntar, fazendo o paralelo com o período napoleónico, a que fase do ciclo corresponderá os acontecimentos que se desenrolam. Creio que não será certamente o equivalente aos tempos que acompanharam a batalha de Austerlitz (1805), que se sente que o apogeu da ideia da construção europeia é algo que pertence já ao passado. Será o equivalente a algumas das grandes batalhas subsequentes, Jena (1806), Friedland (1807) ou Wagram (1809) em que Napoleão se viu obrigado a reafirmar a sua hegemonia sobre o continente e sobre rivais recalcitrantes? Ou será a Grécia uma espécie de conflito de usura como o que os exércitos franceses sofreram na Península Ibérica (1808-14)? Todos concordarão que ainda não terá chegado o período da Campanha da Rússia (1812), muito menos as grandes batalhas, a de Dresden ou a das Nações, que a supremacia de efectivos aliados tornava de desfecho imprevisível na Campanha de 1813. Mas a minha convicção é que, estrategicamente, hoje como há duzentos anos, e por causa das acelerações dos últimos vinte anos, as forças centrífugas vão acabar por prevalecer e a União Europeia arrisca-se agora a terminar como uma concha oca de uma ideia boa mas mal implementada. Isto de erigir um bloco imperial na Europa, como o demonstraram os romanos há vinte séculos (abaixo), tem que ser feito a um ritmo mais espaçado, contando com a aceitação das populações e não apenas com a de algumas elites.
RONALDO O OBSERVADOR
O que me fez gostar de Ronaldo foi a sua técnica de drible. Ao contrário dos outros magos brasileiros, que pareciam ter um íman dentro da bota, as bolas com o Ronaldo quase pareciam estar num condomínio entre ele e os defesas, só que quando ele progredia, havia um embrulho entre atacante e defensores e no fim era ele que aparecia sempre com a bola controlada, ainda que pelo meio da bagunça ela tivesse estado a metro e meio de si. A relação do jornal Observador com o governo faz-me lembrar a do Ronaldo com a bola: o apoio ao governo aparenta ser tão desprendido quanto o domínio da bola pelo Ronaldo, mas quando chega a altura de defrontar os defesas, o jornal, por muitos considerandos dispersivos que exiba, mostra para o que é que serve e que o resto não passou de simulações para entreter a equipa adversária.
O PREC DA DIREITA - 2
O secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, nasceu em 1974. O sinal em cimento da fotografia acima já seria então uma imagem familiar nas nossas estradas e ele teria quanto muito um ano quando das nacionalizações maciças das empresas de transporte e da sua fusão na Rodoviária Nacional. E, de entre os inúmeros pecados que se podem assacar a essa empresa, a despreocupação em manter uma rede nacional de transportes rodoviários não terá sido um desses pecados. A haver problemas nos serviços – e havia-os, muitos, múltiplos – eles deviam-se mais ao desempenho individual dos funcionários de uma empresa enorme que nascera imbuída de um espírito laxista do que à postura institucional de uma organização preocupada em reduzir os serviços para destinos considerados deficitários, como muito anos depois veio a acontecer. Só posso especular sobre a frequência com que, durante a infância na sua Mangualde natal, Sérgio Monteiro terá sido utente dos serviços da transportadora rodoviária única e que memórias guardará do serviço prestado. Mas não é aceitável ouvi-lo dizer, quarenta anos depois:
As afirmações de Monteiro possuem uma ideologia subjacente e essa não é criticável (há argumentos atendíveis para que os grandes sistemas de transporte metropolitano sejam suportados pelas metrópoles que servem); apelam para uma conflitualidade entre a grande e a pequena urbe e essa, porque é forçada (Mangualde é um concelho médio com 20.000 habitantes), é de um gosto no mínimo duvidoso; mas, sobretudo, são falsas porque o que ele possa saber bem é que nasceu depois do tempo das populações da Mangualde que invoca terem tido transporte público organizado que, suponho, continuam a manter. Querendo passar por ser um orgulhoso filho da terra, Sérgio Monteiro devia sabê-lo; em alternativa, sabendo-o está a ser demagogo. É por estes pormenores que há que reconhecer como o discurso político actual de figuras governamentais como Sérgio Monteiro se parece aproximar, estranhamente, de outros episódios, do lado oposto do espectro político, em que o passado se podia tornar num período imprevisível.
