27 novembro 2021

A HISTÓRIA QUE IRIA TER O DESFECHO CONTRÁRIO AO DA NOTÍCIA E OUTRAS CONVERSAS DE CONVERSAS DE PRESIDENTES DA REPÚBLICA COM FORAGIDOS À JUSTIÇA

27 de Novembro de 1981. A notícia dava conta das turbulências por que atravessava o Partido Socialista Italiano (PSI). Naquele país eclodira (mais) um escândalo, associado à exposição dos membros de uma loja maçónica denominada P-2. As investigações desenvolvidas nos meses seguintes haviam levado à identificação de cerca de um milhar de influentes espalhados por toda a sociedade italiana: na política, na justiça, na administração pública, na banca, nas forças armadas, na comunicação social. A infiltração fora detectada em todo o lado, e a questão que a notícia destaca foi a insatisfação como uma ala contestatária do PSI acolheu as reacções e as explicações dadas pelos responsáveis máximos do partido - nomeadamente o secretário-geral Bettino Craxi - aos envolvimentos individuais e colectivos do partido com o escândalo. Particularmente embaraçosa era uma confissão de um dos implicados directos (Roberto Calvi) que o PSI fora directamente financiado em 21 milhões de dólares em troca de favores. Contudo, como se depreende da notícia, no curto prazo, Craxi venceria o braço de ferro, expulsando os contestatários. Mais do que isso: no médio prazo Craxi ainda se veria recompensado com a promoção ao cargo de primeiro-ministro de Itália(!), em resultado dos equilíbrios periclitantes da política italiana (Agosto de 1983- Abril de 1987). Por consequência, Craxi seria mais um daqueles proeminentes amis, (conjuntamente como francês Mitterrand ou com o alemão Brandt), com que Mário Soares enchia a boca quando evocava a sua rede de conexões socialistas europeias. Mas a sorte de Craxi terminou com a queda do Muro de Berlim e a obrigatoriedade da Itália se confrontar com a enorme rede de corrupção que infiltrava toda a sua sociedade, necessidade que, durante décadas, apenas fora sustida pelo medo dos comunistas (PCI) tomarem o poder. A essa operação de limpeza deu-se o nome - apropriado - de «Mãos Limpas» (Mani pulite). Onze anos depois da publicação da notícia acima, na infindável lista de nomes de implicados que surgiram das investigações (e onde constavam 4 antigos primeiros-ministros!) aparecia o de Bettino Craxi. Mas o mais interessante em toda esta extensa história é que Craxi, quando veio a ser condenado em 1994, fez precisamente aquilo que João Rendeiro acabou de fazer: fugiu para o estrangeiro. A esse respeito, ver Marcelo Rebelo de Sousa a conversar, ainda que indirectamente, com João Rendeiro, não terá constituído um dos momentos mais altos da nobreza que se deseja da função presidencial. Quanto a Craxi, esse sabe-se para onde foi, refugiou-se na Tunísia, onde aliás veio a falecer em 2000. Quanto à referência supra a Mário Soares, torna-se pertinente porque, quando era presidente da República em 1995, e por ocasião de uma visita presidencial à Tunísia, fez questão de se encontrar com o foragido à justiça italiana, um episódio polémico (vale a pena ver quem votou o voto de protesto apresentado pelo PSD - governo), episódio esse que, os 26 anos entretanto transcorridos, nos dão a perspectiva bastante evidente que as preocupações com a exibição de um certo respeito pela ética não terão sido os pontos mais fortes do legado de Mário Soares. Antes de Marcelo, já a presidência da República portuguesa e os foragidos à justiça tinham tido episódios não muito dignificantes.

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