02 setembro 2012

EPOPEIAS MILITARES

Quando dos tempos do Estado Novo, a história militar portuguesa parecia ter começado com a batalha de Aljubarrota (acima). Embora por altura do Interregno (1383-85) Portugal já tivesse quase 250 anos de existência e embora a batalha apareça já na página 171 de um livro especializado como Portugal Militar de Carlos Selvagem, a vitória de Agosto de 1385 contra Castela, ocasião em que se combatera numa desproporção de 1 contra 5, funcionava como o acto fundador de uma senda de sucessos militares e navais que se iam prolongar com a Expansão até ao desastre da Alcácer Quibir em Agosto de 1578 – o que não deixa de ser um paradoxo, considerada a precedência dos sucessos militares da Reconquista na formação do Reino de Portugal. 
Só que Aljubarrota tem por detrás de si o detalhe das crónicas de Fernão Lopes e todo um potencial para ser explorado como instrumento de propaganda. Ora este livro acima, O Fracasso da Operação Savannah fez-me lembrar uma reedição daquela mesma ideia, só que mudando o local da acção – de Portugal para Angola – e com 590 anos – de 1385 para 1975 – a separá-los. Trata-se nos dois casos de Guerras Civis em que duas facções (a de Avis em Portugal e o MPLA em Angola) assumem o poder e onde o papel dos compatriotas que combateram do outro lado é deliberadamente subalternizado nas narrativas. O que importa realçar é que os protagonistas da ameaça são os países vizinhos – Castela num caso, África do Sul e Zaire no outro.
Mas também há aqueles estrangeiros bons, os que vêm ajudar: foram os arqueiros ingleses e são os internacionalistas cubanos (acima). No caso angolano, contudo, e em contraponto aos últimos, mencionam-se por sua vez os mercenários portugueses (abaixo). Embora sejam, numa esmagadora maioria das vezes, precisamente da mesma extracção de outros combatentes de ascendência europeia que lutaram do lado do MPLA, os primeiros são mercenários e os segundos patriotas que são benevolamente naturalizados como angolanos brancos. Em suma, não é bem História. Por isso, a maior lacuna que eu posso apontar em O Fracasso da Operação Savannah é a inexistência de uma hipotética lenda de uma Padeira do Kifangondo ou coisa equivalente…

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