21 junho 2015
«HÁ QUE VIOLENTAR O SISTEMA»
...e, por ter acabado de mencionar abaixo um saudoso programa experimentalista de televisão cujo título não nos iludia (Obrigatório Não Ver), permitam-me matar saudades de um outro fenómeno da mesma época cuja força residia também toda na honestidade do título, como seria timbre naquela época pós-revolucionária: a canção dos Aqui d’el Rock, Há que Violentar o Sistema (1978). Considerada a actualidade europeia, torna-se oportuno recuperar tal título e atribuir o propósito (o de violentar o sistema...) ao governo grego, a Tsipras e a Varoufakis. Advirto porém o leitor que há uma tal distanciação entre a qualidade do título e o restante que sugiro ao leitor ficarmo-nos pelo título e que deixemos este exemplo pioneiro do punk-rock em Portugal repousar em paz...
OBRIGATÓRIO NÃO VER
Eu nunca me esqueço de não ver o programa semanal de Marques Mendes. Mas já percebi estar montada uma máquina que, depois da sessão, repega alguma coisa daquilo que Marques Mendes haja dito de dentro do caixote do lixo do desinteresse, dando-lhe a aparência que uma qualquer coisa por ele dita foi importante. Ontem foi sobre António Costa (acima) mas tenho a certeza que já ninguém se lembrará do que tão importante ele dissera na semana passada. Ou na anterior. Metaforicamente, isto não é apenas andar aos restos pelos caixotes; é fazê-lo batendo exuberantemente com a tampa metálica do caixote de lixo para que faça muito barulho... O título do poste foi recuperado de um programa experimentalista de televisão dos finais da década de 70. O melhor do programa era a honestidade do título... e devia ter uma audiência e influência parecida com as do programa de Marques Mendes.
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20 junho 2015
AS LEITURAS DE CADA UM(A)
O pretexto próximo para este poste em jeito de reflexão foi uma passagem significativa de um debate ocorrido há duas semanas entre Michel Onfray e Éric Zemmour. Por durar mais de uma hora e por decorrer em francês considero pretensioso inseri-lo aqui como sugestão ao leitor. Para quem tiver curiosidade e o quiser ver pode utilizar esta ligação. Gostei francamente do debate. Michel Onfray é um filósofo e Éric Zemmour será aquilo que em Portugal se designaria por politólogo, ambos cuidadosos na projecção da sua imagem mediática, imagens que se reflectem nos sucessos editoriais das obras que escrevem. Mas a passagem que me marcou nada teve a ver com o que escreveram, mas com aquilo que leram pois, por duas vezes durante o debate, ambos se sentiram na obrigação de vincar enfaticamente que haviam lido as obras sobre as quais elaboravam, respectivamente o Alcorão e A Minha Luta. E aquilo que qualquer um deles dizia, apesar das suas discordâncias recíprocas, mostrava que o haviam feito. É evidente que, em abstracto, não serão as leituras que os qualificarão com a autoridade para irem para ali discorrer, mas considero significativo que tenham sentido a necessidade de o acentuar, num reconhecimento do que pode ser a comunicação mediática da actualidade, onde se aceita que uns convidados em estúdio possam discorrer sobre o Islão ou o nazismo sem terem lido sequer os livros fundamentais das ideologias sobre as quais foram convidados a pronunciar-se.
Serve para exemplo concreto de um programa típico do género acima descrito aquele que teve o recente episódio da saída intempestiva de Manuela Moura Guedes. Não foi apenas a impertinência da pergunta (esclarecível por um qualquer livro de macroeconomia nos capítulos em que aborde o keynesianismo), foi a incapacidade de, entre as restantes, alguém lhe poder dar uma resposta fundamentada ainda que desdenhosa.
19 junho 2015
...AGORA EXPLIQUEM LÁ ISSO AO PORTAS.
