Cinicamente, há que reconhecer que os militares, a par de uma subespecialidade
da política externa, com a sua rede internacional de destacamentos em paralelo
com a das embaixadas e consulados, já só se tornam indispensáveis
por ocasião das cerimónias do 10 de Junho (acima). Quanto à Segurança e Defesa,
Pedro Passos Coelho considera-se seguro e o país não precisará de ser
defendido se não se vislumbra ninguém disposto a atacá-lo. Não se torna por
isso difícil atribuir credibilidade às prioridades na redução de despesas de uma
denominada Agenda de Transformação Estrutural (ATE) que é noticiada hoje pelo Sol:
Segurança Social, Educação, Saúde, Defesa e Segurança. Se as três primeiras se percebem
pela importância da sua contribuição para as despesas, as duas últimas devem
deixar saudades aos generais daqueles tempos em que era perigoso cutucar os
militares com vara curta…
31 agosto 2012
30 agosto 2012
O PASSADO, O PRESENTE E O SEMI-PASSADO
Quando Sir Walter Raleigh (1554-1618) esteve preso por
treze anos (1603-1616) na Torre de Londres, dedicou-se a escrever uma História
Universal. Já havia completado o primeiro volume a respeito da Antiguidade¹ quando
se deu uma rixa entre trabalhadores debaixo da janela da sua cela (acima) de onde
resultou a morte de um deles. Apesar do empenho das suas investigações e da sua
condição de testemunha privilegiada do que acontecera nunca o historiador conseguiu
vir a descobrir as razões que haviam provocado o incidente, causa de uma frustração
tal que o fez abandonar o projecto.
Esta história é provavelmente
apócrifa mas é interessante por nos alertar para a influência que as
circunstâncias do presente podem ter sobre as nossas opiniões sobre o rigor do que se escreve sobre o passado. É um óptimo tópico quando se assiste a esta controvérsia entre Manuel Loff e Rui Ramos². Suponho que, não se desse o caso das teses
do segundo poderem ganhar visibilidade porque publicadas nos suplementos do
Expresso, e as críticas do primeiro perderiam interesse e endosso sectário. Porque esta de Rui Ramos seria
apenas mais uma História de Portugal de um autor de direita...
¹ Veio a ser editado postumamente em 1628 com o título The Historie
of the World.
A BALADA DE ORIENTE E OCIDENTE
Oh, East is East and
West is West, and never the twain shall meet¹
É improvável que o britânico Rudyard Kipling (1865-1936)
estivesse a pensar na prostituição quando compôs a sua Balada de Oriente e Ocidente que começa pelos dois versos acima. Mais, o East (Oriente) de Kipling,
indiano, nem sequer era tão Extremo como o da fotografia aqui correspondente,
japonesa. E contudo é difícil conceberem-se versos mais apropriados para uma legenda
que realce o contraste entre as prostitutas das duas fotografias…
¹ Oh, o Oriente é o Oriente e o Ocidente é o Ocidente e os dois jamais se
encontrarão.
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29 agosto 2012
BLADE RUNNER EM HONG KONG
Há fotografias que nos sugerem automaticamente um filme. Thomas Birke fotografou a noite de uma concorrida rua de Hong Kong, mas a estética da arquitectura, das luzes e das sombras parece remeter-nos para a Los Angeles futurista de Blade Runner (1982).
Para uma cópia exacta da inconfundível atmosfera do filme de Ridley Scott só ficam a faltar os gadgets que se moviam levitando pela paisagem e um implacável Harrison Ford que se movia por toda aquela bizarria sem se mostrar particularmente incomodado com ela.
DO PREENCHIMENTO DO VAZIO NOTICIOSO DE AGOSTO 2012 À TV NOSTALGIA-70
O hiato noticioso deste Agosto parece ter sido preenchido cá em Portugal pelos cães assassinos e na Europa, mais recentemente, com o pulular de antigas bombas da Segunda Guerra Mundial que ficaram por explodir. A pretexto destas
últimas gostaria de evocar aqui a série televisiva UXB, uma série britânica de
1979 a propósito dessas bombas que, como quem as
largava depressa descobriu, davam depois muito mais chatices aos destinatários do que aquelas que haviam
explodido. Mas, pelos vistos, o que se ignora não nos afecta, e sempre sobreviveram algumas para que os netos dos destinatários as desactivassem...
28 agosto 2012
ANGOLA 2012: AINDA SE VAI DESCOBRIR QUE MARCELLO CAETANO FOI UM DEMOCRATA…
Recorde-se como nas últimas eleições legislativas
angolanas de 2008 o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) recebeu quase 82% dos votos. Nestas próximas eleições de Setembro de 2012 (acima) certamente que
o MPLA quererá fazer melhor e uma boa referência em termos de eleições legislativas no espaço lusófono serão os 88% alcançados em Outubro de 1969 pela Acção Nacional Popular (ANP) de Marcello Caetano em Portugal. Vamos a ver se é agora que o MPLA chega aos 88% porque empenho não lhes tem faltado. Mas desta vez terá que ser Vital Moreira pelo Causa Nossa a dispor-se a ser contratado
como observador do parlamento europeu para avalizar da liberdade e lisura das eleições angolanas. Em 2008, quando aquilo que foi observado e relatado desmentiu as conclusões oficiais.