Confesso que não ouvira falar de Laurence Ball da Johns Hopkins antes de o ler citado pelo Público, quando de uma conferência que veio proferir a Portugal em Maio passado. Mas o conteúdo da citação repescada da entrevista faz todo o sentido: é que haverá de facto alguma coisa errada no mundo se começamos a chamar um sucesso a uma economia com 13% de desemprego. Agora só falta explicar isso ao Paulo Portas e ao Pires de Lima que devem ter feito os seus mestrados de economia numa universidade diferente.
OS «TOP TEN» OPORTUNOS
É sempre admirável a coincidência como estes rankings sobre as melhores companhias de aviação do mundo aparecem publicados na nossa comunicação social precisamente quando da privatização da TAP. Só se perde em admiração para a busca do espaço que as notícias dedicam à ficha técnica e à explicação de como o ranking foi elaborado – que é normalmente nenhum. É por causa destas transparências classificativas que me ocorre lembrar por que nunca aconteceu que uma canção portuguesa tivesse ganho o euro-festival da canção: são classificações que sempre dependeram sobremaneira de factores exógenos à valia musical das canções concorrentes. Mesmo assim, suponho que seria interessante criar um destes rankings semanais onde, em votação aberta, se elegesse a tentativa de manipulação da opinião pública mais desajeitada da semana: era uma forma de dar notoriedade às agências de comunicação, que elas bem merecem que se saiba o que andam por cá a fazer.
18 junho 2015
...E DURANTE WATERLOO
Dois dias depois de se terem travado as batalhas de Ligny e de Quatre Bras na Valónia (veja-se a minha entrada ...antes de Waterloo), os exércitos de Napoleão Bonaparte haviam progredido uns cem quilómetros para Norte perseguindo prussianos e anglo-holandeses. O dispositivo francês modificara-se entretanto: o grosso dos efectivos concentrava-se agora a ocidente e era contra as tropas do Duque de Wellington que Napoleão iria procurar alcançar a próxima vitória. Desta vez competira aos corpos de exército sob o comando do Marechal Grouchy encarregar-se de marcar a retirada do exército prussiano de von Blücher, procurando-o segurar para não interferir na batalha contra os anglo-holandeses. Mas Grouchy falhou. Na batalha do Wavre, travada simultaneamente com a de Waterloo a 18 de Junho de 1815, só um dos corpos do exército prussiano (o de von Thielmann) enfrentou defensivamente os de Grouchy. O resto do exército prussiano conseguiu precipitar-se em auxílio de Wellington. Por isso a premência dos franceses em derrotar os seus inimigos em Waterloo antes da chegada dos prussianos. Em Waterloo – e a situação táctica raramente é apresentada pelos britânicos nesta sua crua realidade – Wellington só precisava de não perder para que vencesse, porque o tempo estava do seu lado, ou seja, enquanto mantivesse o empate tratava-se de uma vitória. E os britânicos aguentaram até à chegada dos prussianos, ao fim da tarde, a começar pelo corpo de exército de von Bulow. Só aí Napoleão se resolveu a arriscar o tudo por tudo e mandar avançar a Velha Guarda...
Mas o mais importante do quadro inicial com o Teatro de Operações (TO) da campanha de 1815 (clicar em cima), nem sequer será o mapa táctico com as quatro batalhas travadas aos pares em 16 e 18 de Junho de 1815 assinaladas a amarelo. Existe um pequeno resumo do lado direito – também assinalado a amarelo – que mostra as reservas da 7ª coligação contra a qual Napoleão teria que se defrontar mesmo se vencesse em Waterloo, onde se contam nomeadamente os exércitos russos de 150.000 homens de Barclay de Tolly e os austríacos de 210.000 homens de Schwarzenberg. A História é feita do que aconteceu, e o que aconteceu é que foram os britânicos a derrotar Napoleão nesta sua tentativa de retorno, mas a verdade é que a situação estratégica dos franceses era desesperada, obrigados a vencer todas as batalhas onde se engajassem até derrotaram as quatro grandes potências da coligação: Reino Unido, Prússia, Rússia e Áustria e a tarefa ainda estava muito no princípio. É verdade que a Europa depois de 1815 teria sido uma Europa muito diferente se a derrota definitiva dos franceses tivesse tido lugar diante dos austríacos ou dos russos no Outono de 1815 ou já em 1816, diante de uma coligação de ambos ou de qualquer dos dois com os prussianos, mas seria definitivamente uma Europa sem Napoleão – desterrado, quiçá, para a Sibéria em vez de Santa Helena.
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EVOCAÇÕES DE DISPARATES GLOBALIZADOS TÃO GRANDES QUANTO OS PASTÉIS DE BACALHAU COM QUEIJO DA SERRA – 1
Em 1974, um quarteto de suecos (com uma norueguesa) concorre ao Eurofestival com uma canção cantada em inglês, invocando de forma assaz ligeira (veja-se a letra abaixo) a batalha de Waterloo de que, por coincidência, hoje se comemora o bicentenário.
My, my, at Waterloo Napoleon did surrender.
Oh yeah, and I have met my destiny in quite a similar way.
The history book on the shelf. Is always repeating itself
Waterloo - I was defeated, you won the war
Waterloo - Promise to love you for ever more
Waterloo - Couldn't escape if I wanted to
Waterloo - Knowing my fate is to be with you
Waterloo - Finally facing my Waterloo
My, my, I tried to hold you back but you were stronger
Oh yeah, and now it seems my only chance is giving up the fight
And how could I ever refuse
I feel like I win when I lose
Waterloo - I was defeated, you won the war
Waterloo - Promise to love you for ever more
Waterloo - Couldn't escape if I wanted to
Waterloo - Knowing my fate is to be with you
Waterloo - Finally facing my Waterloo
So how could I ever refuse
I feel like I win when I lose
Waterloo - Couldn't escape if I wanted to
Waterloo - Knowing my fate is to be with you
Waterloo - Finally facing my Waterloo
Oh yeah, and I have met my destiny in quite a similar way.
The history book on the shelf. Is always repeating itself
Waterloo - I was defeated, you won the war
Waterloo - Promise to love you for ever more
Waterloo - Couldn't escape if I wanted to
Waterloo - Knowing my fate is to be with you
Waterloo - Finally facing my Waterloo
My, my, I tried to hold you back but you were stronger
Oh yeah, and now it seems my only chance is giving up the fight
And how could I ever refuse
I feel like I win when I lose
Waterloo - I was defeated, you won the war
Waterloo - Promise to love you for ever more
Waterloo - Couldn't escape if I wanted to
Waterloo - Knowing my fate is to be with you
Waterloo - Finally facing my Waterloo
So how could I ever refuse
I feel like I win when I lose
Waterloo - Couldn't escape if I wanted to
Waterloo - Knowing my fate is to be with you
Waterloo - Finally facing my Waterloo
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EVOCAÇÕES DE DISPARATES GLOBALIZADOS TÃO GRANDES QUANTO OS PASTÉIS DE BACALHAU COM QUEIJO DA SERRA – 2
Desde 1942 que a Sogrape se impôs com aquela que será a marca comercial de vinho português mais conhecida por todo o mundo, o Mateus Rosé, numa garrafa estilizada em formato de guitarra, exibindo um rótulo atrativo mostrando o solar tradicional de Mateus e um conteúdo - um vinho rosé - que o português médio não conhece e, quando conhece, não consome por considerar caro e uma zurrapa.
EVOCAÇÕES DE DISPARATES GLOBALIZADOS TÃO GRANDES QUANTO OS PASTÉIS DE BACALHAU COM QUEIJO DA SERRA – 3
Em 1978, uma banda de caribenhos produzidos por um alemão criou um êxito musical a propósito de um episódio sórdido da História da Rússia, a do monge Grigori Rasputin (1869-1916).
There lived a certain man in Russia long ago
He was big and strong, in his eyes a flaming glow
Most people looked at him with terror and with fear
But to Moscow chicks he was such a lovely dear
He could preach the bible like a preacher
Full of ecstacy and fire
But he also was the kind of teacher
Women would desire
RA RA RASPUTIN
Lover of the Russian queen
There was a cat that really was gone
RA RA RASPUTIN
Russia's greatest love machine
It was a shame how he carried on
He ruled the Russian land and never mind the czar
But the kasachok he danced really wunderbar
In all affairs of state he was the man to please
But he was real great when he had a girl to squeeze
For the queen he was no wheeler dealer
Though she'd heard the things he'd done
She believed he was a holy healer
Who would heal her son
(Falado:)
But when his drinking and lusting and his hunger
for power became known to more and more people,
the demands to do something about this outrageous
man became louder and louder.