A veterana colega de Vital, Ana Gomes, já anunciou que desta vez não volta – honra lhe seja feita! Precisa-se agora de alguém com a elasticidade de conceitos (alguém dúvida do desfecho e do selo de qualidade aposto às próximas eleições angolanas?) de que só pessoas como Vital Moreira dão mostras. Vale a pena rematar que foi azar o de
Marcello Caetano que em 1969 ainda não houvesse tais otários úteis
porque, por uma analogia irrefutável* e com esta boa vontade de observação, ainda se viria a descobrir como ele afinal
havia sido razoavelmente um democrata (abaixo) – algo que nem o próprio Rui Ramos precisou de desmentir ter escrito…
* É preciso ser-se Vital Moreira para se prestar a fazer certas figuras tristes como as de um guarda-redes de andebol que se faz a todas as bolas sem sentir o embaraço por lhas fazerem passar entre as pernas...
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…COMO DOIS MARQUES MENDES, SE ENCAVALITADOS UM NO OUTRO, PODEM RESULTAR NUM GRANDE JOGADOR DE BASQUETEBOL
Os
mesmos que choram lágrimas de crocodilo pelos cortes dos subsídios de férias e
Natal já não se incomodam pelo facto de a RTP ter custado aos contribuintes nos
últimos dez anos quase 4 mil milhões de euros, praticamente o dobro dos cortes
nos 13º e no 14º meses.
Eu não tenho interesse
em ler o que Marques Mendes escreve ou em ouvir o que ele diz num programa da
TVI24 que, soube outro dia, rivaliza com o do Marcelo. Só me acontece lê-lo,
como agora, quando alguém o destaca. O que é uma pena, porque o tenho em boa
conta por causa dos princípios deontológicos que ele aplicou às candidaturas
autárquicas do PSD em 2005... Mas a passagem que acima se transcreve é um
argumento de uma falta de rigor que roça a desonestidade intelectual. A haver uma
explicação alternativa ela seria ainda pior: uma ignorância colossal a respeito
dos mais elementares princípios de finanças. Por muito que a construção da
frase queira causar impacto, comparar os custos acumulados em dez anos com os
de um ano só apenas fará sentido para aqueles que não se importarem de me
emprestar uma quantia em dinheiro agora para que eu os reembolsasse em suaves
prestações anuais de 10% do montante daqui até 2022…
27 agosto 2012
IT'S NOT UNUSUAL
A propósito de uma música cujo título nos faz lembrar as visitas da troika, quer pela frequência, quer pela previsibilidade do resultado, comprove-se como este vídeo original de It’s Not Unusual é horrivelmente foleiro – o bailado, por exemplo, já devia ter sido incluído nas proibições do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares quando foi assinado naqueles mesmos anos 60… E suponho que partilharão da minha sensação de desforra quando vi a mesma canção e, basicamente, a mesma cenografia, a serem destratados nesta recriação 30 anos passados, em Marte Ataca!...
ALEXANDRA KOLLONTAI, A BLOQUISTA ENTRE BOLCHEVIQUES
De entre uma colecção de dirigentes bolcheviques notórios pelo seu cinzentismo, a figura de Alexandra Kollontai (1872-1952) distingue-se. Só que não propriamente pelos mesmos motivos de Lenine, Trotsky ou mesmo Estaline… Como a dirigente bolchevique feminina mais conhecida, Alexandra chegou a protagonizar o que seria a moral sexual do novo regime soviético, o amor livre, uma concepção de moral que era muito afectada pela sua experiência pessoal, a de uma mulher nascida nas elites (o pai era general) cosmopolitas (a mãe era finlandesa) do czarismo, que se rebelara desde jovem contra a ordem estabelecida embora vivendo com o conforto privilegiado que essa mesma ordem lhe conferia. Em suma, encaixando precisamente naquilo que décadas mais tarde veio a ser designado ironicamente por esquerda-caviar…
É por isso pertinente colocar a dúvida se, quanto àquela nova moral sexual revolucionária, Alexandra Kollontai pugnaria por aquele que era o seu estilo de vida ou se estaria a vivê-lo de acordo com as suas convicções. Seja como for, a história da sua vida sentimental é uma sucessão de incidentes: por exemplo, quando nomeada em 1917 como primeira Comissária do Povo (ministra) para os Assuntos Sociais envolveu-se aos 45 anos com o seu homólogo para os Assuntos Navais, Pavel Dybenko que era 17 anos mais novo… Segundo consta, Lenine fez com que se casassem, mas o casal de comissários pouco durou. A volubilidade de Alexandra não era apenas sentimental, também era política: em 1920, passara a encabeçar uma facção bolchevique dissidente chamada Oposição Operária com o seu novo amigo, Alexandre Shliapnikov.
Dessa vez, Lenine chateou-se: pegou em Alexandra, cuja importância para a revolução era mais simbólica do que qualquer outra coisa e, depois de a fazer apanhar nas orelhas nos X e XI Congressos (1921/22) despachou-a como embaixadora (a primeira em todo o Mundo!) para a Noruega. Sem o saber, havia-lhe saído a sorte grande!... Circulando entre as embaixadas soviéticas, colocada na Suécia desde 1930 até 1945, Alexandra Kollontai permaneceu a recato enquanto Estaline fazia a razia que se sabe entre os membros da velha guarda bolchevique – uma a que ela decerto não escaparia… Completamente ignorada pelos comunistas ortodoxos, pelas suas origens e com as suas causas fracturantes do amor livre, Alexandra Kollontai parece-me sobretudo a verdadeira antepassada que os nossos bloquistas deviam reverenciar…
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