This man's just got to go! declared his enemies
But the ladies begged Don't you try to do it, please
No doubt this Rasputin had lots of hidden charms
Though he was a brute they just fell into his arms
Then one night some men of higher standing
Set a trap, they're not to blame
Come to visit us they kept demanding
And he really came
RA RA RASPUTIN
Lover of the Russian queen
They put some poison into his wine
RA RA RASPUTIN
Russia's greatest love machine
He drank it all and he said I feel fine
RA RA RASPUTIN
Lover of the Russian queen
They didn't quit, they wanted his head
RA RA RASPUTIN
Russia's greatest love machine
And so they shot him till he was dead
(Falado:) Oh, those Russians...
17 junho 2015
SANTA CASA SANTA
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa teve resultados líquidos
positivos de 4,9 milhões de euros, anunciou aqui há uns dias em conferência de imprensa Pedro Santana Lopes. Não me recordo de outra apresentação com enfâse semelhante
em algum dos anos anteriores após Pedro Santana Lopes ter assumido o
cargo de Provedor em Setembro de 2011. Mas aquilo que considero mais interessante
no relatório, e que porventura parece não ter sido explicado...
...pelo Provedor durante a sua apresentação, é o que é apresentado no relatório a partir da página 288 e seguintes (já nos anexos...), classificado como Alterações nas
Políticas Contabilísticas. O impacto de tais alterações terá sido repercutido
no exercício anterior (2013) e não no exercício ora apresentado (2014) mas,
mesmo assim, é possível quantificar essas repercussões na imagem contabilística
da instituição quando se comparam dois quadros que se apresentam mais abaixo.
A SCML reconhecera ter tido um lucro líquido de 1,1 milhões de euros no exercício
de 2013 quando da apresentação de contas do ano passado (no quadro abaixo),
agora reconhece que afinal terá tido naquele mesmo exercício um lucro
(reexpresso) algo superior: 9,6 milhões de euros, conforme se vê no quadro
seguinte, do relatório apresentado há dias. Não restam dúvidas que estes 8,5
milhões de diferença, mesmo retroactivos, transmitirão decerto uma outra imagem
da instituição.
O que é bizarro em tudo isto é eu não ter encontrado nenhum órgão de
informação que, noticiando a apresentação das contas, tivesse chamado a atenção
para esta subtil modificação do histórico financeiro da instituição. Decerto
que não haverá nada de ilegal no ajustamento que foi feito (as contas são
auditadas), mas politicamente o Provedor continua a ser Pedro Santana Lopes, um
ex-primeiro-ministro e presidente de Câmara reputado pela sua completa
indisciplina financeira.
Uma última nota adicional, que poderá desmentir coisas que se
escrevem por aí: em 2010, ainda sob o Provedor Rui Ferreira da Cunha (do PS), a
remuneração global dos 7 membros dos Órgãos Sociais totalizou 443 mil euros (p.
287 do Relatório e Contas desse ano), ou seja, uma média de 63,3 mil euros por cada
membro; em 2014, já sob Pedro Santana Lopes (PSD), a remuneração total dos 5 membros dos Órgãos Sociais desceu para 350 mil euros (p. 313), embora isso corresponda
a uma remuneração média superior, de 70 mil euros por cada membro (5 mil euros/mês). Mas, se se confirmar
que Santana Lopes não é remunerado pela função, conforme foi anunciado pelos jornais quando tomou posse, então esse valor médio corresponderá a 87,5 mil
euros por vogal, o que significará que a função (e pessoas como Fernando Paes Afonso ou Helena Lopes da Costa que aparecem na segunda fotografia deste poste a ladear Pedro Santana Lopes) terá recebido um aumento médio de 38% nestes
últimos 4 anos.
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